sexta-feira, 13 de julho de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA – OBJECTIVO, VENTOS DE MUDANÇA!

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“ PARA A CONSTRUÇÃO DE UM

 MUNDO MELHOR! "






Os finais dos anos sessenta foram tempos de fortes mudanças. Deu-se uma espécie de furacão humano generalizado que trouxe à tona a insatisfação juvenil.

Terminado o Concilio Vaticano II chegava a Portugal a necessidade de se renovar a Igreja, crescentemente dividida numa corrente conservadora e outra reformista.

Muitos católicos e sobretudo a juventude portuguesa estavam desiludidos com o regime vigente e com a hierarquia da Igreja, pelo que aproveitavam para manifestar a sua fidelidade ao papa.  

Era uma época mítica para as transformações, políticas, religiosas e comportamentais que toda a sociedade portuguesa estava a viver de uma forma irreversível.

Foi neste clima que nasceu a 31 de Outubro de 1971, o grupo OBJECTIVO, composto por jovens de ambos os sexos, assistindo-lhes o ideal de bem servir no Amor em Cristo, a Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora.





«Em Paz para construir um Mundo Melhor» foi a divisa escolhida para lançarem o convite a todos os jovens da Comunidade Paroquial, como podemos verificar no documento histórico de 14 de Outubro de 1971.

 Ao longo do primeiro ano de existência foram desenvolvidas imensas actividades visando uma maior aproximação e conhecimento humano entre todos os elementos do embrionário grupo.

União na verdade, solidariedade e espírito comunitário eram as condições julgadas essenciais para se encetar um trabalho profícuo de serviço a Jesus Cristo e a todos os irmãos.





Com um líder espiritual de uma nova geração de Padres, o Beneditino Ismael Sanches, professor no Ext. F. Luis de Sousa  e dirigente da JUC, o sacerdote era um reivindicador de maior justiça social e instauração de uma ordem radicalmente nova.

Recordo que os encontros deste grupo de jovens eram diferentes de todos os que aconteciam naquele tempo. A missa especial para jovens aos domingos ao meio-dia, originou uma espécie de resistência entre muitos dos frequentadores mais conservadores da paróquia, ao escutarem as músicas de violas com melodias e ritmos da época. As homilias eram autênticos clamores por liberdade e libertação. A Igreja era a gesta libertadora de Jesus Cristo vivo, cujo sonho era um Reino de Justiça, Amor, Perdão e Paz.  

O Padre Correia da Cunha dava conta que se estava a instalar uma crise na Igreja e ventos de mudança na sociedade portuguesa. Crescentes manifestações de leigos, contestação em matérias litúrgicas, quebra de entusiasmo pastoral e apostólico e o aparecimento de uma juventude comprometida na busca de uma Igreja mais humana e com novas formas de convivência.

Pressenti, que o Padre Correia da Cunha apercebendo-se dos novos rumos, queria dar a sua vida de padre, ser um irmão mais velho, ajudando os jovens a viverem estes tempos na experiência da fé e do amor no encontro com Cristo. Creio que até tinha algum fascínio em perceber estas mudanças que estavam ocorrer na pastoral da juventude da sua paróquia, enfrentando com toda a serenidade e simplicidade esta “tempestade” pois era um homem de fé, mas reconhecia os seus defeitos. Nunca poderia abdicar de defender os direitos da pessoa humana, o culto da pátria, a justiça social e a promoção dos mais desfavorecidos…como referia: “a mudança tem de ser feitas com todos, os que andam mais de pressa e os que andam mais devagar.”





Continua em mim um grande desejo, que todos os jovens do Grupo OBJECTIVO de São Vicente de Fora: Pe. Ismael Sanches, Rui Aço, Carlos Pereira, Zélia Nunes, Mila, Maria de Jesus, José Luís Coelho, Luísa Beato, Angelina Manata, Cristina Barradas, Alcides Rodrigues, Carlos Gordett, Amadeu Bico, Alice, Isidro Marques, Dulce, Manuel José, Neves, João Alberto Martins  … partilhem as suas experiências vividas neste grupo de jovens como construtores de um Mundo JUSTO, FRATERNO E HUMANO.

Já passaram mais de quarenta anos sobre a fundação do OBJECTIVO, mas as referencias mantem-se bem vivas nos corações dos seus elementos. Hoje todos vivemos realidades diferentes, mas os valores ali apreendidos continuam a ser apoio para o nosso compromisso e empenhamento na busca de uma sociedade que se requer com mais Justiça e respeito pela dignidade humana.

Agradeço ao Manuel José e José Luís Coelho as fotos que ilustram este post tiradas em Encontros realizados na Serra da Estrela, Convento de Cristo Tomar, Seminário de Almada.

Temos a herança e responsabilidade de com alegria e esperança manter o sonho, pelo que  penso sinceramente que devíamos dar vida à sugestão do grande Rui Aço: Realização do I Encontro dos Jovens do Grupo OBJECTIVO e famílias, no dia 23 de Setembro próximo, proposta de jornada:

PROGRAMA
10.00 Horas – Missa por alma de Padre José Correia da Cunha (1917-1977) (ANIVERSÁRIO), Natália Oliveira Sales (1951-2011) e Ala dos amigos de PCC.

11,30 Horas – Visita guiada ao Mosteiro de São Vicente de Fora

12, 30 Horas – Almoço de Confraternização no Mosteiro de São Vicente de Fora

16.00 Horas – Romagem ao mausoléu dos seus restos mortais, no Cemitério do Alto de São João. (Rua 57ª – 36831)

19.00 Horas – Concerto de Órgão em São Vicente de Fora



Aguardo os vossos comentários e sugestões!





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quarta-feira, 11 de julho de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA E O ORGANISTA DILECTO

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“ Naquele órgão havia uma infinidade de melodias adormecidas, à espera que Michael Kearns as acordasse do seu sono…”






 

O Padre Correia da Cunha, dono de um imenso talento e de grande sensibilidade musical admirava e compreendia como ninguém o génio dos grandes artistas. Hoje iremos lembrar um dos seus dilectos organistas: MICHAEL KEARNS.

Nascido no Canadá, fez os primeiros estudos musicais no Conservatório Real de Toronto. Premiado com uma bolsa de estudos pelo Governo Francês, esteve seguidamente em Paris, durante quatro anos, a estudar análise musical com Nadia Doulangedr e cravo com Raphael Puyana.

Apaixonado pela música e instrumentos do século XVII, MICHAEL percorreu a Inglaterra, Bélgica, Holanda e Espanha para tocar órgãos e cravos antigos, aprofundando assim os seus conhecimentos sobre a música daquela época (interpretação e estilo).

Esteve em Portugal desde Outubro de 1968 como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para investigar a Arte Barroca Portuguesa sob a direcção do Prof. Santiago Kastner.

MICHAEL deu concertos e recitais em várias cidades canadianas e europeias. No ano de 1967, tocou em St. Séverin de Paris a Oratória St. Joseph à Montreal, tendo também realizado concertos para a Société  Rudio – Canadá,  para a ORTF (Televisão Francesa) e para a nossa  Emissora Nacional. Em Setembro de 1968 acompanhou o violinista Yehudi Menuhin e a Orquestra Nacional do Mónaco sob a direcção de Igor Markevitic. 

O Padre Correia da Cunha para coroar as festividades em honra de São Vicente que se celebravam a 22 de Janeiro de cada ano, promovia em colaboração com a Camara Municipal de Lisboa a realização de um concerto de órgão na igreja do santo diácono. Convidava para o efeito os maiores organistas seus amigos.

Recordo hoje uma pequena história: O Padre Correia da Cunha ao tomar conhecimento da reconhecida impossibilidade da vinda do organista francês Francis Chapelet para o concerto agendado para o dia do Santo Padroeiro de Lisboa, teve de propor à última hora, ao Presidente da Camara, o nome do jovem MICHAEL KEARNS afiançando-lhe tratar-se de um dos mais conceituados e prestigiados organistas internacionais.



A Presidência da Camara Municipal de Lisboa atendeu à sua proposta e consentiu a alteração de última hora. Naquela noite a edilidade pôde oferecer aos seus munícipes, na grandiosa igreja do Santo Patrono uma realização artística do mais elevado nível. Recordo que esse concerto foi um grande acontecimento artístico não só pelo órgão ser considerado um dos melhores instrumentos daquela época áurea mas por terem sido executadas em primeira audição musical, vários manuscritos do setecentista Frei Conceição da Cidade do Porto.

Este jovem organista desde a primeira hora se deixou entusiasmar pelo órgão de São Vicente de Fora.

 MICHAEL KEARNS diariamente se deslocava à Igreja de São Vicente de Fora demostrando assim o extraordinário interesse e evidente devoção que possuía por aquele instrumento singular.


Afirmava o Padre Correia da Cunha que poucos como MICHAEL conheciam as possibilidades e recursos do nosso órgão ibérico. Os bons apreciadores de música adoravam escutar as suas execuções artísticas disfrutando também da excelente qualidade arquitectónica do templo renascentista.

  

O Padre Correia da Cunha era com orgulho que ouvia da parte de célebres organistas grandes elogios, ao talento e modéstia do organista e cravista MICHAEL KEARNS. Apesar de ser dotado de génio, não lhe era difícil criar amigos e conversar alegremente com a juventude da Comunidade Paroquial. Todos lhe tributávamos muita admiração pela sua enorme simpatia e cortesia.



Ao escrever este breve texto de Homenagem ao organista predilecto do Padre Correia da Cunha consigo recuar no tempo e lembrar os muitos e bons momentos musicais escutados durante a minha adolescência e juventude em São Vicente de Fora.



Parece hoje intangível a paixão que acendia na imensa juventude de São Vicente de Fora ao escutarmos em total silêncio os recitais de órgão, pelas mágicas mãos do genial amigo MICHAEL.



Gostaria de agradecer ao Padre Correia da Cunha e aos muitos organistas que nos guiaram na descoberta da mais bela música organistica que nos permitia experimentar a maravilha da pura beleza e nos elevava a um estado espiritual que invadia de alegria os nossos corações. Bem Hajam!



O Padre Correia da Cunha como brilhante clérigo, humanista e distinto pedagogo bem sabia que desde o momento da criação que o desejo mais profundo do nosso coração é ter a união perfeita com Deus.



Reconheço hoje que as suas longas prelecções sobre a temática da música erudita que teimosamente pretendia levar ao nosso mundo irreal era a metodologia para nos ajudar a crescer e a viver na Graça. Com essas experiencias ali vividas, ouvindo o esplendoroso órgão e as deslumbrantes orquestras, ainda hoje, compreendo bem que contribuíram para recuperar a nossa identidade como Filhos de Deus.











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segunda-feira, 2 de julho de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA A ARTE E A MUSICA DE ORGÃO

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“A música daquele órgão eleva os nossos corações em louvor a Deus e à mais grandiosa beleza…”








Não há missão mais nobre e sublime na terra para um homem, que testemunhava a sua profunda fé ao Eterno, do que procurar levar aos seus irmãos paroquianos a música com toda a sua majestade e beleza.


Com muita satisfação, publico o seguinte artigo inédito do Padre Correia da Cunha, escrito no ano de 1969, sobre a arte e a música organística:


“O órgão não é só um instrumento de música, é também uma peça de arquitectura, pois pela sua grandeza, pelo seu estilo e pela sua estética.

Assim, cada país, no decurso dos séculos, cria um tipo de órgão que difere do país vizinho; e, neste domínio, é, sem dúvida, na península ibérica que surgem os órgãos mais característicos e mais diferenciados.

O órgão desta igreja (São Vicente de Fora), que resplandece com sua talha dourada e que nós nos deleitamos a ouvir é um dos mais belos do mundo e ainda, felizmente intacto, tal como o seu genial autor o concebeu há mais de duzentos e cinquenta anos.

É a mais bela jóia, representativa da arte organística portuguesa.

Para instrumentos de tal raça, escreveram os compositores hispano- portugueses uma música muito particular: os chamados TIENTOS ou TENTOS, profundos e brilhantes, e as BATALLAS cheias de surpreendentes efeitos e contrastes.

Desconhecidos durante muito tempo, esses músicos saem pouco a pouco da sombra. E a sua música impõe-se agora a um público curioso e apaixonado.

Em parte alguma, porém, essa música se pode apreciar melhor do que num órgão como este para o qual parece ter sido composta.

Como o seu vizinho ibérico, o órgão clássico francês é um instrumento muito colorido, concebido com um espírito decorativo.

Freinsberc-Cuilain, compositor francês completamente desconhecido, de quem quase nada se sabe, deixou obra que possibilitou o ensejo de conheceremos composições que eram habituais nos órgãos clássicos franceses.

Os Couperin, constituem a mais famosa família de organistas da época clássica francesa. Em pleno centro de Paris, perto da Catedral de Notre Dame, encontra-se a Igreja de S.Cervais. Foi aí que, no órgão que ainda existe, a família Couperin executou a sua arte.

Luís Couperin, o pai, compôs a Chacone em Fá maior, onde refrãos e couplets  se alteram,  e uma fantasia de um aspecto sumptuoso e decorativo.

Mas a minha homenagem vai sempre para J.S.Bach, o rei dos organistas, cuja sua música, alvejada por neste magnifico órgão é uma magnificência sem igual.”




A organização de concertos de órgão era bem reveladora do interesse que o Padre Correia da Cunha colocava na elevação do nível cultural dos seus paroquianos.

Naquela imponente Igreja de São Vicente de Fora, todos sentimos a sublimidade da boa música de órgão, o rei dos instrumentos, que nos cercava por todos os lados e nos elevava a alma ao mais profundo do belo.

O Padre Correia da Cunha não gostava de elogios pela sua total entrega a uma das suas maiores paixões que era a música erudita, que ouvia nas gravações dos melhores artistas do mundo, na sua aparelhagem estereofónica de marca QUAD, oferta do seu amigo do coração Rui Valentim de Carvalho. Durante a audição, desligava-se de tudo e todos os que o cercavam.






Curiosamente era um grato prazer para o Padre Correia da Cunha proporcionar Concertos de Música de Órgão com a apresentação de famosos artistas que vinham a Lisboa para brindar o público, amante da arte da boa música organística, com maravilhosos recitais.





Creio que era uma das suas secretas missões: utilizar a sua brilhante inteligência e sabedoria musical, para movimentar e apaixonar multidões, semeando nos seus corações a mensagem de Cristo.



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