sexta-feira, 13 de agosto de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E A SAGRES

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'' A MÚSICA CELEBRAVA O RELACIONAMENTO ENTRE DEUS E...''


Na actualidade, a SAGRES vem insistindo em associar à selecção nacional este belo slogan ‘’ A SAGRES É A NOSSA SELECÇÃO’’.

Nos anos 60, o Padre Correia da Cunha congregava à sua roda uma selecção de jovens seus amigos, onde a SAGRES contribuía para o fortalecimento duma amizade solidária e fraterna.

O Padre Correia da Cunha possuía um contrato de abastecimento da SAGRES com a Sociedade Nacional de Cervejas. Cada 15 dias era reabastecido o seu stock assim como o seu enorme frigorífico, reposto de uma quantidade significativa de garrafas desse precioso líquido.

O Padre Correia da Cunha tinha um espírito farrista, liberto de preconceitos, coração e mãos abertas, sincero e muito fervoroso na sua fé cristã.

Nos seus aposentos no Mosteiro de São Vicente de Fora, dava longos serões onde eram assíduos muitos jovens paroquianos. Acolhia a todos com muita atenção e com um especial carinho, o que lhe era natural.

Rodeado de uma corte de admiradores e como um bom amaliano, não faltavam os discos de vinil com as brilhantes interpretações de Amália Rodrigues que ia passando na sua aparelhagem de alta-fidelidade.O  Padre Correia da Cunha aproveitava para falar sobre os poetas eruditos, que podíamos encontrar no universo da sua amada Amália e graças a ela se tornariam familiares a todos nós bem como ao povo português.







Todos sabíamos que beber cerveja era cordial e punha-nos de bem com a vida. A Voz de Amália era uma fonte a jorrar poesia que até ali era reservada apenas aos instruídos intelectuais e interdita ao povo. O fado era o fatalismo, o destino subjacente ao quotidiano.

O Padre Correia da Cunha não poderia deixar de gostar do fado, pois era o sentimento e a voz do seu povo e sempre referia que Deus se revelava na simplicidade e na voz do povo. Como orgulhoso marinheiro o fado para ele teria nascido no mar aos ritmos das ondas…

Na época o fado era visto como perdição, mas as impressionantes interpretações de Amália eram êxitos no plano nacional e internacional. Cantava com a Voz que Deus lhe dera e os seus fados eram sucessos que passavam muito rapidamente para a voz do povo.

O Padre Correia da Cunha teve muita influência na formação musical dos jovens de São Vicente de Fora, quando ouviam em sua casa o melhor, não só de Amália Rodrigues, mas também as obras dos grandes compositores clássicos.

Recordo aqui as palavras de Rogério Martins Simões sobre esses inesquecíveis tempos:

’Foi num passado recente, quando frequentava a Igreja Paroquial de São Vicente de Fora, que o grande Padre José Correia da Cunha nos seduziu para a cultura. Graças a ele, quase todas as semanas existiam concertos e outras festividades, nomeadamente ópera, concertos naquele extraordinário órgão, e até o bom fado da Amália. Foi assim que a cultura chegou a grande parte dos lares daquela paróquia. Estas suas iniciativas elevavam o nível cultural dos seus paroquianos, e deveriam ser mais incrementadas, como fazia o bom Padre José Correia da Cunha. ‘’







O Padre Correia da Cunha referia que quatro séculos de música clássica, com cerca de cem grandes compositores com agradáveis reportórios, colocavam enormes dificuldades na escolha. Para ele o mais importante era o prazer inigualável de ouvir música.

Padre Correia da Cunha procurava oferecer sugestões que nos ajudassem e auxiliassem a começar a explorar toda a amplitude da música clássica.

Fazia habitualmente descrições não muito técnicas que nos permitiam determinar o compositor, a época e assim nascia em cada um de nós uma profunda paixão pela música clássica. Lembro-me dos seus compositores eleitos: J.S. Bach, Byrd, Purcell, Monteverdi, Stravinky.

Para o  Padre Correia da Cunha a música celebrava o relacionamento entre os seres humanos e DEUS…

Aquelas noites, rodeado por jovens afectuosos, bebendo umas SAGRES fresquinhas e ouvido o reportório de grandes compositores, todos nós nos apercebíamos que ficávamos muito mais ricos culturalmente.

Estes momentos continuarão nas nossas mais gratas recordações. Explorando a sua memória, um grande amigo há dias confidenciava-me que Padre Correia da Cunha armazenava, como um grande tesouro as grades das Sagres por debaixo da sua monumental cama, peça de singular beleza do séc. XVIII.




















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