segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E CARTA ABERTA SOBRE O NATAL
















PRESÉPIO SÃO VICENTE DE FORA - 1964



“ GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS, E PAZ
 NA TERRA AOS HOMENS DE BOA
VONTADE.”




Envolvidos na devota fé cristã, com as nossas almas cheias de alegria e paz, preparamos-nos, uma vez mais, para celebrarmos as festividades do nascimento do Deus Menino.

Natal é festa de família! Lares em festa onde puros sentimentos de afectos familiares se espelham.

Mas nas encantadoras festas de Natal sempre se conservam lembranças e saudades do Natal vivido nas nossas infancias que, no meu caso, foram na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, junto do Padre Correia da Cunha.

Transcrevo hoje, uma carta aberta sobre o Natal, dirigida pelo Padre Correia da Cunha aos seus estimados e adorados paroquianos.

O Padre Correia da Cunha, o primeiro responsável daquela imensa família, que era a sua paróquia, tinha todos os anos o desejo ardente de afogar a solidão e a tristeza de muitos irmãos. A esses irmãos, tristes e sem nenhum carinho, apenas lhes restava esperar, sempre esperando…uma reconfortante esperança por melhores dias e que a mensagem, dada naquele humilde presépio de Belém, fosse acolhida pelos corações dos Homens.








Caríssimo e estimado Paroquiano

Estamos às portas do Natal, solenidade celebrada por todos, mesmo não cristãos, com o sentido, pelo menos de Paz e de Alegria.

Não vamos tecer considerações a propósito dos muitos e variados aspectos dessa festa nem sequer de modo como é celebrada. Não é esta a forma mais adequada de o fazer. Mas pensamos que você, como paroquiano que é, tem o direito de saber o que a nossa comunidade paroquial, planeou fazer para celebrar o Natal e ainda o direito de colaborar connosco se assim o entender.

Para os cristãos, o Natal é acima de tudo uma lição e uma vivência de caridade, lição e vivência essas baseadas na atitude do próprio Deus que, unicamente por amor de nós, se fez Homem para viver connosco e partilhar connosco a sua própria Vida Divina, constituindo-nos seus irmãos e, portanto, herdeiros do seu Reino. Por isso mesmo, é que pensámos que a nossa paróquia deveria celebrar o Natal de uma maneira autêntica e viva, mostrando que estamos aprendendo a referida lição e que procuramos pô-la em prática.

Baseados, pois, nesta concepção do Natal e desejando respeitar os direitos que como paroquiano (direito de saber e de colaborar), passamos a expor-lhe os nossos planos.

É claro que celebraremos com toda a solenidade possível a Liturgia Eucarística própria dessa festividade. Temos a Missa do Galo e as Missas habituais do dia de Natal. Para estes actos do Culto Divino, como aliás para todas as funções religiosas da Paróquia, está sempre convidado: A Paróquia é a sua paróquia, sem a sua presença a paróquia não está completa.

Pensando que na nossa paróquia pode haver quem, na véspera do Natal, não tenha à sua volta o carinho nem o conforto de familiares ou amigos, e, portanto, se encontre sozinho numa ocasião de tanta alegria – queremos convidar essas pessoas para fazerem connosco aqui, nos claustros da nossa igreja, a sua festa da consoada que começará pelas 20 horas do dia 24 de Dezembro.

Não importa que sejam pobres, remediados ou mesmo abastados. Nem importa que sejam ou não cristãos. O que importa é que sejam pessoas da paróquia e estejam sós nesse dia, sem o calor de uma amizade.

Se souber de alguém nestas condições, pode desde já em nome da nossa Família Paroquial convidar essas pessoas para tomar parte da nossa consoada. E, se aceitarem o convite deve comunicar-nos o facto até ao próximo dia 19 de Dezembro, responsabilizando-se pela verdade da comunicação. Assim ficaremos com cinco dias para arranjar a mesa fraterna em condições de todos serem servidos capazmente, sem vergonhas para ninguém


GRUPO CATEQUISTAS S.VICENTE - 1966



Como uma paróquia deve ser uma comunidade ou família em ponto grande, pareceu-nos a nós que deveríamos também, ao menos na quadra do Natal, demostrar publicamente por meio de um acto concreto – que dela fosse visível sinal – a amizade fraterna que nos deve ligar a todos os paroquianos, mas absolutamente a todos. 

Para tanto, pensámos organizar um convívio, à escala paroquial, em que todas e cada uma das famílias da paróquia venham partilhar fraternalmente com os outros o pão da sua mesa, sem nenhuma acepção de pessoas nem de posições ou situações sejam elas quais forem.

Quem celebra o Natal, é porque, como irmão e em espírito de família, quer viver em paz, e amizade com os outros. Se assim é, disso temos de dar testemunho. Pois bem. Não será possível encontrarmo-nos todos (os que pudermos, é claro) à volta da mesma mesa numa demostração de fraternidade? Se cada família trouxer uma refeição volante (género pic-nic) em quantidade bastante para todos os seus membros, decerto chegará para todos os paroquianos comungarem à mesma mesa de uma fraternidade amizade.

No entanto para que este convívio decorre na melhor ordem e não redunde num fiasco, é necessário estabelecer um mínimo de organização. Por isso, se concordar com a ideia e quiser tomar parte no convívio, terá de se inscrever até ao dia do Natal para termos tempo de arranjar as coisas nas devidas condições para o dia 3 de Janeiro, data em que está previsto o Convívio Paroquial. Portanto, o convívio está aberto a todos os paroquianos sem distinção nas seguintes condições:

- Ser paroquiano; fazer a sua inscrição até ao dia de Natal deste ano; trazer os alimentos até às 17 horas do dia 3 de Janeiro dia convívio.

Dentro ainda da nossa concepção do Natal, pensamos também apelar para a generosidade de todos os paroquianos em favor dos irmãos mais necessitados.

Como sabe, há um organismo paroquial, chamada Conferência de S. Vicente de Paulo, cuja missão é fundamentalmente auxiliar os irmãos que vivem em circunstâncias mais difíceis. Esse organismo encarrega-se de, em nome de toda a paróquia, prestar a esses irmãos o auxílio possível, de realizar a partilha entre irmãos de sorte que se cumpra a Lei do Senhor: «DAR COM A MÃO DIREITA DE MODO QUE A ESQUERDA NÃO SAIBA.». Pois, a partir do próximo domingo, dia 30 de Novembro, todos podemos colaborar nas Campanhas da Generosidade Fraterna, dando anonimamente tudo o que pudermos para bem dos outros irmãos. Essas campanhas serão especificadas, semana a semana, até ao fim do ano. Assim teremos:

- A semana do arroz e do açúcar de 30 Novembro a 7 de Dezembro; a semana da massa, feijão e grão de 7 a 14 de Dezembro; a semana do azeite e do bacalhau de 14 a 21 de Dezembro; a semana do café, conservas e leite em pó de 21 a 28 de Dezembro.

À entrada da nossa igreja haverá recipientes para receber estas ofertas ou dinheiro. De tudo daremos contas na Folha Paroquial e num placard à porta da igreja. E tudo será distribuído pelas conferências de S. Vicente de Paulo oportunamente e consoante as necessidades dos nossos irmãos, dando-lhes também contas da distribuição feita, mas de forma a nunca ferir a modéstia de quem for beneficiado.

Para fecho destas celebrações natalícias, teremos uma representação de um Auto de Natal, no dia 4 de Janeiro, provavelmente no adro do Panteão de Santa Engrácia. Oportunamente confirmaremos o local e a hora.

Em vista do que fica dito, pedimos e agradecemos desde já uma resposta sua e comunicar-nos as suas impressões, ou sugestões ou qualquer outra forma de colaboração com que nos queira honrar.

Desculpe-nos o facto de lhe não termos enviado esta CARTA ABERTA pessoalmente e em carta fechada. Não temos infelizmente o ficheiro de toda a Paróquia. É trabalho que poderia agora começar-se com a sua ajuda… Por outro lado, também não somos ricos a não ser de coração. No resto, somos todos pobres e, por isso, não podemos gastar dinheiro em selos – temos de nos servir da generosidade de todos a começar pela das pessoas de boa vontade que com verdadeiro sentido de amizade fraterna fazem chegar este impresso às mãos de todos os paroquianos.

Para seu conhecimento, comunicamos que a comissão que planeou todo este programa é constituída pelo Prior e pelas Direcções da Catequese Paroquial, da Associação de Pais da nossa paróquia e das Conferências de S. Vicente de Paulo.

Agradecendo a atenção dispensada e o favor de uma resposta, fazemos sinceros votos por que o Deus Menino lhe traga a si a toda a sua família as melhores bênçãos e graças divinas.

Paróquia de São Vicente de Fora, 26 de Novembro de 1969



   O Vosso prior
   Pe. José Correia da Cunha







O Natal era a festa da família paroquial, em oferenda ao Deus Menino, numa vivência de fé e, no Natal de cada ano, o Padre Correia da Cunha sempre esperava milagres, que se concretizassem todos os ideais sonhados.
Com muita emoção, desejo a todos um Santo Natal!
AMÁLIA RODRIGUES - "Vi o Menino Jesus"




















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domingo, 8 de dezembro de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E A IMACULADA CONCEIÇÃO















A VOSSA CONCEIÇÃO IMACULADA, OH
MARIA ENCHEU O MUNDO INTEIRO DE
ALEGRIA!


A solenidade em louvor da Imaculada Conceição de Maria, Padroeira de Portugal, alcançava um brilho invulgar na Paróquia de São Vicente de Fora e caracterizava-se por uma distinta  festividade. O Padre Correia da Cunha tornava estas celebrações de uma forma verdadeiramente deslumbrante e duma grandeza emocial sem par, quando punha aquele templo repleto de gente a cantar hossanas à exclesa Mãe de Deus e Rainha dos portugueses.

PE. CORREIA DA CUNHA


A igreja de São Vicente de Fora apresentava sempre um elevado aglomerado de crentes. No  final do Evangelho, o Padre Correia da Cunha proferia eloquentes homilias que eram notáveis pelo pensamento e pela forma de relevo literário, mas de profundo sentido religioso. Para ele Maria! Senhora da Conceição significava a concepção da relação entre o Divino e o humano… Conceição era a sua verdadeira e eterna rainha.

ALTAR N. SRª  DA CONCEIÇÃO DA ENFERMARIA

 
No transepto do templo, o altar era decorado com as mais belas flores em toda a sua extensão para receber as manifestações de piedade e fervevoroso culto mariano. Era ali que se encontava a imagem de Nossa Senhora da Conceição da Enfermaria, evocada desde o primeiro Rei D. Afonso Henriques, e ao longo dos séculos pelos portugueses com comoventes e grandiosas celebrações.

O Padre Correia da Cunha via na figura materna de Maria, Mãe de Deus,  o modelo perfeito de mulher e de mãe, a cuja protecção tanto devia. Comovidamente, aludia : “ Que este júbilo de boa Mãe se nos pegue a todos nós; saibamos meditar e conservar estes ensinamentos no nosso coração!”.

A Imaculada Conceição é, segundo o dogma católico, a concepção da Virgem Maria sem mácula de pecado original.  A celebração de Nossa Senhora da Conceição, assinalada a 8 de Dezembro, foi definida como festa universal em 1476, pelo Papa Sisto IV.

Oito de Dezembro é uma data que, de Norte a Sul de Portugal, se celebra festivamente.








No dia 25 de Março de 1646, o Rei Português, fundador da Dinastia de Bragança, D. João IV promoveu uma cerimónia solene, em Vila Viçosa, para agradecer a Nossa Senhora a Restauração da Independência  de Portugal. Dirigiu-se à igreja de Nossa Senhora da Conceição que declarou Padroeira e Rainha de Portugal. A partir dessa data, mais nenhum Rei Português colocou a coroa na cabeça por se considerar que só a Virgem Nossa Senhora tinha esse direito. Nos quadros onde aparecem Reis ou Rainhas, a coroa está sempre colocada ao lado, sobre uma mesa, num tamborete ou almofada de cetim.

A importância de Nossa Senhora na vida dos portugueses está enraizada desde os primordios da nacionalidade. Maria é realmente a nossa mãe, porque Jesus a deu como mãe, não só aos que se encontravam junto da cruz do calvário, mas também a toda a humanidade, que a proclama Maria  bem-aventurada.

À semelhança do fazia o Padre Correia da Cunha no final destas celebrações marianas, hoje também somos convidados a aplaudir a nossa Mãe. Estas palmas são para ti, como sinal do nosso amor e do nosso carinho. E TODOS CANTEMOS:


Salve, nobre Padroeira
Do Povo, teu protegido,
Entre todos escolhido,
Para povo do Senhor.

Ó glória da nossa terra,
Que tens salvado mil vezes,
Enquanto houver Portugueses,
Tu serás o seu amor.

Com tua graça e beleza
Um jardim não ornas só,
Linda flor de Jericó,
De Portugal és a Flor!

Flor de suave perfume,
Para toda a Lusa gente,
Entre nós, em cada crente
Tens esmerado cultor.

Acode-nos, Mãe piedosa,
Nestes dias desgraçados,
Em que vivemos lançados
No pranto, no dissabor.

Lobos famintos, raivosos
O teu rebanho atassalham,
As ovelhas se tresmalham,
Surdas à voz do pastor.

Da fé a lâmpada santa,
Que tão viva outrora ardia,
Se teu zelo a não vigia,
Perde o restante fulgor.

Ai! da Lusa sociedade,
Se o sol do mundo moral
Se apaga… Ó noite fatal!
Ó noite de negro horror!

És a nossa Padroeira,
Não largues o padroado
Do rebanho confiado
A teu poder protector.

Portugal, qual outra Fénix,
À vida torne outra vez.
Não se chame Português
Quem cristão de fé não for.


8 DE DEZEMBRO – DIA DA MÃE

Renovemos hoje a nossa homenagem sincera, de todos os anos, no Dia da Mãe, e neste dia especial redobramos o respeito e o carinho que lhe dedicamos todos dias em reconhecimento aos seus desvelos e ao seu amor.

Que Deus a Proteja ou lhe conceda a Paz eterna.

























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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E A OBRA DO PADRE ABEL













«MÃOS QUE GUIAM, ORIENTAM,
PARTILHAM, SERVEM, ACOLHEM,
ACARINHAM, CORRIGEM, TRABALHAM,
 BRINCAM, SUSTENTAM E APONTAM
… SÃO OS PILARES DESTA
COMUNIDADE»





A obra da Imaculada Conceição e Santo António nasceu em 1952, face à realidade de miséria e exclusão social que o país vivia. Foi na igreja de Santo António situada junto da Sé de Lisboa, por iniciativa de um franciscano despojado de tudo, salvo do incomensurável amor pelas crianças – Padre Abel Henriques Correia Pinto. Um homem com grande conhecimento da fé, da verdade e do amor, tinha o coração aberto ao Mundo e nada queria para si. Confiava à providência divina a educação das suas crianças no caminho do Amor, que é o caminho do futuro! 

O magnânimo fundador franciscano, entendeu que não se tratava de construir uma obra, para miúdos órfãos, filhos de famílias desfavorecidas e abandonados, mas uma FAMILIA para crianças.

Timoneiro desta grande FAMÍLIA, o Padre Abel na sua casa acolhia rapazes e raparigas, com idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos. Lembro-me, que ele referia que nunca recusava uma criança pois havia lugar sempre para mais uma.







Em 1976, por iniciativa do Padre Correia da Cunha houve música, poesia, teatro e muita alegria… foi, sem dúvida um dia memorável que tive a oportunidade de participar e comprovar a forte amizade e laços de solidariedade existentes entre as crianças da Paróquia de São Vicente de Fora e as da grande família do Padre Abel Correia Pinto.

O Padre Correia da Cunha tinha um imenso e gratuito amor por esta obra do Padre Abel.Tomava as mais diversas iniciativas para que a paróquia de São Vicente de Fora auxiliasse estas crianças a terem uma instrução e educação, reconhecendo que eram sempre insuficientes os meios para as necessidades, daquelas centenas de crianças, acolhidas naquela providencial obra.
Passo a transcrever da Folha Paroquial de São Vicente de Fora, de Fevereiro de 1976, o anúncio da morte do “santo” Abel Correia Pinto (Pe) redigido pelo punho de Padre Correia da Cunha:










«O Padre Abel, todos sabem, morreu. Morreu no passado dia 4 de Janeiro, precisamente na véspera da festa que nós queríamos aqui fazer para as suas crianças da obra da Imaculada Conceição e de Santo António. Foi uma hora de luto e tristeza para aquelas crianças, para quantos conheciam aquela obra de Amor e nomeadamente para nós, paroquianos de São Vicente de Fora, que por diversas vezes, fomos a Caneças levar o nosso abraço e a nossa ajuda aquela grande Família e que na altura em que o Padre Abel Correia Pinto morreu íamos trazer cá as suas crianças, ainda lhes demos muitas roupas e quase $10.000 (dez mil escudos) em dinheiro. Lembram-se?

Pois o Padre Abel morreu. Mas a sua obra, fruto da caridade de um Santo, continua. E precisa, continuar a necessitar que todos saibamos viver em autêntica caridade, partilhando com ela o pouco ou muito que temos.

Hoje está à frente dessa obra o Padre Faria, também franciscano como o Padre Abel e com a mesma alma de apóstolo da caridade.

No passado dia 18, na festa, realizada nas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, para todas as crianças da nossa Catequese (e que foi um êxito), os próprios intervenientes na festa lembraram-se de repetir ou fazer uma outra para as crianças do Padre Abel.

Em princípio, está combinado fazer-se no dia 22 de Fevereiro. Vamos pedir à Direcção das O.G.F.E. licença para fazer no seu salão de festas (como foi a nossa). Esperamos e contamos com a boa vontade da Direcção das Oficinas e da sua Casa de Pessoal. Pensamos, pois trazer cá a São Vicente de Fora nesse dia 22 as crianças de Caneças da Obra do Padre Abel, que puderem vir.

Mas não basta fazer uma festa para elas. Sabemos todos que aquela obra não pode viver de festinhas, por mais bonitas que sejam. Também precisam de comer e de vestir ou de dinheiro para ajudar a vida daquela casa…









Por isso, pedimos a todos os irmãos paroquianos que ajudem, levem as nossas crianças a ajudar as outras e toda a nossa comunidade paroquial se empenhe seriamente a dar às crianças do Padre Abel tudo o que puder em roupas, calçado (em bom estado é claro – os pobres não são o caixote do lixo dos ricos) e dinheiro, além da festa que se lhes irá proporcionar.


Comecemos desde já esta Maratona de Caridade!

No cartório paroquial ou ao Prior pode entregar-se tudo o que quiserem dar para esta Obra tão querida!»

Foram muitos os anos em que o Padre Correia da Cunha ajudava com a colaboração da sua Comunidade Paroquial, as crianças da Obra do Padre Abel. Sentia uma imensa felicidade pelo brilho nos olhos daqueles miúdos. 

Lanço um desafio a todos, que neste próximo Natal, juntem roupas dos vossos filhos e brinquedos que se encontrem em bom estado e experimentem a sensação de felicidade infinita destas crianças.








Descobri no Padre Correia da Cunha que aquela obra do Padre Abel o fazia sofrer imenso, pois não pode haver dor maior que crianças privadas de um ambiente familiar normal e sobretudo da falta de uma figura notável de carinho, bondade e generosidade incomensuráveis que só uma mãe verdadeiramente pode doar. 

Há no amor da mãe portuguesa, o símbolo da abnegação, do carinho e do sacrifício. Em muitos momentos o ouvia trauteando letras de fados cujos acordes sentimentais o entristeciam e o sensibilizavam no íntimo da sua alma. O Padre Correia da Cunha bem traduzia essa alegoria nesses poemas de um fado que espalhava pelos claustros do Mosteiro na sua voz de fadista:



Eu vi minha mãe rezando
aos pés da virgem Maria,
era uma santa escutando
o que outra santa dizia.



Eu vi minha mãe rezando
numa prece doce e pura;
por todos estava orando,
com grande amor e ternura!

A minha mãe, ajoelhada,
aos pés da virgem Maria,
parecia a madrugada
ao romper de um novo dia!




Como um sol que vem raiando
vislumbrei com emoção:
era uma santa escutando
da outra santa, a oração!

Unidas, no mesmo amor,
a mãe de Jesus, ouvia,
com carinho e com fervor
o que outra santa dizia.



Embalando os sonhos meus
Nos braços de quando em quando
Seus olhos fitando
O infinito dos céus


A pedir por mim a Deus
Eu vi minha mãe rezando
O seu peito era um sacrário
Onde o amor refulgia


Presa a atroz agonia
Vendo o meu triste fadário
De lágrimas fez um rosário
Aos pés da Virgem Maria



E quando um dia, porém
Aos seus pés ajoelhando
Ele contava chorando
O travo que a vida tem 
Eu julguei que a minha mãe
Era uma santa escutando






O sonho e o desejo de um “Santo” Franciscano, continuam a sua missão de acolher crianças e jovens em situação de risco e a proporcionar a satisfação das necessidades básicas para o desenvolvimento integral dos membros da família do Padre Abel.
















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terça-feira, 12 de novembro de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E O CASAL DE “BURLÕES”













PE. CORREIA DA CUNHA





QUALQUER PESSOA PODE SER

LUDIBRIADA EM SUA BOA-FÉ, NINGUEM

ESTÁ IMUNE.

MESMO QUEM DESEMPANHA FUNÇÕES BENÉFICAS AO SEU IRMÃO…

Havia quem gostasse de ficar só em casa, mas o Padre Correia da Cunha não era dessa opinião. Todas as noites eram agradáveis para sair para as fadistagens ou para jantares com os amigos, quando não havia compromissos com as actividades paroquiais.
Naquela noite, descíamos ambos a escadaria do Mosteiro de São Vicente de Fora, para irmos jantar num dos seus preferidos restaurantes da baixa pombalina. Esse espaço de influência beirã caracterizava-se pela qualidade e frescura dos produtos. Era um hino á arte da boa comida e bebida, confidenciava-me o Padre Correia da Cunha.
Eis quando fomos subitamente abordados por uma senhora, trajando roupas muitos simples e carregando ao colo uma criança de tenra idade num xaile, que a protegia do imenso frio, e outra que se lhe agarrava à sua saia. Disse numa voz singularmente educada:
- É o Senhor Prior?
O Padre Correia da Cunha olhou o relógio que marcava 20,30 horas. Porém, nunca deixava de atender os paroquianos que procurassem os seus cuidados. Era padre para estar ao serviço da comunidade e receber com disponibilidade total os seus paroquianos, num relacionamento de fraternidade humana. Não poderia de deixar de responder:
- Sou eu mesmo. Que deseja a estas horas com este imenso frio, esta minha santa senhora?
Em resposta ela apontou para o fundo do Largo de São Vicente, dizendo:
- Vem além, em passo de corrida, o meu marido e pretendemos falar com o Senhor Padre para marcarmos o Baptizado para este nosso menino.
- Ouve lá! Achas que são horas para vires pedir esse serviço? - Referiu o Padre Correia da Cunha com toda a paz de espírito baseado na humildade e na paciência cristã.
Fazia um frio de rachar e a ideia de estarmos ali parados não agradava nada ao Padre Correia da Cunha, para além de haver ali duas pobres criancinhas naquela gélida aragem.
Regressámos de novo ao Cartório Paroquial para que ali fosse prestada toda a atenção aquele modesto casal.
Segundo a descrição da senhora, o seu marido havia feito um imenso esforço, porque não dizer sacrifício, para poder estar ali aquela tardia hora. Trabalhava na Cruz Quebrada e só lhe foi possível largar o emprego pelas 19 horas.
Depois de todos estarmos sentados confortavelmente ao redor da imensa secretária do cartório, e do Padre Correia da Cunha já se ter munido de toda a documentação para o efeito, perguntou aos pais:
- Como se chama o menino? Agora, o nome do pai da mãe e morada.
A mãe respondeu de imediato a todas as questões e foi indicada a Rua da Voz do Operário, 21 – 2º Esq.


RUA VOZ DO OPERÁRIO - LISBOA


- Mas como diabo é possível morarem aqui tão próximo e eu não vos conhecer - referiu o Prior.
Volveu a mulher a esclarecer o reverendo:
- Vivemos aqui há pouco tempo.
- Está bem!
 Dirigindo-se ao homem perguntou-lhe:
- Qual a profissão do meu caro amigo?
- Sou radiotécnico.
- Que raio de profissão é essa? – Interrogou perplexo o Padre Correia da Cunha.
- Executo reparações em rádios e televisões.
Foi muito amável ter vindo aqui ao encontro do seu pároco - disse o Padre Correia da Cunha com uma voz de satisfação. Tenho aí um amplificador que faz parte da minha aparelhagem que deixou de funcionar. Será o meu amigo capaz de proceder à sua reparação?
Sem hesitação e de imediato proferiu:
- Com certeza! Essa é a minha principal profissão!




Fiquei na companhia do casal e das crianças no Cartório Paroquial, enquanto o Padre Correia da Cunha se dirigiu aos seus aposentos para ir buscar o amplificador da sua magnífica aparelhagem estereofónica de marca QUAD, que lhe havia sido oferecida por um amigo de grande estimação.

Não tardou cinco minutos a regressar.

- Cá está ele!

O radiotécnico observou atentamente o equipamento, referindo que aquele amplificador era de excepcional qualidade e que deveriam existir muito poucos no nosso país. Reconheceria ser no seu entender uma válvula queimada.

- O meu amigo radiotécnico é capaz de concertar esta preciosidade?

- Sem dúvida alguma, Sr. Prior!

Perante esta resposta, o Padre Correia da Cunha meteu a mão ao bolso do casaco. Para antecipar os custos do arranjo e para fazer face aos custos dos materiais necessários à reparação. Fazia questão de entregar em notas 30.000 escudos.

O homem disse que não era preciso pagar nada e devolveu-lhe o dinheiro. Mas o Padre Correia da Cunha num gesto de não concordância insistia em antecipar parte (?) do pagamento. A pessoa em questão parecia-lhe séria e merecedora da sua total confiança.

Tornou a insistir, rogando-lhe que aceitasse aquele dinheiro. O radiotécnico sentiu a necessidade de tranquiliza-lo a esse respeito dizendo:

- Quando lhe devolver o amplificador devidamente reparado, pagará na totalidade, pois como compreenderá não estou em condições de orçamentar os dispêndios dessa operação.






Finalmente o Padre Correia da Cunha fez sinal afirmativo com a cabeça e logo seguiram para o assunto que os levaria aquele Cartório Paroquial: o baptismo daquele menino.

Terminada a tarefa do preenchimento de todos aqueles formulários, o Padre Correia da Cunha referiu que os pais e padrinhos teriam de frequentar uma pequena acção de formação para o Baptismo. A primeira sessão teria já lugar no seguinte sábado, pelas 16 horas, na Sala do Conselho.

Terminados todos os esclarecimentos, o Padre Correia da Cunha encerrou o Cartório Paroquial. Por último, despediu- se do casal e o homem lá foi, transportando o amplificador de marca QUAD para reparação.

Mergulhado no turbilhão das muitas tarefas diárias que realizava na Comunidade Paroquial, Padre Correia da Cunha abstraiu o pensamento sobre aquela noite em que tinha passado para os zelos de um desconhecido, o seu amplificador QUAD.

Passados uns meses, o Padre Correia da Cunha, cismado e perplexo com a total ausência do casal de paroquianos, e dado que a data prevista para a realização do festivo baptizado já se encontrava mais que ultrapassada, convidou-me para irmos visitar a despretensiosa família e tomarmos conhecimento do que se teria passado para não terem comparecido na paróquia. Ele sentia que alguma coisa estava errada com aquela família que os impediria de realizarem o baptizado do menino.

Na sua companhia lá fomos calmamente, calcorreando a Rua Voz do Operário, na busca do número 21. Para nosso espanto, este número de polícia não existia. O semblante do Padre Correia da Cunha deixava-me aturdido. Era evidente que tinham mentido sobre o seu endereço. Era necessário tentar encontrar alguma pista que o casal “ burlão” tivesse deixado naquela rua e que pudesse ser utilizada para os desmascarar.

O Padre Correia da Cunha interrogou muitos paroquianos sobre o misterioso casal.  Tivemos pouca sorte em encontrar alguém que os conhecesse.

Já no regresso à Igreja Paroquial, num dos últimos prédios da rua, uma rapariga que estava à porta acompanhada de uma mulher, que deveria ser a mãe, deram-nos as últimas informações. Recordavam aquele casal pelas indicações fornecidas pelo reverendo.

- Eles foram-se embora, Sr. Prior!

- Sabem para onde?

- Nem qual diabo! - Respondeu a mulher mais velha.

- Apareceu aqui uma furgoneta e sumiram-se, sem me pagarem, o aluguer do quarto.

Sempre que o Padre Correia da Cunha, nos seus aposentos, olhava para aquela estrutura de talha dourada de um velho órgão setecentista, onde se encontravam os restantes componentes da sua magnífica aparelhagem estereofónica de marca QUAD; ficava silencioso, impressionado pela sua doce resignação, pois havia poupado 30.000 escudos. Não gostava de tocar naquele assunto, pois era doloroso ter perdido algo que lhe havia sido dado com tanta afeição pelo seu amigo do coração Rui Valentim de Carvalho (1931-2013).




RUI VALENTIM DE CARVALHO
Este empresário editor faleceu esta segunda-feira, 11 de Novembro de 2013. O Padre Correia da Cunha teve a sorte de o ter tido como amigo. Referia o reverendo que era para ele uma honra e uma distinção de ter conhecido este grande Senhor de cultura, possuidor de um bom gosto e de uma enorme sensibilidade artística e humana. Um perfeccionista que privou com imensos artistas e intelectuais, que atraía pela sua dedicação e carinho.


- Mas como diabo! Veio à Paroquia de São Vicente de Fora falsificando uma hipotética morada da Paróquia da Graça.

O mais espantoso é que este modesto casal de “burlões” praticou esta proeza, pela confiança que o Padre Correia da Cunha dispensou, pois nem se serviu do seu poder de insinuação e não foi aquele Cartório Paroquial para cometer qualquer irregularidade salvo a falsificação de morada.

Lembro que o Padre Correia da Cunha desejou ardentemente que pelo menos aquela inocente criança tenha recebido o Sacramento do Baptismo.

Para quem conheceu o Padre Correia da Cunha como eu, sabia que rapidamente superava estes acontecimentos como contingências terrenas. A vida para si só valia quando a colocava ao serviço dos outros.

Podiam as coisas sair-lhe ao contrário do que idealizava. Já nada o surpreendia nem lhe retirava a sua profunda crença no Homem. Era a força exclusiva da sua inteligência e vontade que lhe abriam sempre novas perspectivas, as dificuldades e adversidades eram ultrapassadas sem lhe retirarem a esperança.




“não poupava energias e roubava muito do tempo que seria de
repouso, talvez demasiado, mas um bom padre a vida é para se dar aos outros....”,

















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