sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E O PATRONATO

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TEMOS QUE CONHECER A HISTÓRIA, PARA ERROS NÃO REPETIR!






Nem sempre uma história recente tem um princípio, um meio e um fim. Devemos ser nós que a vivemos para dar-lhe coerência. Talvez vá aqui assumir o papel de vencedor, dando testemunho nessa óptica. Este é também um pretexto para avivar a memória de muitos que fizeram parte integrante da História do Patronato Nuno Álvares Pereira.

O Patronato de Nuno Álvares Pereira, fundado nos inícios do Sec. XX (?), por Monsenhor Francisco Esteves, pároco de S. Vicente de Fora até 1959, foi criado com o objectivo de proteger as crianças do sexo masculino, ministrando ensino num ambiente de confiança, camaradagem e ternura. Tentando sempre que possível ser um meio alegre e acolhedor, o Patronato promovia a integração social, ajudando as crianças as enriquecerem a sua experiência da vida pessoal e comunitária. Mais do que isso, o Patronato pretendia formar cidadãos livres, responsáveis, com o máximo de autonomia, solidários e capazes de valorizar a dimensão humana e cristã do trabalho, tomando em consideração as suas necessidades.

Além da escola, havia um lugar de convívio, cooperação, entusiasmo, alegria entre Jovens. Pelo Patronato de Nuno Álvares Pereira passaram centena de jovens, senão mesmo milhares. Nesse espaço desenvolviam-se as mais diversas tarefas lúdicas e desportivas. Havia uma educação tradicional porque ali passavam a maior parte da sua vida.

O Patronato de Nuno Álvares veria a ser suspenso pelo Padre CORREIA DA CUNHA, em meados dos anos 60. PADRE CORREIA DA CUNHA interpretava os sinais dos tempos e verificava que na época anos sessenta se multiplicavam na sociedade um leque de ofertas muito amplo, desde conferências, sessões de canto, recitais, competições desportivas, excursões, teatro, organização de bailes, que proporcionavam uma aproximação entre rapazes e raparigas. Há uma nova aura e uma nova juventude que busca novas regras de comportamento. A própria reforma do sistema educativo melhorou muito, nessa fase, as condições de bem-estar da sociedade portuguesa.
Havia necessidade de se abrirem novos caminhos para novos tempos…

O Padre CORREIA DA CUNHA procurava constantemente, melhorar a qualidade das coisas, mantendo uma insatisfação positiva permanentemente, que por vezes era difícil entender.

Ainda hoje há uma condenação implícita desta operação de suspensão do Patronato de D. Nuno Álvares Pereira, que muitos nunca conseguiram apagar da sua memória, tendo-se nos anos oitenta fundado a ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS DO PATRONATO DE NUNO ÁLVARES PEREIRA, reabilitadora do antigo Patronato de Nuno Alvares Pereira.

Considero as antigas amizades como um elo muito importante e fundamental na vida de qualquer pessoa, sobretudo quando há principios e valores que se partilharam em comum.

As minhas boas vindas ao associativismo, mas onde há sentimento de amizade temos de respeitar os outros que eventualmente pensarão diferente de nós. Quando as pessoas se respeitam umas às outras não há nada melhor.


























Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
faz que o ar alto perca
seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
que o Rei Artur te deu.

'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
ergue a luz da tua espada
para a estrada se ver! Nuno Álvares Pereira

Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
faz que o ar alto perca
seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
que o Rei Artur te deu.

'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
ergue a luz da tua espada
para a estrada se ver!




Trinta e um anos decorridos sobre a morte do nosso saudoso e querido Padre CORREIA DA CUNHA importa acender esta memória histórica. Para que não vença a ignorância e o esquecimento.

Com seu contributo poderemos conhecer melhor a Historia para não corrermos o risco de um dia a virmos repetir… procurando mais aquilo que nos une do que aquilo que nos pode separar.

Temos de prestar uma Homenagem merecida ao Patrono do Patronato : SANTO CONDESTÁVEL!

O Patronato Nuno Alvares Pereira era sediado na Rua das Escolas Gerais,69 em Lisboa.

Continua…
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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E O FADO

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"NÃO HÁ PINCÉIS QUE DESCREVAM AQUELE SOBERBO QUADRO."


As raízes do Pe. Correia da Cunha cresceram profundas na cidade de Lisboa, como sabemos era natural de Arroios. Desde a sua infância que adorava Lisboa, não só pelos seus espectaculares monumentos mas sobretudo pelas suas gentes humildes e simples. O Pe Correia falava-nos das cores, cheiros e aromas únicos desta cidade.

O fado era um dos tradicionais cartões de visita desta sua cidade – canção com origens desconhecidas, mas indiscutivelmente de cunho urbano.


Para o Padre Cunha, o fado não era apenas uma canção acompanhada à guitarra. Era um pouco da própria alma do povo português. O ‘’marinheiro’’ Correia da Cunha sentia a presença do mar nas palavras do fado. A saudade e o infortúnio estão muito presentes na vida dos marinheiros na hora da despedida.


O Padre Correia da Cunha era um frequentador dos recantos de fado em Alfama, entendendo o fado enquanto expressão de música popular característica de Lisboa. O fado era uma manifestação cultural, que ganhou espaço na literatura, adquirindo uma dimensão nova.





A voz do fado, em AMÁLIA RODRIGUES, era tão bela que lhe lembrava a harmonia dos anjos serenos e abençoados ainda que tristes.

VIVER em São Vicente de Fora, em paredes-meias com os bairros históricos de Lisboa - Alfama e Mouraria, convidava a calar muitas noites o ruído das conversas perante a surpreendente ordem: ‘’Silêncio, que se vai cantar o fado. ‘’


Conheço um local no coração de Alfama, onde o Padre Correia da Cunha ouvia o fado, com a sua grande companheira a guitarra portuguesa. Juntos, fado e guitarra, contam a essência de uma história simples ligada ao mar.

Era:

“O Cantinho do António”, onde António actuava para os clientes e amigos que o visitavam. Homem afável e simpático, era frequentemente visitado pelos fadistas que faziam questão de o abraçar e cantar no seu recinto.

O fado de António Santos foi lentamente desviando-se para um género único lisboeta, nostálgico e dolente, da balada coimbrã, numa presciente antecipação de um estilo que nos anos sessenta se tornaria importantíssimo.

Aproveito também para evocar, pelo dinamismo e entusiasmo na organização de NOITES DE FADO no adro da igreja de Santo Estêvão – Alfama, onde foi pároco, e onde o Padre. Correia da Cunha era sempre seu convidado, Padre António Emílio, recentemente falecido. A paróquia de São Vicente teve boas recordações deste seu bom amigo. O Homem e Padre, António Emílio estará sempre vivo nos nossos pensamentos.

O Padre Correia da Cunha ainda teve possibilidade de escutar o fado moderno que se iniciou nos anos 60 e teve o seu apogeu com Amália Rodrigues. Foi ela quem popularizou fados com letras de grandes poetas, como Luís de Camões, José Régio, Pedro Homem de Mello, Alexandre O'Neill, David Mourão Ferreira entre outros.

Passámos muitas noites em amena cavaqueira em casa do Padre Correia da Cunha, bebendo as nossas cervejinhas e escutando os sublimes fados de Amália Rodrigues. A voz de Amália transformava todo o ambiente, envolvia-nos a todos num estado de elevação e emoção indescritível.

O Padre Correia da Cunha era um grande fã de Amália Rodrigues e exprimia essa sua paixão na seguinte expressão: foi abençoada por Deus...

Mas recordo que quando regressava a sua casa pela madrugada adentro, o fado que trauteava era:









IGREJA DE SANTO ESTÊVÃO

Na igreja de Santo Estêvão
Junto ao cruzeiro do adro
Houve em tempos guitarradas;
Não há pincéis que descrevam
Aquele soberbo quadro
Dessas noites bem passadas

Mal que batiam trindades
Reunia a fadistagem
No adro da santa igreja
Fadistas, quantas saudades
Da velha camaradagem
Que já não há quem a veja

Santo Estêvão, padroeiro
Desse recanto de Alfama
Faz o milagre sagrado
Que voltem ao teu cruzeiro
Esses fadistas de fama
Que sabem cantar o fado

O fado é hoje em dia cantado nas "casas de fado" e com o acompanhamento tradicional. As melhores casas de fado encontram-se nos bairros típicos de Alfama,Mouraria,Bairro Alto e Madragoa. Mantém as características dos primórdios: o cantar com tristeza e com sentimento de mágoas passadas e presentes.

Aos parceiros do fado e das noitadas peço que enviem informação sobre essas noites bem passadas!



















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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

PE. CORREIA DA CUNHA E ARTE

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‘’EU NÃO SEI QUE TEM S. VICENTE PARA QUE ELE ME PRENDA TANTO? ‘‘

Pe. José Correia da Cunha


Quando nos anos quarenta chegou ao Mosteiro de São Vicente de Fora, Pe Correia da Cunha ficou apaixonado pelo registo de beleza e de arte manifestada nas paredes daquele espaço conventual e naqueles claustros. A arte dos azulejos era uma bênção. Criaram nele uma relação, tecida de uma maneira intuitiva, provocando-lhe uma enorme e eterna paixão.

O mosteiro de São Vicente de Fora representa alguma da importância desta arte na cultura e arquitectura portuguesa.

Para o Padre Correia da Cunha, São Vicente de Fora na sua relação com o Tempo, não era um espaço como os outros. Quem viveu naquele espaço procurou o sentimento do ‘’Tempo que se passou’’. Busca naqueles painéis de azulejos, diálogos e sentimentos de nostalgia tão portuguesa.

O azulejo é um elemento que exprime a Cultura Portuguesa, revelando algumas das suas origens mais profundas. O azulejo constituía para o Padre Correia da Cunha uma das manifestações mais populares e mais requintada da arte que se fazia em Portugal. Aqueles painéis representavam a história e a cultura de um povo ou motivos das gentes.




Nalguns daqueles painéis encontramos a representação das fábulas de La Fontaine, onde através daquelas pinturas a azul e branco podemos encontrar o nosso próprio retrato…que iremos abordar posteriormente, com mais detalhe.

Cenas religiosas, marítimas, de caça, mitológicas e satíricas foram transportadas para azulejo por artífices sem formação académica. O Padre Correia da Cunha, com uma operação de delicadeza, aproveitava para nos estimular a nossa sensibilidade para com esta arte singela e pobre. O Padre Cunha dizia que o amor à arte do azulejo deve começar por uma postura de espírito aberto; devemos confiar no que nos transmite aquele objecto. Uma consciência crítica à priori não nos permite sair de nós.

Foi com o Padre Correia da Cunha que aprendi o gosto pelos revestimentos cerâmicos, concebidos em sintonia com o espaço, sagrado ou civil, com belos temas religiosos, cenas campestres, relacionadas com o dia-a-dia de um povo que sabia amar e sofrer.
O Padre Correia da Cunha era consciente que tinha a missão de educar o nosso gosto e despertar principalmente a nossa sensibilidade. A sua implicação era de uma disponibilidade total.

Para o Padre Correia da Cunha, SÃO VICENTE era um pequeno museu arquitectónico e artístico. Tem vários testemunhos temporais, os que marcaram o passado e os que devem fazer o futuro para continuar a ser amado … por tudo o que representa para nós.

Creio que encontramos finalmente a resposta à interrogação: ’EU NÃO SEI QUE TEM S. VICENTE, PARA QUE ELE ME PRENDA TANTO? ‘‘

Os azulejos constituíram uma das suas paixões por serem a expressão mais popular e singela de uma delicada arte.
Felizmente, esta arte continua a fazer-se em Portugal, sendo no azulejo que muitas vezes atestamos a nossa história e a vasta riquíssima cultura portuguesa.

Os azulejos de SÃO VICENTE são do século XVIII onde aparecem representadas cenas de caça ou marítimas, e vida palaciana, históricas, pastoris … com grandes flores, sempre, no entanto, em azul: é o chamado século da grande expansão do azulejo em Portugal.

Visitem o Mosteiro de SÃO VICENTE DE FORA e enviem-nos informações da vossa relação com este espaço e com estes belos exemplares da azulejaria portuguesa.





















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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E A BEIRA-SERRA

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O POVO ABANDONOU A ALDEIA
COM TRISTEZA E EMOÇÃO
PROCURARAM OUTRAS TERRAS
PARA TER MELHOR CONDIÇÃO

José Augusto Simões – Pampilhosa da Serra



Em meados do Século XX, Portugal era um país essencialmente rural e relativamente pobre.

Agudizavam-se as tensões entre a sociedade urbana, em vias de industrialização e o mundo rural tradicional e arcaico. Perante este cenário iniciava-se um surto migratório crescente que se dirigia para ‘’ a encosta de’’ São Vicente de Fora e Alfama, oriunda da BEIRA-SERRA (Pampilhosa da Serra, Oliveira do Hospital, Lousã, Arganil, Tábua…).

Em SÃO VICENTE DE FORA eram bem acolhidos e tinham a possibilidade de ganhar dinheiro, arranjar um bom futuro para os seus filhos, sem terem de deixar este seu querido e amado PORTUGAL.

Grande parte desta mão-de-obra era colocada na indústria hoteleira, panificação, estiva, tráfego e carregadores do Porto de Lisboa.

Para que a saudade não matasse e não esquecessem a sua amada ‘’santa terrinha ‘’, toda esta gente voltava regularmente, todos os anos, às suas origens para celebrarem as festas e romarias tradicionais.

O PADRE CORREIA DA CUNHA reconhecia que estas pessoas traziam consigo uma entidade religiosa tradicional mas ao mesmo tempo um grande património cultural.

As suas prioridades na cidade assentavam no duro trabalho, sem nunca perderem a semente cristã que um dia havia sido plantada nos seus corações.

Como referia Padre Correia da Cunha a sua vivência cristã na cidade era como os motores dos automóveis a três tempos: BAPTISMOS, CASAMENTOS E FUNERAIS.

Como agir?

Em colaboração com os párocos das paróquias vizinhas,o Padre CORREIA DA CUNHA procurava reunir num Encontro de Amizade e Regionalismo, toda esta gente, aproveitando esse momento para evangelizar e mostrar que a comunidade paroquial muito contribuía para o desenvolvimento humano e cristão dos seus filhos. A educação dos filhos era da responsabilidade dos pais, mas a catequese podia cooperar para a uma formação mais plena.




Estes encontros fraternais eram iniciados com uma Eucaristia, lembrando todos aqueles que já partiram para o PAI e aproveitando igualmente para orar por todos os presentes que fazem parte desta Igreja peregrina e pecadora.

Após a Eucaristia decorria um jantar partilhado nos claustros do convento de São Vicente de Fora.

Estes encontros da BEIRA-SERRA tinham sempre um elevado número de participantes, contando sempre com pessoas ligadas ao movimento associativo, incluindo muitos padres dessa região.

As questões regionalistas agradavam-no em pleno e confessava que sentiu a necessidade de partir na companhia do seu amigo Padre JOSÉ VICENTE em busca dessas terras, visitando aldeia por aldeia desses concelhos da Beira Serra que muito o engrandeceram.

Depois dessa encantadora viagem, os diálogos abriam espaços, e tornavam mais fácil a relação com todos estes honrados paroquianos, trabalhadores, inteligentes e seus bons amigos.

História:

Um belo dia um Professor Catedrático, muito conhecido num seminário temático, perguntava ao Padre Correia da Cunha:

- Qual é a paróquia do SR.PADRE CUNHA?

O Padre Correia da Cunha, com a sua habitual serenidade, respondeu:

- Paróquia da Beira-Serra.

O Professor ficou intrigado com a resposta e retorquiu:

- Em LISBOA

- SIM – Na encosta da serra de SÃO VICENTE.

- SÃO VICENTE DE FORA.

- SIM

Perante esta resposta, resta-me apenas dizer que o Padre Correia da Cunha tinha um grande amor à BEIRA-SERRA.

Acredito que essa boa gente quer perpetuar este homem de carácter, que visitou essas belas terras e continua presente nos seus corações. Creio que os vossos testemunhos eram muito importantes para as gerações mais jovens que não o conheceram, mas terão oportunidade de ler esses sinais. Enviem informação.



















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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E O FUTEBOL

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‘’O QUE FINALMENTE EU MAIS SEI SOBRE A MORAL E AS OBRIGAÇÕES DO HOMEM DEVO AO FUTEBOL...
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A paixão dos portugueses pelo futebol não é desta época, vem já do passado. 

O futebol faz parte integrante da vida dos portugueses.

Lisboa é a capital do futebol português. Os seus clubes estão entre os maiores do mundo.

Também não é segredo que muitos portugueses peregrinam ao Santuário de Fátima para rezar pelo seu clube ou pela nossa selecção, misturando-se assim a FÉ com o FUTEBOL.

PERGUNTAR-ME-ÃO O QUE O FUTEBOL TEM HAVER COM O PADRE CORREIA DA CUNHA?

O Padre Correia da Cunha até podia considerar o futebol como ‘’ópio do povo’’ e um pouco alienante, especialmente por o futebol desviar atenção dos verdadeiros problemas da comunidade e não ser um grande contributo para o desenvolvimento integral da pessoa humana.

UMA HISTÓRIA

Todos os dias úteis, Padre Correia da Cunha almoçava nas OGFE - Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército, com a sua Direcção, na qualidade de Capelão dessa instituição.

Como se compreenderá os temas das conversas, à segunda-feira, eram relacionados com o Futebol Nacional referente à jornada do campeonato nacional.

O Padre Correia da Cunha era dotado de uma cultura aturada, invulgar e de uma grande diplomacia. No domínio do futebol os seus conhecimentos eram completamente nulos.

MAS…

O Padre Correia da Cunha, diariamente, após o seu pequeno-almoço, lia os três matutinos da época: Diário de Noticias, Século e Novidades. Curiosamente, comecei aperceber-me que à segunda-feira juntava a estes o Jornal a BOLA E O MUNDO DESPORTIVO. Jornais desportivos que estudava cuidadosamente, tomando anotações sobre os aspectos mais relevantes da jornada.

Durante os diálogos desportivos do almoço de segunda-feira, Padre Correia da Cunha apresentava-se como um especialista, projectando uma imagem dum elevado conhecimento nesta arte.

Segundo informações de Oficiais Superiores, que chegaram ao meu conhecimento, O Padre CORREIA DA CUNHA era muito bem sucedido nos almoços de segunda-feira nas OGFE.

Como nos meios mais letrados ou menos letrados se comenta e se festeja os sucessos do futebol, não poderia deixar de fazer algo para participar fraternalmente nessa paixão de muitos dos seus amigos.

CONTUDO NUNCA LHE CONHECI UMA COR CLUBÍSTICA.













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domingo, 25 de janeiro de 2009

PE. CORREIA DA CUNHA, O INOVADOR

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‘’ FAZEI, SENHOR, QUE O NOSSO PÁROCO SAIBA DAR-NOS SEMPRE, O PÃO DA PALAVRA E O PÃO DA VIDA’’



Pe. Correia da Cunha
Pagela da tomada de posse na Paróquia de São Vicente de Fora -1961.




Para o Padre Correia da Cunha, a prática sacramental não podia ser um puro acto de rotina vazio de sentido. Não aceitava práticas sacramentais e litúrgicas sem expressão e vivência cristã. Tudo fazia para que interiorizássemos o verdadeiro conteúdo e compreensão desses actos de alegria do Amor Divino. Infelizmente, vão-se arrastando muitos cultos, nos dias de hoje, sem espírito de vida cristã e sem se medir os seus efeitos negativos num futuro próximo. Só um verdadeiro Deus de Amor e de Compaixão pode ajudar os seres humanos a serem fraternos e compassivos uns com os outros, sobretudo com aqueles com quem vivemos as nossas experiências diariamente: família, escola, emprego e comunidades onde estamos inseridos.

Os encontros diários com Padre Correia da Cunha permitiam sempre abrir novos caminhos para uma educação de virtudes e aprofundamento da nossa vida cristã. Estava sempre de braços abertos para nos ajudar na resolução dos problemas próprios de uma juventude refractária, indicando caminhos …e apontando os perigos. Nunca criticava as más opções nem queria saber quem eram os autores.

RENOVAÇÃO

SÃO VICENTE DE FORA – as celebrações de reconciliação

A prática da confissão não podia ser o despacho de um vasto rol de pecados.

Toda a comunidade era convidada a participar nestas celebrações litúrgicas de reconciliação.
As celebrações penitenciais organizadas, nos tempos fortes Advento e Quaresma, na Paróquia de São Vicente de Fora, eram ricas em reflexões e de um exame de consciência, onde o livro de registo da nossa consciência era totalmente esgaravatado.O Padre Correia da Cunha elaborava um guião muito detalhado onde as nossas vidas eram passada ao detalhe. O Espírito Santo iluminava-nos a termos consciência de quantos pensamentos, quantas palavras, quantas atitudes, quantas acções e quantas omissões teríamos de dar contas :

- A minha relação de rotura com Deus.

- A minha relação de rotura com os outros.

- A minha relação de rotura comigo próprio.

DEUS é PAI e está sempre pronto a perdoar desde que haja arrependimento.

A celebração comunitária da confissão da misericórdia e do perdão terminava num encontro pessoal com o confessor, que no final nos dava a absolvição. Vai em PAZ.

No final havia um espaço de profunda oração pessoal para fortalecer e aumentar a graça Divina.
O Pe. Correia da Cunha procurava no dia-a-dia que os paroquianos se reservassem para essas grandes celebrações comunitárias. Não havia nem defendia as confissões diárias.

RENOVAÇÃO

SÃO VICENTE DE FORA – não havia emolumentos

O Padre Correia da Cunha entendia que a sua missão era ajudar cada homem a descobrir o amor de Deus, transformador do coração do homem e gerador de uma vida de fraternidade. Os sacramentos (sinais) eram dávidas gratuitas de Deus, que contribuíam para reforçar a nossa vida cristã.

A GRAÇA DE DEUS, nesta conformidade, não podia ser paga por nenhum dinheiro deste mundo. Tem de estar disponível para todos, como o coração de Deus está disponível para todos os seres humanos que o ambicionem.

A Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora tem expensas cada membro deve na sua consciência comparticipar na medida das sua possibilidades para manter viva esta sua casa. No ofertório cada um colocava o que sua consciência indicasse. As missas, os baptizados e casamentos não tinham valores de emolumentos.

Durante os 15 anos que tive o privilégio de ser seu aprendiz nunca o ouvi Padre Correia da
Cunha falar em interesses materiais. Sempre que não tinha dinheiro, apenas lhe ouvia o seguinte comentário: - ‘’Nasci nu e vou morrer nu. ‘’dava liberdade ao Espírito. Foi assim que viveu o honrado homem e o bom padre.

Como é sabido o Padre Correia da Cunha veio a falecer nu quando se preparava para tomar o seu banho diário (apareceu morto na sua residência).

O Padre Correia da Cunha traduzia de uma forma muito simples o que era ser cristão:

- SERMOS AMIGOS E SOLIDÁRIOS EM NOME DE JESUS.


O CRISTIANISMO NÃO ERA UM CONJUNTO DE ENSINAMENTOS E PROFUNDOS CONHECIMENTOS MAS UMA VIDA QUE SE VIVE.

O Padre CORREIA DA CUNHA acreditava que o Espírito Santo ensinava a verdade que não se encontra nos livros. O espírito vem sempre em ajuda dos homens simples e humildes e não naqueles que apenas pensam na sua própria utilidade. Daí, o seu obsessivo culto pelo SINGELO.

O Cristianismo deve cultivar a busca dos valores da fraternidade entre os homens, na busca da paz, da justiça e do respeito pela natureza. O Padre Correia da Cunha dizia que só a vivência diária dos ensinamentos do evangelho podiam gerar caminhos para estabelecer estes valores, nunca esquecendo que tudo se inicia no ‘’próximo’’.

















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sábado, 24 de janeiro de 2009

PE. CORREIA DA CUNHA, O RENOVADOR

















‘’O Seminário dos Olivais transmitiu aos sacerdotes que formou esta convicção basilar: a verdade da Igreja exprime-se na maneira como celebra e reza. ‘’

+ Cardeal Patriarca D. José da Cruz Policarpo



O Padre JOSÉ CORREIA DA CUNHA foi discípulo de Mons. Pereira dos Reis, grande inovador na área da liturgia em Portugal. O Padre José Correia da Cunha sempre recordava o seu mestre pela riqueza de dons com que DEUS o tinha dotado – inteligência poderosa, profunda, ao mesmo tempo teórica e prática, dominada pelo bom senso, dons de vontade forte, serena, metódica e de muita sensibilidade e fino gosto. Além disso, o Padre Correia da Cunha passava férias todos os anos na República Federal Alemã. E estava por isso muito atento a tudo o que por lá se ia fazendo no âmbito da renovação litúrgica.


RENOVAÇÃO

Em SÃO VICENTE DE FORA, a comunhão era distribuída na Missa com as partículas consagradas na própria celebração.

A preparação do ofertório (pão) era iniciada 30 minutos antes do início da celebração, com a colocação de uma mesa no cruzeiro da igreja, que disponha de um pequeno cesto coberto com tecido branco com partículas e uma patena, onde cada participante com uma pinça colocava a sua oferenda de pão à medida que ia chegando para o acto litúrgico.

No ofertório eram levados ao altar as oferendas monetárias e a patena com as partículas para a consagração.

Nunca havia pretexto para se recorrer à reserva.






























Dava-se início à liturgia da Ceia do Senhor, a refeição.

RENOVAÇÃO


Em SÃO VICENTE DE FORA, todos os dias, na comunhão eram distribuídas duas espécies: pão e vinho.

Segundo as palavras de Cristo: ‘’Tomai e comei, tomai e bebei’’

A comunhão do celebrante era efectuada após terem participado todos neste encontro íntimo com CRISTO.

O Padre Correia da Cunha era um protagonista da renovação Litúrgica na Igreja. O seu esforço era tornar a Liturgia mais vivida e responder às exigências da sua missão de evangelizar, servindo de uma forma mais dinâmica a Igreja e o seu rebanho.

Mediante estes sinais a nossa participação era contemplada com uma maior riqueza e plenitude do amor de Deus pelos homens.

A improvisação, rejeitando as fórmulas instituídas, era utilizada permanentemente pelo Padre Correia da Cunha como forma de transmitir, com maior rapidez e eficácia espiritual, a mensagem aos nossos corações.

As suas relações com outros clérigos eram difíceis, dada a mentalidade tradicionalista.

Era muito autónomo no seu múnus sacerdotal. Apenas lhe conheci dois amigos com quem privava mais profundamente: O Padre José Maria de Freitas, pároco da freguesia do Beato e o Padre João Perestrello de Vasconcelos, capelão do Arsenal do Alfeite e muito mais tarde nomeado pároco de Loures.

O Padre Cunha chegou a dizer que o Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira era um dos prelados mais abertos à renovação litúrgica. Como seu antigo fâmulo, também usufruía de certas liberdades. O apreço e carinho especial que o Cardeal possuía por ele permitiam-no exercitar toda a sua explosão interior de renovação nas práticas litúrgicas.

Passados 30 anos, todas estas mudanças lançadas por ele continuam por implementar, roubando-se assim às celebrações uma maior elevação que os nossos corações buscam.

O Padre Correia da Cunha traduzia de uma forma muito simples o que era a missa:

- A REPETIÇÃO DA ULTIMA CEIA DE CRISTO –


O Padre Correia da Cunha era um homem que procurava, sem se embrenhar em profundas teologias e tratados litúrgicos, uma forma muito simples traduzir pela vivência da vida quotidiana a festa da celebração eucarística. Uma refeição de família. A dona da casa nunca toma a refeição antes dos convidados. A lavagem da louça não é efectuada na mesa de refeições, logo a purificação dos vasos eucarísticos era realizada na mesa de apoio ao altar.


PE CORREIA DA CUNHA ERA UM CLÉRIGO FORA DO SEU TEMPO…

Continua…















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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

PE. CORREIA DA CUNHA, O MARINHEIRO

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 BOM MARINHEIRO E POETA, DEUS O QUER SEMPRE A CANTAR !




Pelo Despacho Ministerial de 23 de Janeiro de 1943, Padre JOSÉ CORREIA DA CUNHA foi admitido ao serviço da Armada Portuguesa, como Sacerdote da Religião Católica em Ordem da Armada nº2 de 1943.

Em 12 Outubro 1961 ficou incardinado ao Patriarcado de Lisboa por ter terminado o Serviço na Armada onde prestou serviços nas seguintes unidades:


- Aviso Gonçalves Zarco

- Aviso Bartolomeu Dias
- N.E. Sagres I
- Aviso Afonso de Albuquerque
- Corpo de Marinheiros
- Base Naval do Alfeite
- Escola Naval
- Hospital da Marinha
- Escola de Alunos Marinheiros
- Escola de Mecânicos



Como militar, o capelão Padre Correia da Cunha deixou um rasto de prestígio e de saudade.

Tanto no múnus sacerdotal como em todas as outras actividades que exerceu. O Padre Correia da Cunha deixou bem marcado o seu distinto cunho pessoal, a par de um notabilíssimo desempenho.
Como mestre, era indiscutivelmente o mais sabedor e competente pelos seus dotes intelectuais e de oratória. A sua simples presença impunha um silêncio; com muita atenção absorvíamos os seus sábios conselhos que ainda hoje recordamos com profunda saudade e admiração.

Era possuidor de uma veia poética pouco conhecida. Desse seu dote passo os seguintes versos:.



Meu Portugal Marinheiro


















Meu Portugal marinheiro,

Noivo das ondas do mar.
Tu és no Mundo o primeiro,
Segue o teu rumo a cantar!

Na linda nau catrineta

Portugal se fez ao mar.
Bom marinheiro e poeta,
Deus o quer sempre a cantar!

O seu heróico passado,

É bem digno de memória…
E será por nós honrado,
Com novos feitos de glória.



O Padre Correia da Cunha merece ser conhecido e recordado. Foi brilhante o seu percurso pessoal. Sem a sua acção muitos de nós estaríamos muito mais pobres… .

Humilde, compassivo e dedicado com seus discípulos, sacrificava o seu tempo sempre na busca de contribuir na sólida formação de homens de bem e futuros obreiros de um mundo onde a amizade e fraternidade fossem perfeitos protótipos de um humanismo cristão.

O estilo de convicção que imprimia na sua linguagem muito simples, a clareza dos pensamentos e os seus profundos conhecimentos de todas as matérias tornava-o com qualidades invulgares. Era comum recorrer a parábolas para expor os seus pensamentos.

Era uma figura cativante de uma voz serena e agradabilíssimos atributos para um bom padre e amigo que desempenhava com muita abnegação o seu ministério evangélico.

O Padre Correia da Cunha era um homem simples e humilde, sem que deixasse de ter a admiração e a simpatia dos que ocupavam altos cargos na sociedade.

UM HISTÓRIA


No início dos anos 70,  O Padre  Correia da Cunha e eu descíamos o Campo de Santa Clara quando nos cruzamos com uma distinta personalidade, que afectuosamente o abraçou manifestando-lhe muito carinho e uma profunda amizade.


- Como vai, o meu querido Padre Correia da  Cunha ?


O Padre Correia da Cunha  lá começou a falar das suas maleitas … a que o seu amigo lhe respondeu:


- Padre Correia da Cunha as portas do Hospital da Marinha estão radicalmente abertas , para o Sr. Capelão cuidar da sua saúde…


- Mas V.EXª Senhor  Almirante…, já não faço parte dessa família.


- Meu bom amigo, por tudo o que o Senhor deu à Armada Portuguesa e à formação dos nossos marujos, esta instituição não pode ser ingrata para consigo…


Eu que assisti a este encontro senti naquele momento como nos marinheiros portugueses há um grande Coração.


Após uma semana o Padre Correia da Cunha era internado num quarto de oficial no Hospital da Marinha.


Ao visitá-lo ali, lembro-me do porteiro ter partilhado comigo o seguinte:


- Nunca tive neste Hospital um doente que me desse tanto trabalho. Isto parece uma peregrinação de militares e civis.


É a estes peregrinos, espalhados por este imenso Portugal que lanço o desafio

de contribuírem com os seus testemunhos e documentação sobre o Padre Capelão Correia da Cunha, para que não desapareçam recordações saudosas de um bom e sincero amigo.

Nota: Foto e dados biográficos, cedidos gentilmente pela prestigiosa Revista da Armada. Endereçamos os nossos agradecimentos. Bem hajam


























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