quarta-feira, 20 de maio de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E A FEIRA DA LADRA

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‘’Mais do que a história, a Feira da Ladra exalta a tradição. ‘’






A Feira da Ladra teve início no Chão da Feira, junto ao Castelo de São Jorge, no séc. XIII, tendo mais tarde passado para o Rossio. Depois do Terramoto de 1755, instalou-se na Cotovia de Baixo (actual Praça da Alegria), estendendo-se mesmo pela Rua Ocidental do Passeio Público. Em 1823 foi transferida para o Campo de Santana, onde esteve apenas cinco meses, voltando para a Praça da Alegria. Em 1835, voltou ao Campo de Santana, onde se conservou até 1882. Fixou-se na Paróquia de São Vicente de Fora em 1903, no Campo de Santa Clara, onde permanece até aos dias de hoje. Ocorre semanalmente às terças-feiras e sábados.



A Feira da Ladra é uma das feiras mais antigas de Lisboa. Ali se comercializam todo o comércio de antiguidades, velharias e objectos de segunda mão lado a lado com artigos novos







Pe Correia da Cunha era um assíduo frequentador desta popular e secular feira. Ao romper da manhã lá se dirigia, para com os olhos bem abertos, observar todo o tipo de tralhas velhas, antiguidades e objectos raros. Para Pe. Correia da Cunha estas suas visitas eram eventos muito populares e apresentavam sempre novas revelações. Eram uma fonte inesgotável de objectos impensáveis. Um labirinto de coisas mas também de pessoas que muito considerava e com quem mantinha excelentes relações de amizade e carinho. Não havia um só vendedor da Feira da Ladra que o não conhecesse e não alimentasse por ele consideração e estima.



Pe. Correia da Cunha não era um coleccionador amador ou um curioso de arte, começou muito jovem como oficial da Marinha a coleccionar peças de arte sacra, adquiridas nos melhores antiquários de Lisboa com pagamentos a prestações, e desde então não parou mais. Tinha grandes amigos com essa ocupação que o visitavam frequentemente para ouvirem a sua opinião sobre determinadas peças de arte.





Pe. Correia da Cunha, possuía uma impressionante colecção de arte Sacra e não só: desde pratas lavradas do séc. XVI até séc. XVIII, a quadros originais do séc. XVI ao séc. XX, pinturas e esculturas contemporâneas, assim como excelentes peças de mobiliário original do séc. XVII …
Todas as suas peças de arte tinham uma história, uma vivência. Tinha quadros a óleo do séc. XVII e XVIII e móveis comprados na Feira da Ladra por preços insignificantes, pois para muitos os seus destinos seriam o lixo.



A sabedoria estava na escolha das peças que depois de devidamente restauradas, nas oficinas de seus amigos peritos no restauro, e repostas na sua originalidade (que por vezes as próprias peças a possuíam devido a má conservação e restauro) ficavam irreconhecíveis, ganhando valor extremamente elevado.



Pe. Correia da Cunha defendia que as antiguidades são magnificas peças desde que bem conservadas e repostas na sua primitiva originalidade.










Pelo chão do vasto Campo de Santa Clara, à sombra da sua igreja e mosteiro, Pe. Correia da Cunha quase sempre encontrava antiguidades, peças de cerâmica, livros antigos e tudo o mais que possamos imaginar. Os feirantes que o conheciam muito bem e nutriam por ele muito afecto e apreço e sabiam bem das suas preferências, reservavam-lhe por vezes peças até só com o intuito de ouvirem a sua opinião de grande especialista na matéria. Estas suas consultas eram pagas nos descontos efectuados na aquisição de peças.



Embora a Feira da Ladra possa estar associada à pobreza, lembro que nos anos cinquenta e sessenta esta dispunha de extraordinária riqueza em peças de arte e mobiliário, que hoje só se encontram disponíveis em famosos antiquários. O espelho que hoje apresenta a Feira da Ladra não reflecte a extraordinária riqueza das relações humanas e da procura que tinha por parte dos lisboetas e turistas nos meados do século passado. Como diria o poeta: ‘’ mudam-se os tempos mudam-se as vontades…’’


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