domingo, 24 de julho de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA E O ALM. GAGO COUTINHO

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ADEUS, GLORIOSO ALMIRANTE...



Poucos dias antes de o seu estado de saúde se agravar irremediavelmente, quando a morte lhe rondava já o leito no Hospital da Marinha, no Campo de Santa Clara – Freguesia de São Vicente de Fora,  o Padre Correia da Cunha aproximou-se do Almirante Gago Coutinho, e com muita cautela e perspicácia, pois sabia que este não era um devoto praticante e “fraco crente”, falou-lhe do sacramento da Confissão (Penitência).

Seria um gesto simples de humildade, sem afectações e sofismas. Feita sim com recta intenção, isto era, sem ser por motivos humanos, mas unicamente para pedir perdão a Deus Pai e Criador.

- Pois é claro, respondeu o Almirante Gago Coutinho – sempre fui um homem de boas contas. Também as quero com Deus…

Segundo testemunho do Visconde do Botelho, Gago Coutinho terá feito a sua confissão com o Capelão Correia da Cunha.

Camões era o poeta da admiração deste ilustre Almirante. “Os Lusíadas” era o guião venerável do seu enorme patriotismo ao qual somaria no final da sua vida outro importante livro: “A Bíblia Sagrada”.

Padre Correia da Cunha partilhava com o famoso Almirante Gago Coutinho uma paixão comum: a Comunidade Luso-Brasileira. Todos reconheciam que ele conquistara o coração da Nação irmã. Ali era entusiasticamente acolhido e respeitado pelas mais importantes individualidades e elites do Brasil, pelo seu saber, simplicidade e o seu alto espírito. Recordo palavras do amigo Almirante que foram transmitidas ao Capelão Correia da Cunha:

“Não nos esqueçamos de que há uma gigantesca estátua de Cristo Rei, com eloquente expressão da Fé brasileira no alto do Corcovado, e de que Lisboa também já possui o seu majestoso monumento a Cristo Rei. Não são dois Cristos, mas um só, e de braços abertos para o Mundo. Assim, Portugal e Brasil devem continuar a ser uma só alma – aberta a todos os horizontes.”
 





Naquele dia 18 de Fevereiro do ano de 1959, depois de cerrados os seus olhos piedosamente pelo seu bom amigo, Comodoro Luís de Noronha Andrade, todos os presentes naquele quarto deram conta que a Armada acabava de sofrer um enorme e rude golpe com a perda do notável Almirante Gago Coutinho, que tanto a prestigiou e honrou.


Nascera na freguesia de Belém, em Lisboa, a 17 de Fevereiro de 1869, tendo falecido com 90 anos. Tinha a lápide do seu túmulo preparada, para a qual ele próprio redigiu o epitáfio: Gago Coutinho – geógrafo. Estavam já gravadas as datas de 1869, do nascimento e de 195., que seria a do falecimento. Nesta faltava-lhe só o último algarismo. Se ele tivesse vivido mais um ano, outra pedra teria de ser encomendada.


Segundo as suas disposições, o seu funeral seria modesto e muito simples, num despretensioso caixão de pinho. Dispensava as honras militares a que tinha direito como oficial general da Armada Portuguesa.

Este homem humilde, que viveu toda a sua vida com simplicidade, quis baixar à sepultura sem qualquer sinal que o distinguisse do seu semelhante.


Na pequena, mas bela Capela de São Roque do antigo Arsenal da Marinha, o cerimonial celebrado pelo Reverendo Padre Correia da Cunha não teve, por respeito à vontade expressa pelo Almirante, grandes solenidades, que se impunham à sua categoria de herói, sábio, marinheiro, aviador, geógrafo, matemático e historiador.


Contou com a presença dos notáveis colegas da Marinha Portuguesa: Comodoro Eduardo Scarlatti, Comodoro Noronha de Andrade, Comodoro Telmo Correia, Comodoro Negrão Neto, Comodoro Conceição Rocha, Comodoro Alves da Silva, Comodoro Sarmento Rodrigues, Almirante Sousa Faro, Almirante Nuno Brion, Almirante Marques Esparteiro, Almirante Filipe Castela, Almirante João Fialho, Almirante Sousa Uva, Almirante Alves Leite, Almirante Guerreiro Brito e Almirante Oliveira Pinto, entre outros.


Que maior honra poderia ter esse bravo e lucidíssimo Almirante do que sentir-se mergulhado na emoção dos seus colegas que o admiravam e que naquele instante doloroso lhe quiseram prestar uma última e sentida homenagem com as suas presenças. Ele assim viveria eternamente nas suas lembranças.








A sua vontade contudo, não poderia impedir o sentimento da Nação e sobretudo o do povo português, que se manifestou tão expressivamente com foros de glorificação.


O Governo Português declarou luto nacional e associou-se à manifestação fúnebre com uma larga representação. O Presidente da República e todas as mais altas individualidades entre as quais: Príncipes da Igreja, Embaixadores, Reitores de Universidades, Professores Catedráticos, Generais, Escritores e Industriais do País fizeram questão de prestar uma sentida homenagem de apreço pelo saber, pela sua prestigiosa personalidade de português, que muito nobremente serviu Portugal.

O povo formou longas alas para ver pela última vez a passagem do armão que transportava o ataúde coberto com a bandeira nacional. Havia muitos olhos com lágrimas de piedade e soluços comovidos pela perda deste Homem pequeno, franzino, moreno que descendia de uma estirpe nobre caída na plebe, como ele gostava de lembrar.


Na sua actividade científica era incansável. Tinha uma ternura especial pelas crianças, amava as coisas simples e as coisas belas da vida. Era um homem popular e muito querido em todo Portugal. Por isso o povo saiu à rua para chorar a sua morte e a perda de um grande patriota que deu imensas provas de amor ao seu amado País.


Lembro que o Padre Correia da Cunha manifestou, ao longo da sua vida, uma profunda saudade por este Nobre Almirante e referia que todos nós nos deveríamos curvar em memória deste verdadeiro herói nacional!


Adeus glorioso Almirante!


























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1 comentário:

  1. Gago Coutinho quis o nome gravado na sua modesta campa rasa apenas com a designação de GEÓGRAFO. Mas os homens não morrem por completo enquanto a sua memória se perpetuar nas obras que nos deixaram. Além do que nos legou como geógrafo e como historiador dos descobrimentos de quatrocentos, o seu nome ficará para sempre na História como o homem de ciência que tornou possível e participou na heróica primeira travessia aérea do Atlântico-Sul. Os nomes dos santos, dos grandes sábios, dos grandes artistas, dos grandes pensadores, e dos heróis, que tantas vezes se confundem na mesma pessoa, pelo menos nalguns dos seus aspectos, ficam para sempre nos Anais da Humanidade. Gago Coutinho foi um homem bom, um sábio, e um herói, que já pertence à História como uma das grandes figuras da grei lusitana. ARMANDO CORTESÃO

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