terça-feira, 24 de novembro de 2009

PE. CORREIA DA CUNHA E O SILÊNCIO

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‘’É PRECISO OUVIR O SILÊNCIO…’’



Pe. Correia da Cunha, nos anos sessenta, quando regressava a casa, perto da meia-noite e havia um velório na casa mortuária da paróquia, aproveitava para apresentar sempre uma palavra de conforto e profunda amizade aos familiares mais próximos do defunto e fazer um momento solene de oração com todos os presentes.

No final recomendava que se encerrasse a câmara ardente e que todos procurassem descansar um pouco, pois os sacrifícios desprendidos com o seu ente querido já teriam sido bastante penosos e dolorosos. Agora, ele já estava em Paz e nos braços do Pai; apenas precisava das nossas orações.

Naquele tempo, esta proposta era energicamente recusada, a tradição não permitia que o falecido ficasse sem a última companhia dos seus familiares mais próximos. Passados quarenta anos aquele desejo sincero de Padre Correia da Cunha é um dado adquirido em todas as comunidades. Padre Correia da Cunha via sempre mais à frente…


Padre Correia da Cunha aproveitava também para com a sua habitual frontalidade chamar atenção e reprovar freneticamente aquele ‘’chavascal’’, que lhe metia dó. Grande parte dos presentes, naquele espaço, aproveitavam para pôr em dia, as amizades que não eram vistas há muito tempo. Falava-se do fulano que também morreu assim… do sicrano que morreu não se sabe como… porque a vida é uma roda… porque só morrem os bons… Todos sabemos que nestas alturas, como toque de arte e magia, toda a gente que morre é transformada numa excelente pessoa …e havia até quem aproveitasse para pôr o desporto e as anedotas em dia. Estes comportamentos chocavam Padre Correia da Cunha e daí a sua profunda indignação.

Para Padre Correia da Cunha aquele local era de respeito, silêncio e oração. A ocasião deveria ser aproveitada, para em silêncio absoluto, pedirmos ao Pai que acolhesse aquele nosso irmão e que ele intercedesse por nós junto do Pai de misericórdia. Para Padre Correia da Cunha, naqueles momentos, era muito importante ouvir o silêncio…

Escrevo este post, com uma grande dor e amargura na minha alma, com a partida para o Pai do meu querido e amigo sobrinho, António José Gregório Pina Calado (1961-2009), mas com uma grande certeza e convicção que ele já está junto de Deus.


Uma vasta multidão dos seus bons amigos congregou-se ontem na capela da ressurreição dos Olivais, para lhe prestar uma sentida homenagem e lhe dizer o seu último ‘’adeus’’. Havia motivo para todos sentirem a tristeza nos seus corações, mas apreciei a sobriedade, respeito e silêncio daquele imenso punhado de jovens que o quiseram acompanhar até à eternidade.

Ali, naquele local senti que Pe. Correia da Cunha aproveitaria para fazer um delicado elogio e não uma reprimenda. Pois tudo era muito diferente, havia respeito, silêncio e oração.

Não será esquecido nos nossos corações onde permanecerá com eterna gratidão. Ele será mais um amigo, que contamos no céu para nos ajudar atingir a felicidade plena, se possível nesta peregrinação terrestre.

O Tó Zé dorme hoje um sono sagrado… uma vez que os bons homens nunca morrem e junto de Santo António de Lisboa - nosso padroeiro, São José Operário - nosso protector e São Gregório - nosso modelo de virtudes, continuará a manter e a fortalecer em cada um de nós, que somos seus amigos, uma perene amizade.


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