quarta-feira, 7 de julho de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E A SUA PRAIA

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AVENCAS A SUA PRAIA MÁGICA…




No verão, diariamente, o Padre Correia da Cunha acordava bem cedo de forma a celebrar a missa da manhã que se realizava pelas 9,30h. Depois ocupava o lugar no topo da mesa do salão da catequese, e envolvido pela suave companhia dos seus amados adolescentes em período de férias escolares, tomava o pequeno-almoço previamente preparado pela empregada da Senhora D. Emilia Caldeira de Borbón.


Todos aguardávamos ansiosamente pela maravilhosa surpresa matinal: Vamos à praia!



O Padre Correia da Cunha sofria de uma séria doença reumática.
Por recomendação médica, no verão, obrigatoriamente tinha que ir à praia das Avencas na Parede, onde tomava o seu banho de sol que lhe propiciava um inverno com menos sofrimento no tocante à artrite e ao reumatismo.



Lembro-me que naquele tempo concordávamos sempre com as escolhas de Padre Correia da Cunha relativamente aos eleitos, pois no seu mini-austin apenas poderiam ir entre 5 a 6 jovens. Não brigávamos, nunca ficávamos de mau humor, só vivíamos a felicidade. Não conhecíamos a mentira, a traição. O nosso sonho era apenas seguir as suas recomendações e todos sabíamos que ele era muito justo nas escolhas. Creio mesmo, que não haja nenhum adolescente que não tenha experimentado estes tão agradáveis passeios à praia.



Lembro-me com muito carinho dessas manhãs de praia que fazíamos com o Padre Correia da Cunha.
Espalhava-se pela praia a notícia da sua chegada, pois possuía uma enorme simpatia por parte dos habituais frequentadores que sofriam de semelhantes patologias. Tratava todos com muitíssimo afecto e ternura, pois sempre encontrava no seu espírito evangélico, o bálsamo com que suavizava os males dos seus companheiros de praia.






Lembro-me que nos anos 60 ir à praia era símbolo do veraneio chique. Na praia das Avencas podíamos respirar o fresco do mar. Nas manhãs de verão corria uma aragem à flor da água. A imensidão do mar e as rochas iodadas que a maré descobria, o aroma das algas molhadas, tudo proporcionava uma manhã de praia bem passada naquele maravilhoso e mágico lugar.


Lembro-me que plantado nesta praia, uma das melhores do mundo (no aspecto da saúde), havia um bar onde antes do fim da jornada, Padre Correia da Cunha convidava os seus jovens e bons amigos a um sumo de frutas refrescantes. Neste bar havia uma maravilhosa esplanada com uma excelente vista sobre o mar. Era neste magnífico ambiente que o Padre Correia da Cunha se perdia na arte de conversar, na sua sensível erudição e memória prodigiosa que a todos fascinava. Muitas vezes após 25 de Abril de 1974, ali me desloquei na sua companhia, onde o tema da sua predilecção era a grande visão estratégia da política externa portuguesa.


Segundo a sua visão, havia a necessidade de convencer a comunidade internacional que PORTUGAL vivia uma democracia orgânica e defendia intransigentemente a África, cobiçada na altura pela URSS.

Era lamentável que o mundo ocidental não reconhecesse as vantagens do território Africano, independentemente do regime existente em Lisboa.

Sentia que há época não havia uma politica externa e que o país estava à mercê da sua própria sorte, onde apenas imperava a incompetência de meia dúzia de militares …e tudo isto contribuía para a sua profunda tristeza.



Lembro-me de Lisboa ser uma cidade agradável para circular de automóvel nos anos 60, onde havia poucos carros. Entre 15 a 20 minutos era o tempo necessário para nos colocarmos de São Vicente de Fora na Praia das Avencas, na Parede. O Padre Correia da Cunha conduzia o seu carro mini a alta velocidade na cidade. Hoje, o automóvel é mais um fardo do que uma ajuda. Durante o dia, o trânsito é caótico e aquelas pequenas ruas do bairro ficam rapidamente congestionadas. Encontrar um lugar de estacionamento é um autêntico quebra-cabeças.


Lembro-me de muitos dos jovens que acompanhavam Padre Correia da Cunha nas manhãs de verão à Praia das Avencas na Parede. Pergunto, não estará na hora de prestarem um testemunho de gratidão?
Mantendo assim bem viva a chama deste grande educador que tanto contribuiu para a educação cristã e humana da juventude dos anos 60 e 70 da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora.

Conto com todos.
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