quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA E QUADRA DE NATAL

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‘’ ACHAREIS O MENINO ENVOLTO EM PANOS E DEITADO NUMA MANJEDOURA’’.






O Natal de Jesus simboliza a esplendorosa luz redentora representada pela imagem de um recém-nascido, num humilde e tosco curral sobre uma manjedoura.

Na visão do Padre Correia da Cunha estava sempre presente aquele singelo estábulo onde nasceu Jesus. ‘’Deus nasceu menino unido-se assim a Divindade com a Humanidade’’ PCC.

No Natal as chamas dos círios parecem brilhar com mais intensidade, iluminando com maior esplendor as nossas almas obscurecidas pelas fúrias diárias da hipocrisia e do egoísmo…









Era uma tradição da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora construir todos os anos, nesta quadra, enormes presépios no amplo vestíbulo da entrada principal da igreja.



Estes presépios eram pequenos mundos, onde as coisas sublimadas de suaves lirismos adquiriam expressões de ingénua fantasia. No topo o anjo segurava nos dedos a legenda: Glória in Excelsis Deo.



Em lugar bem visível figurava o estábulo e, na manjedoura, deitado sobre pobres palhas o Menino Jesus que sorria num raio de luz na claridade irreal, que era filtrada pelas verduras bravias enroscadas nas grandes colunas do pórtico.



A Virgem Maria e São José aureolados pela mesma luz que enchia por completo aquele imenso átrio da majestosa igreja.


Os pastores com oferendas glorificando e louvado a DEUS-MENINO por tudo o que tinham ouvido e visto. Naqueles presépios havia uma natureza de musgos verdes em contraste com o azul celeste da moldura de fundo.


Eram assim os presépios construídos sobre as ordens do Padre Correia da Cunha que geravam doces ilusões nas almas simples, sonhos de um Mundo de ingénuas e luminosas fantasias.



A propósito desta quadra e dos inesquecíveis presépios, vamos hoje aqui recordar um curioso facto, que o Padre Correia da Cunha, muito gostava de invocar sobre essa imensa construção que mobilizava todas as forças vivas da comunidade paroquial.



Contava ele: - ‘’Foi São Francisco de Assis o primeiro que teve a poética ideia de simbolizar assim, o nascimento de Jesus. Tinha acabado de regressar da Palestina, onde visitara a cidade de Belém e ansioso por espalhar entre os homens o culto de JESUS-MENINO, resolveu evocar através de imagens vivas o seu maravilhoso nascimento.



Com a ajuda do seu fiel amigo Frei Giovanni Vellita preparou a gruta de Greccio. No chão de palha, armaram a manjedoura, arranjaram um boi e um burro, criando assim o mesmo ambiente em que segundo o Evangelho, nascera o Salvador.




Com figurantes humanos deram vida e movimento ao quadro. E todos quantos visitaram esse presépio quedaram-se enternecidos com a singela ideia.’’ Era também desejo do Padre Correia da Cunha que na sua paróquia continuasse bem viva e a flutuar no espírito de cada um de nós esta poética ideia de São Francisco de Assis.






Quem não se lembra das exposições e concursos de presépios, pelos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora, feitos de diferentes materiais, promovidos e organizados pelo Padre Correia da Cunha.




Eram convidadas todas as crianças e catequistas a apresentarem nestes concursos de presépios feitos dos mais diversos materiais, nomeadamente, madeiras, cerâmicas, papeis, cortiças…uns mais ricos, outros mais modestos, todos porém se revestiam de igual significado: Amor a Deus que veio à Terra tornando-se menino para unir na mesma fé os homens de Boa Vontade.




O Padre Correia da Cunha ensinava-nos a debruçar sobre a imagem do Menino Jesus, numa genuflexão de perfumada fé e a implorarmos para todos os homens sentimentos de humanidade e fraternidade pois era esse o grande e sublime ensinamento que Jesus-Menino sonhava para os homens, mas abominavelmente esquecida por todos nós inclusive pelo pobre padre pecador que assim se confessava publicamente.



Votos de um Santo Natal!

















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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA E O INVERNO

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’O inverno é a pedra de toque dos corações com sentimentos.’’


As manhãs gélidas de inverno rigoroso chegavam à Paroquia de São Vicente de Fora, frias como as atitudes e corações de certos homens, assim o referia Padre Correia da Cunha.



Já não se ouviam os cânticos melodiosos dos pássaros, nem se sentia o perfume das flores dos belos jardins da paróquia. Naqueles tempos de dificuldades e inquietações, o conforto dos lares não era comparável ao existente nos dias actuais. A vida era totalmente diferente.




Uma vez o Padre Correia da Cunha foi convidado para jantar em casa de uma ilustre família da comunidade. Estes convites eram efectuados quotidianamente, pois todos gostavam de saborear o convívio com a adorável presença deste bondoso e desprendido sacerdote de elevada e insuperável cultura.




No final da refeição, quando se preparava para regressar à residência paroquial, sem um agasalho que fizesse frente ao cortante frio que se fazia sentir pelas ruas desertas e melancólicas da paróquia, onde a aragem fria chicoteava os solitários caminhantes.




Prontificou-se o dono da casa a oferecer ao Padre Correia da Cunha um quente sobretudo, de excelente qualidade, para o poupar a tão dura provação na marcha até casa.


Esta oferta generosa e de elevados sentimentos do seu bom amigo visava proporcionar ao Padre Correia da Cunha um inverno mais suave ao tormento do arrojado frio que se fazia sentir naquele rigoroso inverno em Lisboa.




Semanas depois, num dia de imenso frio e de um vento encrespado de arrepios e com forte cheiro a inverno, o Padre Correia da Cunha é avistado pelo seu generoso amigo sem qualquer espécie de agasalho, que o levou a interpelá-lo:



- Padre Correia da Cunha o que é feito do sobretudo que lhe ofereci?



- Sabe, apareceu um que precisava mais do que eu…



Perante esta pronta resposta não houve mais comentários.

Às vezes há instantes que não têm preço. A solidariedade humana é um gesto de bem que se estabelece entre os que sentem de perto o sofrimento do seu irmão.



O Padre Correia da Cunha era assim, propenso à solidariedade humana, compreendendo muito bem as realidades humanas quotidianas, pois andava a pé ao longo das ruas e ruelas da paróquia. Na sua simplicidade de criatura comum, possuía um ideal de humanidade solidária. Só assim era feliz, pois procurava ser coerente com os princípios que pregava do púlpito da sua igreja. Detestava os privilégios e distinções.



O Padre Correia da Cunha era um idealista, sonhador, gostava de olhar a vida pelas frestas da simplicidade e humildade. Era um simplório cheio de ilusões que por vezes nem ilusões eram.



As palavras de Cristo referia Padre Correia da Cunha foram e continuarão a ser aproveitadas por muitos para assegurarem e assumirem a superioridade sobre os outros seus irmãos. Nada de mais aberrante, uns impostores…




Jesus Cristo sempre pregou a humanidade, a solidariedade e morreu esticado numa cruz convicto Ele que os homens o seguiriam.

Mas diante desta frieza humana resta aos irmãos mais carenciados que alguém lhes ofereça um capote de esperança para que nos dias mais frios da vida possam ter um derradeiro agasalho.



 Nos tempos difíceis que vivemos saibamos contribuir para a construção de uma comunidade mais justa e fraterna em que os sem abrigo, chicoteados pelo frio cortante do inverno, possam contar e confiar em homens determinados e abnegados em abraçar a causa do serviço a favor da sociedade.

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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA E O FADO PATRIMÓNIO

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“NA BOCA DE UM MARINHEIRO... QUE, ESTANDO TRISTE CANTAVA...’





Parecia impossível, mas era verdade. O Padre Correia da Cunha andava ensonado todas as manhãs, porque se perdia pela atmosfera nocturna dos becos e vielas de Alfama, onde se deixava aportar numa qualquer casa típica de fados.


O Padre Correia da Cunha entregava-se incondicionalmente a estes sonhos agradáveis, pois tinha uma alma de artista e gostava de ouvir e cantar o fado castiço, tão português.

Da sua paróquia de São Vicente de Fora, a qualquer recanto de Alfama era a distância de um tiro, descendo a encosta, em cascata de casario, por entre becos e ruelas mal iluminadas. Não faltava a passagem pela igreja do seu santo protector, nas lides do fado: Santo Estêvão.




Era nesses ambientes quase irreais, na companhia dos amigos de farras, que o fado tanto lhe falava aos seus profundos sentimentos. Ali saboreava os excelentes petiscos regados com uma boa pinga e escutava excepcionais elencos de fadistas com reportórios vernáculos, que lhe enchiam o coração de grande beleza e emoções. Para ele era importantíssimo que as vozes fossem acompanhadas por exímios artistas da guitarra e da viola.



O Padre Correia da Cunha costumava afirmar que era esta Lisboa, sincera, pura, original, verdadeira, que não copiava o estrangeiro, pois não precisava; que lhe fazia entender o que era belo e sublime.




O Padre Correia da Cunha podia ter optado por uma paróquia da moderna e elegante Lisboa, das madames “blasées”, que chupavam nas palhinhas dos batidos, nas elegantes e snobes casas de chá. Por desejo próprio veio para a Feira da Ladra, bairro do povo simples, do trabalho rude, das fadigas, no atavismo das saudades e na realidade das árduas preocupações.




Com longa vida feita sobre as salsas ondas do mar, o fado tocava-o muito. O Padre Correia da Cunha confessava-se um profundo amante do bom fado. Neste humilde bairro, podia sonhar mais com o amor do que com o dinheiro, aqui sabia-se cantar o fado e ele não trocava o pátio pobre de lajedo primitivo escuro, medieval, pelos mais luxuosos tapetes das ricas residências da moderna Lisboa.





A sua alma de marinheiro poeta só se podia sentir bem no local donde partiram as caravelas para as conquistas do novo mundo. Alfama era a Lisboa das marinhagens, das varinas cheirando a sol e mar, das gaivotas sobrevoando o seu enamorado Tejo, dos becos e das ruelas, das quimeras de amor.

No coração do Padre Correia da Cunha havia uma Lisboa de ciúmes ferozes, de brigas que acabavam em beijos, do fado das lágrimas, dos risos, das raivas e dos perdões…

O Padre Correia da Cunha era um alfacinha de gema, saudosista, cioso dos encantos da sua eterna e amada cidade, que esquecia as mágoas e tinha a salutar filosofia do optimismo, uma alma aberta ao encanto da tradição, vivendo a sua canção que ele garantia que o snobismo ou a indiferença não conseguiriam nunca derrotar.


Jamais o Padre Correia da Cunha terá profetizado o que o futuro reservava para a sua canção nacional. Um novo mundo abre as portas para receber o fado, pela riqueza da sua história, cultura e tesouro esplendoroso da alma lusitana, no pedestal do Património da Humanidade.


Seria certamente um dia muito feliz para o Padre Correia da Cunha a proclamação do Fado a Património Mundial, pois seria entendido por si como o reconhecimento desta herança popular, imortalizada pelas celestiais vozes de muitas fadistas que deram a conhecer ao mundo o nome de Portugal.


O Padre Correia da Cunha era um homem de superior inteligência. Sempre o ouvi referir que o fado fazia parte da genuína cultura do povo português, exprimindo os sentimentos e manifestações, em que saudade, solidão, melancolia são palavras que ligavam na perfeição. Ele também foi um daqueles que o cantaram com imensa paixão pela madrugada fora, na companhia dos amigos, pelos escondidos recantos da sua querida Alfama.



Foi com o Padre Correia da Cunha, nas longas noitadas passadas na sua residência paroquial, que muitos jovens de São Vicente de Fora aprenderam a venerar e apreciar a grande e “divinal” Amália Rodrigues. Para o Padre Correia da Cunha a voz do fado, em Amália, era tão bela que lhe lembrava a harmonia dos anjos serenos e abençoados, ainda que tristes.


Ao erguermos as taças brindando ao reconhecimento internacional do FADO, sentimos que o Padre Correia da Cunha, onde quer que se encontre, estará também a festejar com um aberto e feliz sorriso!

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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA E O DOMINGO

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"Dies Dominica"





Para o Padre Correia da Cunha o Domingo era o grande dia do Senhor! Encontro de irmãos na grande e jubilosa festa da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, reunida à volta do seu dedicado guia espiritual.



As ruas e ruelas animavam-se com os risos e cores dos fatos domingueiros das crianças. Raparigas e rapazes dirigiam-se para o templo, onde eram acolhidos, de braços abertos, pelo Padre Correia da Cunha que a seguir dava inicio à celebração da grande festa do Senhor – a Eucaristia Dominical.




A igreja estava lindamente decorada com arranjos florais. Todos os paroquianos gozavam nesse tempo de uma enorme simplicidade; as pessoas eram naturalmente alegres.

O coro constituído pelas mais belas vozes da paróquia era empenhado e muito exigente. Cantava com dedicação e carinho para animar com grande entusiasmo a magnifica celebração de fé e assim contribuir com a sua arte para a beleza do Reino de Deus.

O Padre Correia da Cunha após a liturgia da palavra dava  inicio à sua grande oratória, não hesitando chamar ‘’os bois pelos nomes’’; isto significava nomear cada coisa ou atitude pelo seu verdadeiro nome, fosse agradável ou não. Para ele quem dissesse que amava e adorava Deus com toda a reverência, sem amar o seu próximo com todo o respeito era um aldrabão. Como muitas vezes lhe ouvi: ‘’ Meus queridos irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo. Não nos enganemos. Sem caridade os nossos ideais cristãos são uma mentira.’’  

O Padre Correia da Cunha usando das suas prerrogativas, dava-se ao luxo de esquecer o tempo e prolongar as suas intermináveis práticas. Sempre havia alguém na assembleia que se sentia com o direito de apontar o relógio como sinal de momento de paragem. O Padre Correia da Cunha não se conseguia redimir deste seu imenso ‘’defeito’’; só lhe restava sempre pedir mil desculpas…   

Seguia-se o Credo. Creio em Deus Pai….que o Padre Correia da Cunha pedia que fosse recitado com todo o entusiasmo e força vocal.


Ao concluir a liturgia eucarística, todos eram convidados para a Ceia do Senhor. Recordo que nessas missas dominicais eram intermináveis as filas para a comunhão.



Terminada a Celebração Eucarística no interior do templo, seguiam-se os afazeres da catequese que todos recebíamos com grande reverência e onde aprendíamos o necessário da doutrina católica para nos tornarmos em pequenos seguidores de Jesus Cristo. Esta actividade era coordenada entusiasticamente pela saudosa Senhora Dona Anita Themudo Barata e Senhor Carlos Barradas.

Após cerca de quarenta e cinco minutos o Padre Correia da Cunha percorria os claustros tocando o sino para que fossem concluídas as sessões de doutrina.

Catequistas e pais revelavam o seu entusiasmo e prazer em ver os discípulos e filhos a evoluírem brilhantemente. O Padre Correia da Cunha ambicionava que estes meninos e meninas crescessem com as riquezas das virtudes cristãs, pois só assim poderiam no seu futuro profissional serem respeitados e motivo de orgulho e honra por parte da comunidade, pois contavam com a Graça de Deus.



Na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora todos evoluíram, os jovens tinham a esperança de que a sua futura vida seria mais confortável do que a vida dos pais; porque sempre apreendiam mais e com esforço e a graça de Deus podiam alcançar patamares que muito honrariam os seus progenitores.


Os pais tinham esperança em seus filhos e viam-nos a crescer em virtudes e conhecimentos.



O povo de São Vicente de Fora tinha poucas riquezas materiais, mas considerava-se rico por ter este abnegado Pároco humanista que sabia dar valor à cultura com o pólo para o desenvolvimento humano e cristão.


O Padre Correia da Cunha era uma pessoa maravilhosa. Não culpava nem condenava ninguém tendo sempre uma palavra de orientação e conforto.


Esta Comunidade Paroquial produziu figuras de relevante valor que hoje desempenham actividades, em todas as áreas da sociedade e que são motivo de orgulho. Graças a Deus e ao grande mestre e sacerdote: Padre José Correia da Cunha.
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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

PE CORREIA DA CUNHA E AS TORRRES DA SUA IGREJA

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"AH! COMO É BOM NAS ALTURAS…"



O Padre Correia da Cunha gostava imenso de subir às torres da sua igreja. Ali refrescava as ideias e podia enxergar a sua amada cidade de Lisboa, com apurada visão que o caracterizava.

As ascensões às torres daquele grandioso monumento eram muito enriquecedoras para si, pois dali via os caminhantes, seus paroquianos no lufa-lufa da vida, aquecidos pelo culto da fé em seus corações.

São Vicente de Fora era uma paróquia de gente honesta e trabalhadora, que lutava pelo bem-estar e se sacrificava sobretudo pela grandeza dos seus filhos. A preguiça não encontrava lugar nestas generosas gentes, grande parte, oriundas da Beira-Serra, cujo desejo era vencerem pelo esforço de um trabalho digno.

Quando o Padre Correia da Cunha atingia o topo das escadarias, que davam acesso ao patim das torres, um pouco cansado e com a voz embargada, mencionava que estas suas experiências lá do cimo lhe permitiam ter a exacta noção dos sofrimentos, angústias e alegrias dos seres humanos no frenesi das suas vidas na luta pelo pão-nosso de cada dia.

O Padre Correia da Cunha, do alto das torres, aproveitava para olhar para dentro da sua vida e afirmava que as nossas vidas poderiam ser mais venturosas e mais calmas, se todos compreendessemos o grande designo da vida cristã: "viver mais solidários uns com os outros, não havendo tanto egoísmo nem tanta vaidade, porque veríamos nos outros irmãos a cópia fiel do próprio Cristo." Jesus Cristo morreu pregando a solidariedade humana, mas sempre o egoísmo, a presunção e os preconceitos inúteis é que deslumbraram a sociedade.



Das torres da majestosa igreja de São Vicente de Fora, a sua amada paróquia era pequenina, mas era um grande mundo de poesia. Cada paroquiano era um dente da engrenagem que movia e acalentava a vida humana e espiritual da paróquia. São Vicente de Fora era uma comunidade que se sentia feliz na simplicidade e modéstia das suas gentes honradas e laboriosas.

Eram notáveis e dignos de admiração os esforços, que o Padre Correia da Cunha realizava para manter bem viva a comunidade num sentimento de confraternização e de sólida amizade. Para ele, o mais importante era que cada um pudesse esquecer as posições hierárquicas, as categorias profissionais, pois o que contava era a união fraterna e a solidariedade íntima entre todos os paroquianos. Eram estes que contribuíam para solidificar e conservar o esplendor da vivência cristã e o firme desejo de buscar no serviço aos irmãos o testemunho do Grande Mestre.

Nas torres da igreja as emoções do Padre Correia da Cunha eram diferentes, não sei se eram da aragem ou da poesia que ali invadia o seu coração.





Sempre que era visitado pelos inúmeros e bons amigos, que foi criando ao longo da vida, pelos locais onde passou, era inevitável o convite para essa experiência, que lhes proporcionava desfrutarem de um panorama inesquecível e uma sensação única, onde a contemplação, o relaxamento e o deslumbramento se misturavam, proporcionando um sentimento de conforto indescritível.

A amálgama de ruas, travessas e becos de Alfama, de recorte medieval, compunham o cenário, com o rio Tejo a servir de pano de fundo, brindando-nos com uma agradável brisa.

Lá do alto as coisas eram pequeninas assim como as pessoas que flutuavam na vida desses bairros, que desde muito novo o Padre Correia da Cunha começou a conhecer e amar, pelas suas riquezas patrimoniais e pureza de sentimentos das suas gentes.

A Paróquia de São Vicente de Fora é hoje, um cemitério de ilusões e um sepulcro sem esperança. O cenário actual levou a que a Paróquia fosse assimilada pela Paróquia de Santo André e Santa Marinha (Graça).



Na realidade, se hoje o Padre Correia da Cunha subisse às torres da sua amada igreja, já não veria a sua comunidade paroquial nem a sede da mesma. Extinguiu-se a chama sagrada após um prolongado período de total e deliberado abandono pastoral, permitindo que hoje já não sejam visíveis sinais de reacção ou um sopro de queixa. Aquele espaço em termos de vivência e prática cristã comunitária é um completo vazio de ilusões.


Está oficialmente consumada a decisão de tornar a Igreja do Mosteiro de São Vicente de Fora numa reitoria do Patriarcado de Lisboa.


Obviamente continua a ser verdade que a História é apenas uma interpretação dos factos,e que existe sempre também uma História na qual esses mesmos factos têm um rosto diferente.

De uma coisa estou certo: o Padre Correia da Cunha lá do alto continua a interceder pelos homens e mulheres de São Vicente de Fora, que algum dia tiveram um olhar apurado e um gesto de serviço nessa comunidade cristã. As  homenagens e o reconhecimento pelas heranças deixadas chegarão um dia…

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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PADRE CORREIA DA CUNHA – PASTORAL DAS EXÉQUIAS

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“… SÓMENTE PASSAMOS PARA O OUTRO LADO DO CAMINHO! “


O dia de hoje assinala mais uma efeméride diante da qual deveremos fazer uma sentida reflexão e contraída oração em memória dos nossos entes queridos e amigos do coração que já partiram ao encontro do PAI.


No dia de finados, o Padre Correia da Cunha recordava nas celebrações eucarísticas do dia, a memória de todos os paroquianos defuntos. Referia que vivíamos permanentemente impregnados de materialismo e escravizados às nossas ambições egoísticas, que nos levavam a esquecer-nos daqueles que deveriam estar bem vivos nos nossos íntimos.

Para que os nossos corações conservassem sempre uma nesga de saudade infinda, o Padre Correia da Cunha instituiu na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora um dia especial, para podermos reavivar as nossas recordações e saudades.


Nas últimas sextas-feiras de cada mês, realizava um Cerimonial Religioso de Exéquias, onde eram lembrados todos os irmãos paroquianos falecidos durante esse mês em curso. Mas obviamente, que durante a Oração Eucarística eram invocadas as intenções de todos os familiares dos presentes na celebração.


O Padre Correia da Cunha dirigia uma carta pessoal a cada família enlutada, onde exprimia as profundas condolências da Comunidade Paroquial e convidava as famílias e amigos a participarem nessa celebração litúrgica. A Igreja de São Vicente de Fora ficava repleta de gente para essa celebração das exéquias, que era sempre recheada de uma dignidade comovente.


O Padre Correia da Cunha apresentava conteúdos através da palavra proclamada e da sua brilhante homilia, que eram escutados, orados, reflectidos e iluminados por factos da vida real. A Boa Nova chegava como luz esplendorosa que dissipava as trevas dos nossos corações.


Pretendia o Padre Correia da Cunha que as famílias dos falecidos aprendessem a viver em comunhão com os que adormeceram no Senhor; rezando por eles e com eles. Era uma sentida homenagem e uma derradeira saudação da Comunidade Cristã de São Vicente de Fora pelos seus saudosos irmãos que Deus chamara a SI.


Espero com este testemunho ter contribuído para relembrar aquela que era a forma de Padre Correia de Cunha utilizava para manifestar, aos seus amados paroquianos, o calor humano e a fé que a comunidade unida podia transmitir aos vivos por ocasião do duro golpe, que era a morte de um familiar.

A Paróquia de São Vicente de Fora era humilde em meios materiais mas muito rica em humanismo, proximidade e fé.



Neste dia de finados, não posso deixar de exaltar os esforços supremos do nosso saudoso e querido pároco no sentido de ter toda a comunidade congregada à sua volta nas ditosas celebrações, que ele sabiamente preparava para marcar os momentos fortes do ano litúrgico e não só.


Ele bem sabia que haveria sempre alguém neste mundo para lembrar a vida e evocar a saudade. Era um pilar da pastoral a que Padre Correia da Cunha dava imenso relevo sem lhe retirar a sua importância evangelizadora e pedagógica.




Neste dia reverenciamos os que já cumpriram a sua missão e esquecemos de pensar um pouco em nós.



Lanço aqui um desafio: que prestemos uma homenagem póstuma a todos os referenciados na ALA DOS AMIGOS DE PADRE CUNHA com uma singela prece ou um pensamento a recordar pedaços do nosso passado…



É um dia de recordação e de termos um olhar saudoso, na evocação destes amigos de São Vicente que o destino arrastou para o além, onde colocamos também as nossas doces esperanças.



 
E não esqueçamos o grande ensinamento do Padre Correia da Cunha: “Cristo ao ressuscitar à vida libertou o homem da morte com a própria morte. Conseguiu para o homem a vitória plena… e afiançou a esperança de um novo encontro no Reino de Deus.”

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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA E SINTRA


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‘’ A GLORIOUS EDEN “



O Padre Correia da Cunha era um homem simples, que nutria uma enorme paixão e adoração pela cidade que o viu nascer - LISBOA.

Para além desta feiticeira do Tejo, havia três sítios “ místicos’’ que muito o fascinavam: a sua Praia das Avencas, a Serra da Arrábida e a Serra de Sintra.

Já aqui falamos da Arrábida e da Praia das Avencas. Hoje traçaremos um quadro das belezas da sua amada Sintra. Não é tarefa fácil pois nem o maior pintor paisagista com as suas mais ricas fantasias será capaz de colocar numa tela todas as belezas e encantos indescritíveis da realidade que é essa jóia bem portuguesa.

A natureza ali oferece um tão variado panorama, que é quase impossível descreve-lo.



De resto, só o Padre Correia da Cunha, pela sua apurada sensibilidade e paixão, conseguia uma perfeita descrição daquela arte e realidade viva que era a sua querida Sintra.

Também não lhe faltava tempo para nos falar da desventurada história de D. Afonso VI, que acabou os seus dias numa pequena sala do Palácio, que lhe serviu de prisão. O pavimento estava gasto dos pés do infeliz Rei, do seu incessante caminhar de um lado para o outro, e sempre na mesma linha, durante os sete anos que ali viveu.

Ao escrever hoje sobre Sintra, chega ao meu pensamento um sentimento de pesar pois acode-me à memória os bons tempos vividos e passados com este saudoso amigo, Padre Correia da Cunha e companheiros, por essas singulares e inconfundíveis paisagens da sempre bela Serra de Sintra.


O seu grande coração, no convívio com os amigos, abria-se tal como a harmoniosa natureza que envolve esta encantadora vila, que certamente tanto terá ainda por descobrir.
Creio que o Padre Correia da Cunha sentia um duplo prazer, sempre que visitava este local, como se fora a primeira vez que o contemplava este verdadeiro tesouro da natureza. Quando a começava a deslumbrar ainda ao longe e quando se perdia nos seus cerrados bosques.



Em busca de alguns momentos de alívio, para o imenso e persistente calor, do verão em Lisboa, que quase o torturava, o Padre Correia da Cunha dava sempre que podia, longos passeios pela mística Serra de Sintra. A extraordinária situação geográfica deste encantador lugar e a proximidade ao Oceano Atlântico faziam com que o ar fosse mais saudável, puro e fresco.



Como referia o Padre Correia da Cunha, Sintra era um capricho da Mãe Natureza que deve ter tido origem em qualquer violenta transformação da superfície terrestre ou de um parto do genuíno amor da Criação Divina!


O seu aspecto virginal e romântico que nos deixava tomar de surpresa em surpresa pelo seu conjunto de colinas e vales, era para nós como acariciar, com suavidade suprema, a beleza da perfeição de um corpo feminino.


Estes maravilhosos passeios com o Padre Correia da Cunha eram longas caminhadas, através de verdejantes matas fechadas, sob a folhagem densa de tantas e belas centenárias arvores.
Atingido o ponto mais alto da Serra, admirávamos as casas palacianas de Sintra agrupadas diante de nós. A vila era na época o ponto de veraneio de muitas famílias da classe abastada
e de grande parte dos representantes do Corpo Diplomático acreditado no nosso país.

Estas tardes passadas em Sintra na companhia do Padre Correia da Cunha e dos amigos companheiros eram de uma enorme e inesquecível beleza.


Ainda hoje certamente muitos dos que acompanhavam o reverendo, recordam os seus belos jardins vestidos com magnificência de variadíssimas árvores e flores, os seus mirantes donde se avistavam enormes paisagens com uma multiplicidade de cores, originadas pelo reflexo do Sol crepuscular.

Não era sem custo que o Padre Correia da Cunha se despedia deste paraíso onde os seus olhos se deleitavam com a majestosa beleza que ele tanto admirava e apreciava.


Como se compreenderá ainda hoje é impossível apagar das nossas memórias estes passeios aos recantos da Serra de Sintra, pelas fortes impressões que deixou gravadas nas nossas vidas.

É destas belezas e encantos que ficaram indeléveis nas nossas lembranças que sentimos a necessidade de com muita saudade mas também imenso prazer, transmitir sobre um rincão que o Padre Correia da Cunha seleccionava para um contacto mais a sós com o Criador. Aproveitamos para convidar-vos a que revisitem Sintra, um local, onde os olhos, em perfeita liberdade, procuram um sítio agradável e fresco para descansarem.

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terça-feira, 11 de outubro de 2011

PE CORREIA DA CUNHA E O DR. CARNEIRO MESQUITA









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DR. CARNEIRO MESQUITA



‘’…DO BARRO VIEMOS, AO BARRO VOLTAREMOS. ‘’



O Padre Correia da Cunha frequentou com elevado brilho o Seminário Maior dos Olivais, o qual lhe proporcionou uma bem alicerçada preparação para a sua futura vida eclesiástica. Ali recebeu as luzes das ciências teológicas, litúrgicas e da pastoral cristã, ferramentas indispensáveis para o exercício do seu múnus sacerdotal. Os saberes transmitidos pelos seus mestres enriqueceram o seu manancial espiritual e humanístico.

Também os paroquianos de São Vicente de Fora foram muito ajudados pela mestria do Padre Correia da Cunha. Foi dele que herdamos a sua magnífica prática no ensino da doutrina da Igreja e a sabedoria para interpretarmos os problemas da sociedade contemporânea à luz dos Evangelhos.

O Padre Correia da Cunha não resistia à tentação de falar do Seminário de Cristo Rei, sem evocar o seu grande e inesquecível mestre Mons. Pereira dos Reis, pela sua dedicação aos alunos e competência no domínio da psico-pedagogia educacional que ficariam para sempre gravadas na sua memória. Esta enorme figura sempre lhe mereceu um grande respeito e uma especial veneração.

Padre Correia da Cunha e Cónego Honorato Monteiro













Mas também houve outra grande e memorável sumidade, que mereceu uma profunda admiração por parte do Padre Correia da Cunha. Era deão da Sé Patriarcal de Lisboa, prestigioso membro do clero do Patriarcado de Lisboa e secretário privativo do Cardeal D. Manuel II Cerejeira. Mons. Dr. Carneiro Mesquita (1880-1962) era um ‘’familiar’’ para o jovem presbítero.


O Padre Correia da Cunha lia muito e gostava de reflectir e abordar com este arcediago todos os temas relacionados com o pensamento filosófico e teológico, versus doutrina social da Igreja. O Dr. Carneiro Mesquita e o Pe. Correia da Cunha eram dois eloquentes pensadores católicos. Tinham em comum, como amigos, os mais reputados teólogos e filósofos que eram fontes de inspiração importante para a cultura cristã e intelectual daquela época. Creio ser de elementar justiça lembrar aqui, Mons. Dr. Carneiro Mesquita cuja memória, se mantém viva no coração de muitos que usufruíram da sua estima e amizade e que continua perpetuada na Fundação, com o seu nome, na terra que ele tanto amava; Fontes – Santa Marta de Penaguião.

O Mons. Dr. Carneiro Mesquita fez o curso teológico no Seminário de Lamego. Doutorou-se em direito pela Universidade de Coimbra. Prelado doméstico do Papa foi elevado a protonotário apostólico, distinção das mais altas concedidas pela Santa Sé e que significou a exaltação das virtudes do ilustre sacerdote, que tão notáveis serviços prestou à causa da Igreja e em vários sectores da vida nacional.





Quero hoje trazer à memória aquele dia, na companhia de Padre Correia da Cunha, no seu carro mini, em que ele se lembrou de fazer um profundo pensamento sobre a humildade que era a qualidade que mais venerava nas pessoas. Dizia ele: Humilde é aquele que enxerga todos à sua volta como seres iguais e merecedores de felicidade. A verdadeira humildade deixa o homem mais confiante. Só quem tem plena consciência dos seus valores não precisa de actos de demonstração de poder e exibicionismo, pois conhece a importância da sua contribuição para uma situação seja ela qual for. E sem dúvidas o meu saudoso amigo Dr. Carneiro Mesquita preenchia todos estes dotes.

Para o Padre Correia da Cunha não era casualidade que a palavra humildade viesse do latim, humilis, que por sua vez está ligado ao radical húmus. O que é húmus ? – Terra fértil. Afinal de contas, não somos todos feitos da mesma coisa? – ‘’do barro viemos, ao barro voltaremos. ‘’PCC

Mons. Carneiro Mesquita era um homem humilde, bondoso e com largo espírito de altruísmo, respeitado e estimado por todos os fieis do Patriarcado de Lisboa. Pelas suas tarefas, convivia diariamente com o Cardeal Patriarca, que era um diplomata, rigoroso, firme e profundo nas suas seguras directrizes para responder aos problemas essenciais do Patriarcado de Lisboa.




Confidenciou-me o Padre Correia da Cunha que o Cardeal Patriarca D. Manuel II, Cerejeira se notabilizava na teimosia das posições tomadas.

No Paço Patriarcal havia um só homem, de hipersensibilidade a que se juntava uma inteligência extraordinariamente lúcida, que conseguia fazer recuar Sua Eminência em algumas das suas implacáveis determinações que não eram acolhidas com bom aprazimento pela comunidade: Era o Dr. Carneiro Mesquita.





Padre Correia da Cunha conhecia o segredo do Dr. Carneiro Mesquita. Não era a intelecto, nem a perspicácia… era simplesmente a humildade. Dr. Carneiro Mesquita tinha a cultura da verdadeira e sincera humildade que sempre colocou nos seus mais elevados valores.


Como também já referi Padre Correia da Cunha era puro, simples e humilde com um total desprendimento das honras e títulos terrenos.


Mas é curioso, a ambos fora atribuídas condecorações nacionais, como recompensa do mérito e dos serviços prestados à comunidade. O Dr. Alberto Carneiro Mesquita com o grau de comendador da Ordem de Cristo e Oficial da Ordem do Cruzeiro do Sul. O Pe. Correia da Cunha com as insígnias de comendador da Ordem de Cristo e oficial da Ordem do Cruzeiro do Sul. Estas honras nacionais foram certamente entendidas como uma gratidão do país pela riqueza dos dons de Deus a estes dois sacerdotes de inteligência poderosa, profunda e de uma enorme sensibilidade e apurado gosto pelas várias artes. Não seria o reconhecimento das suas humildades?


Também nos ofícios fúnebres de ambos não faltaram muitas individualidades de várias categorias sociais e inúmeras pessoas das classes pobres a quem ambos ao longo das suas vidas protegeram.


O Dr. Alberto Carneiro de Mesquita deixou testamentalmente, que à sua terra amada - Fontes, as suas propriedades e bens fossem entregues a uma Fundação que continuasse a distribuir apoio ás famílias carenciadas. Como era de família abastada repartiu pelos pobres aquilo que lhe pertenceu.


Mas Padre Correia da Cunha, oriundo de família modesta não é qualquer um. Deveria ser homenageado com o seu nome de rua, na Freguesia de São Vicente de Fora. Bairro onde tanto trabalhou em prol da comunidade e onde tanta consideração e apreço recebia dos mais humildes da freguesia.


Na toponímica deveria constar: PE. JOSE CORREIA DA CUNHA – 1917-1977 - MESTRE DE VIDA.





















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