sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA E O INVERNO

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’O inverno é a pedra de toque dos corações com sentimentos.’’


As manhãs gélidas de inverno rigoroso chegavam à Paroquia de São Vicente de Fora, frias como as atitudes e corações de certos homens, assim o referia Padre Correia da Cunha.



Já não se ouviam os cânticos melodiosos dos pássaros, nem se sentia o perfume das flores dos belos jardins da paróquia. Naqueles tempos de dificuldades e inquietações, o conforto dos lares não era comparável ao existente nos dias actuais. A vida era totalmente diferente.




Uma vez o Padre Correia da Cunha foi convidado para jantar em casa de uma ilustre família da comunidade. Estes convites eram efectuados quotidianamente, pois todos gostavam de saborear o convívio com a adorável presença deste bondoso e desprendido sacerdote de elevada e insuperável cultura.




No final da refeição, quando se preparava para regressar à residência paroquial, sem um agasalho que fizesse frente ao cortante frio que se fazia sentir pelas ruas desertas e melancólicas da paróquia, onde a aragem fria chicoteava os solitários caminhantes.




Prontificou-se o dono da casa a oferecer ao Padre Correia da Cunha um quente sobretudo, de excelente qualidade, para o poupar a tão dura provação na marcha até casa.


Esta oferta generosa e de elevados sentimentos do seu bom amigo visava proporcionar ao Padre Correia da Cunha um inverno mais suave ao tormento do arrojado frio que se fazia sentir naquele rigoroso inverno em Lisboa.




Semanas depois, num dia de imenso frio e de um vento encrespado de arrepios e com forte cheiro a inverno, o Padre Correia da Cunha é avistado pelo seu generoso amigo sem qualquer espécie de agasalho, que o levou a interpelá-lo:



- Padre Correia da Cunha o que é feito do sobretudo que lhe ofereci?



- Sabe, apareceu um que precisava mais do que eu…



Perante esta pronta resposta não houve mais comentários.

Às vezes há instantes que não têm preço. A solidariedade humana é um gesto de bem que se estabelece entre os que sentem de perto o sofrimento do seu irmão.



O Padre Correia da Cunha era assim, propenso à solidariedade humana, compreendendo muito bem as realidades humanas quotidianas, pois andava a pé ao longo das ruas e ruelas da paróquia. Na sua simplicidade de criatura comum, possuía um ideal de humanidade solidária. Só assim era feliz, pois procurava ser coerente com os princípios que pregava do púlpito da sua igreja. Detestava os privilégios e distinções.



O Padre Correia da Cunha era um idealista, sonhador, gostava de olhar a vida pelas frestas da simplicidade e humildade. Era um simplório cheio de ilusões que por vezes nem ilusões eram.



As palavras de Cristo referia Padre Correia da Cunha foram e continuarão a ser aproveitadas por muitos para assegurarem e assumirem a superioridade sobre os outros seus irmãos. Nada de mais aberrante, uns impostores…




Jesus Cristo sempre pregou a humanidade, a solidariedade e morreu esticado numa cruz convicto Ele que os homens o seguiriam.

Mas diante desta frieza humana resta aos irmãos mais carenciados que alguém lhes ofereça um capote de esperança para que nos dias mais frios da vida possam ter um derradeiro agasalho.



 Nos tempos difíceis que vivemos saibamos contribuir para a construção de uma comunidade mais justa e fraterna em que os sem abrigo, chicoteados pelo frio cortante do inverno, possam contar e confiar em homens determinados e abnegados em abraçar a causa do serviço a favor da sociedade.

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