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Não encaravam
sacrifícios para o bem-estar dos seus…
O
tempo quaresmal na Paróquia de São Vicente de Fora era o período privilegiado
para a oração, recolhimento e silêncio.
Com
o início da liturgia das cinzas, o cenário do majestoso e luzidio templo era
transformado pelo Padre Correia da Cunha num ambiente suavemente sombrio. Todas
as imagens e crucifixos eram cobertas por amplos panos roxos e negros. Todos os
sinais que manifestassem alegria ou festa eram retirados, assim como eram
suprimidas as toalhas ornamentais, flores, frontais de altar e os fortes holofotes. Recordo que
inclusivamente a voz dos sinos era quebrada para dar lugar às solenidades do
tempo da paixão. As campainhas, lavradas a prata, das celebrações eucarísticas
eram substituídas por matracas.
Todo
este ambiente era propício à meditação. Na capela do Santíssimo, vários
genuflexórios cobertos de ricos roxos panos eram colocados para o murmúrio das
longas orações.
Os
cheiros fortes, das nuvens de incenso, eram difundidos em profusão pelos
resplandecentes turíbulos de prata lavrada, ascendendo em direcção ao alto como
que unindo as súplica dos fiéis a Deus.
Com
esta descrição, estou a estimular as emoções da minha infância vivida na
companhia do Padre Correia da Cunha, naquele magnífico espaço que era a Igreja Paroquial
de São Vicente de Fora. Na realidade, foi ali que muitos jovens viveram e despertaram
para os nobres sentimentos cristãos.
Era nesse clima, com a ajuda do Padre Correia da Cunha, que cada
um de nós em espírito de reflexão, ia esgravatando a sua consciência e
exercitando a busca de novos comportamentos perante Deus, os outros e consigo
próprio.
IN
MEMORIAM
MANUEL
NUNES DOMINGOS
(1921-2013)
Foi
também na manhã quaresmal de 16 de Fevereiro passado que recebi a triste notícia
da partida para o PAI, do meu venerado e estimado amigo ENGº Manuel Nunes Domingos, com 92 anos de idade.
Não
sei porque, mas nestes últimos dias não me sai da lembrança a figura simpática
e alegre do meu carismático amigo. Homem simples, modesto, bom e sempre
bem-humorado, era imensamente admirado por todos que o conheciam.
Tinha
o coração de um excepcional e indulgente empresário, sendo estimado e
respeitado por todos, pois para ele as relações humanas eram mais importantes
que todas as outras considerações.
À
semelhança do Padre Correia da Cunha, não lhe faltava a sabedoria e a pedagogia
para encarar os problemas da adolescência e juventude com uma abertura
verdadeiramente invejável, segundo testemunho que ouvi do seu genro.
Dedicado
ao seu lar, a família era tudo para ele.
A
morte de Manuel Domingos deixa em todos um profundo vazio, mas estou certo que
nunca esqueceremos as muitas recordações gravadas no nosso âmago do muito que
apreendemos nas sinceras e animadas conversas mantidas com ele.
Não
resta a menor dúvida que, ainda hoje, há empresários capazes e imbuídos de
ideais respeitadores, na defensa intransigente dos interesses dos seus leais e
dedicados colaboradores e famílias.
Os
sentimentos fraternos são naturais nos corações humanos, como referia o Padre
Correia da Cunha, mas são homens com este, que ao longo da sua existência nos
marcaram indelevelmente pelos nobres valores e princípios que sempre nortearam a sua
caminhada terrena.
E
por tudo o que pensou e fez neste mundo, deve merecer prosperidade e a recompensa da vida eterna. Era um sábio na modéstia e
simplicidade. É por tudo isto que não consigo esquecer a imagem deste bondoso
amigo que foi convocado para celebrar a Páscoa Libertadora, mesmo sendo tempo
quaresmal.
Aproveitemos
este tempo de silêncio e meditação para um pensamento de fé e de respeito à memória do nosso saudoso
amigo.
Manuel Domingos dorme hoje um sono sagrado… uma vez que os bons
homens nunca morrem.
RECEBEI, SENHOR, NO REINO DOS JUSTOS O NOSSO
IRMÃO. REQUIESCAT IN PACE
.
Nota: agradeço o texto, testemunho do seu genro,
que me foi enviado gentilmente pelo seu neto Alexandre Clerici. Texto inspirador
para esta merecida homenagem.