segunda-feira, 25 de maio de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E O ECONOMISTA

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‘’Para ele só as pessoas contavam…’’





Na Paróquia de São Vicente de Fora, nos dias da semana, eram celebradas por Padre Correia da Cunha duas missas diárias: uma pelas 9,30 horas e outra pelas 18,30 horas. Estas celebrações eucarísticas tinham normalmente a duração de 30 minutos.

Naquele final de tarde do principio dos anos setenta, cinzento de Outono, a celebração eucarística teve a duração de uma hora e dez minutos. Padre Correia da Cunha estava a viver um difícil problema. Tinha assumido solenemente, com o Vigário Geral do Patriarcado de Lisboa, a liquidação de todos os emolumentos em atraso pertencentes à Paróquia desde 1960 – ano da sua chegada à Paróquia. Para acatar essa exigência era colocada por Padre Correia da Cunha a hipótese de se desprender do seu património de arte sacra. Não dispunha de dinheiro para o efeito, dada a pobreza da Paróquia.

O Padre Correia da Cunha entendia que a Graça de Deus não podia ser paga por nenhum dinheiro deste mundo, tinha que estar disponível graciosamente para todos como o Coração de Deus está disponível para todos que o ambicionem. Assim não cobrava qualquer tipo de emolumento pelos serviços sacramentais prestados. Os donativos dos fiéis cobriam mal as despesas correntes (água, electricidade, limpeza …) e pouco mais. Não tinha abraçado a vocação sacerdotal para ser contabilista ou gestor de uma fábrica… Era estruturalmente um desordenado no tocante aos aspectos financeiros e burocráticos da sua paróquia. As dificuldades financeiras eram diárias, que com ajuda da providência Divina lá as ia ultrapassando. Para ele só as pessoas contavam.

Naquela tarde, aproveitou a celebração da Eucaristia para lançar um repto aos presentes sobre a gravidade da situação. Aproveitando a inspiração das leituras do dia, em forma de um improviso que lhe era habitual, o Padre Correia da Cunha fez uma empolgante e frontal homilia, com toda a energia que o seu coração permitia:

- Meus queridos irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo, como cristãos e paroquianos desta paróquia, temos o dever de contribuir e participar activamente na sua vida. Necessitamos de catequistas, necessitamos de visitadores dos doentes, necessitamos de Vicentinos, necessitamos de pessoas que animem o canto nas celebrações, necessitamos de alguém que saiba de contabilidade que ajude a colocar em ordem as contas da igreja...

Meus queridos Irmãos, temos de colaborar na vida da nossa família paroquial ou então andamos todos aqui a enganar-nos uns aos outros… Ser cristão é muito mais do que vir à Igreja ‘’papar hóstias’’, é assumir o compromisso de servir a comunidade e os irmãos que de nós precisam… Cristianismo sem caridade vivencial é uma ilusão… Meus Queridos amigos, ou nos empenhamos na vida da comunidade paroquial ou o melhor é colocar um cartaz na porta da igreja com a seguinte inscrição: Trespassa-se para mudança de ramo. Lembro que os cristãos não podem fugir nunca com o rabo à seringa…


Depois desta surpreendente reprimenda todos lá se dirigiram para as suas vidas, o Padre Correia da Cunha para a Sacristia e depois para o Cartório Paroquial.


Cerca das 20,30 horas, quando descia as escadarias da sua igreja para ir jantar, saiu ao seu encontro um jovem de trinta e poucos anos muito bem apresentado e vestido impecavelmente, que o interrogou:

- Desculpe! O Sr. é que é o Padre que celebrou a missa de fim da tarde?

- Sim, sou eu mesmo.

- Estive ali no meu automóvel a pensar nas palavras da sua prática. Sou Licenciado em Ciências Económicas e Financeiras, paroquiano da Freguesia de São João de Deus. Creio que podia ajudar o Reverendo na contabilidade. Não conheço o plano contabilístico da igreja mas certamente com a sua ajuda… Queria era desde já disponibilizar-me para essa tarefa, caso o Sr. Padre naturalmente o aceite.

- O Sr. Dr. vai-me desculpar, mas o que faz aqui por estas bandas? Nesta Paróquia de pelintras?

- A minha noiva vive aqui nesta paróquia.

- Muito bem. O Sr. Dr. poderá por favor passar amanhã por cá para abordarmos com todo o detalhe as nossas necessidades e mostrar-lhe os livros da fabriqueira.
O seu preenchimento penso que não seja difícil mas amanhã aportaríamos todas essas questões. Resta-me desde já agradecer do fundo do coração toda a sua imensa generosidade. Deus Nosso Senhor o abençoe.

Nessa mesma noite, na reunião do Conselho Paroquial, o Padre Correia da Cunha descrevia aos seus membros este sui generis episódio ocorrido nesse final de dia assim como as aparentes dúvidas sobre tão inesperada disponibilidade e magnificência de um jovem empresário, que manifestara tanta boa vontade para colaborar com uma paróquia pobretana como a sua.

No dia seguinte lá estava o Sr. Dr. para dar início à sua nova nobre missão… por muitos e longos anos. A partir dessa altura todos os meses eram afixados na entrada da igreja o balancete sobre a débil situação financeira da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora.

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HOMENAGEM AO DR. CARLOS VECINO VIEIRA



Hoje, quero em nome de todos os amigos do Padre Correia da Cunha, prestar uma sincera e merecida homenagem ao Dr. Carlos Alberto Vecino Vieira, que durante muitos anos contribuiu com total dedicação e generosidade na organização das contas da Igreja Paroquial de São Vicente de Fora. Carlos Vieira veio a tornar-se num dedicado e fiel amigo de Padre Correia da Cunha.

Deus concedeu a Carlos Vieira um coração de um excelente esposo, pai, empresário e paroquiano, (chegou a viver na Paróquia de São Vicente de Fora) repleto de grande humanidade. A chama da sua grande crença em Jesus Cristo arde em seu peito e irradia-se através de todo o seu ser. A fé habita o seu rosto e exprime-se numa enorme e genuína bondade.

Para o Carlos Vieira os pobres são realmente seus irmãos. É um grande homem. Para ele o mais importante é viver o Evangelho e vivê-lo na ajuda permanente dos seus irmãos mais carenciados. Dou muitas graças a Deus, por me ter dado a oportunidade de conviver de perto tantos anos com este grande Cristão de uma elevada riqueza espiritual, que coloca todas as suas forças no Amor a Deus e ao seu próximo sem pretender nenhuma glória humana.

Este cristão exemplar muito contribuiu para ajudar todos os jovens e homens de boa vontade da Paróquia de São Vicente de Fora na busca de um projecto de vida, assegurando-lhes o acesso ao trabalho. Muitos continuam a seguir o seu bom exemplo: sendo fiéis aos ensinamentos de Jesus Cristo e empenhados no respeito à dignidade da pessoa humana.

Estou certo que continua a ser um grande fã e admirador da memória do Padre José Correia da Cunha. Cheguei a ouvir dizer-lhe: ‘’ que era difícil encontrar pessoa de mais iniciativa e mais expedito do que este benemérito pároco de São Vicente de Fora’’.

O Dr. Carlos Vieira conto consigo para ajudar a manter viva a memória deste grande e saudoso amigo que continua a iluminar o caminho de quantos o conheceram, conviveram e muito apreenderam com a sua brilhante e apurada inteligência.

Tomei conhecimento recentemente da publicação de uma obra sua com o título: Sentir Ser Português. “Nesse livro o Dr. Carlos Vieira pretende apresentar uma reflexão sobre as causas que poderão estar na origem do actual mal-estar e desalento sentido pelos portugueses.

Estas razões de que a Economia, apesar de importante, não é mais do que um efeito, deveremos procurá-las numa desconcertante ruptura com o passado recente e distante.

Os elementos essenciais da nossa integridade como Nação: Independência Nacional, Pátria, Manifestação Pública da Fé, Serviço Público, Criação de Riqueza Familiar, Paz e Tolerância Social, um rumo, por muitos esquecidos ou maltratados, constituirão motivo suficiente para se detectarem sérios riscos de desagregação que urge corrigir.
Pretende-se deste modo contribuir para uma recuperação desejada e aguardada, mas de momento adiada”.

Recomendo a todos os homens de boa vontade a sua leitura.


Nota: Pagela de Jesus Cristo – Tenho um amigo que me AMA, que me foi oferecida pelo Dr. Carlos Vieira, nos anos 70.


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1 comentário:

  1. José Abel de Andrade15.10.11

    Por acaso vim ter a esta folha.
    Mas é com muita emoção e conhecimento do Dr. Carlos Vieira que me associo sem reservas à homenagem.
    José Abel de Andrade

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