sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E O 1º DE FEVEREIRO

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D. Luis Filipe e D. Carlos


«O REI D. CARLOS E PRINCÍPE
REAL D.LUIZ FILIPE NÃO
MERECIAM O TRÁGICO FIM QUE
TIVERAM.»





Nos anos sessenta, o primeiro dia de Fevereiro tinha um grande significado na Paróquia de São Vicente de Fora. Naquele imponente templo renascentista eram celebradas missas de «Requiem» por alma do Rei D. Carlos I e do Príncipe herdeiro D. Luiz Filipe.

Era o dia para recordar os malogrados heróis que foram assassinados barbaramente, apenas porque desejavam que a vida constitucional portuguesa seguisse na maior harmonia e paz…

O Padre Correia da Cunha, na sua qualidade de anfitrião apresentava o templo com um aspecto festivo, cenário próprio para a realização das solenes cerimónias de exéquias. O templo totalmente repleto. Todos os presentes, desta forma homenageavam aqueles que bem serviram a Nação e cujo patriotismo não poderemos negar sem injustiça. O Senhor D. Carlos tinha notabilíssimas qualidades, era um hábil diplomata, tendo prestado enormes serviços a Portugal e aos portugueses, que a História hoje reconhece e são justas e merecidas todas as homenagens que anualmente lhe prestam os portugueses com celebrações eucarísticas de sufrágio pelas suas almas.


Sei que estas piedosas solenidades contavam sempre com a presença de muitas altas personalidades da vida nacional e de muito povo que aproveitavam para assim expressarem a sua gratidão à memória do grande monarca e de seu filho o, príncipe.





Lembro-me perfeitamente que a primeira celebração era uma missa cantada, presidida pelo Rev. Padre Correia da Cunha, no majestoso templo. Este louvor de sufrágio era mandado celebrar anualmente pelos Srs. Condes de Vale de Reis. Na sua homilia o Padre Correia da Cunha expressava a sua imensa admiração e sincero respeito pelos seus irmãos em Cristo: Carlos, rei e Luiz Filipe, príncipe.

Mais tarde, no Panteão da Dinastia de Bragança era celebrada missa de exéquias, presidida pelo Mons. José de Castro, esta mandada celebrar pela Fundação da Casa de Bragança. Nas filas de cadeiras colocadas naquele panteão de família viam-se muitas figuras pertencentes a famílias da nobreza portuguesa: Condes de Vale de Reis, Viscondes da Trindade e de Asseca, Condes das Alcáçovas e da Lousã, Marquês do Lavradio, Visconde de Botelho, Conde e Condessa do Seixal, Conde e Condessa de Castelo Mendo, Condessa de S. Mamede, Marquês de Sabugosa, Marquês de Belas e pela casa de Bragança, D. Duarte Nuno, D. Fernando de Almeida, D. Manuel de Bragança e D. Miguel Pereira Coutinho…

Havia também figuras de casas reais estrangeiras, como por exemplo, o Rei Humberto de Itália.

Estas solenes celebrações terminavam sempre com a deposição de belos ramos de flores na base dos túmulos do Rei Dom Carlos e do Principe Dom Luiz Filipe. Este rico monumento da autoria do Arqt.º Raul Lino apresentava uma inscrição gravada a ouro da autoria do poeta Afonso Lopes Vieira, onde se lia:


AQUI DESCANSAM EM DEUS EL-REI D. CARLOS I E O

PRÍNCIPE REAL D. LUIZ FILIPE QUE MORRERAM PELA

 PÁTRIA.



Túmulos do Príncipe D. Luis Filipe e D. Carlos (escultura a Dor)



Em ambos os túmulos foram esculpidas coroas reais. É um gesto justo, pois Dom Luís Filipe foi Rei de Portugal, morreu momentos depois do Pai. Expirou aliás, em pé, em defesa do progenitor.

Contou-me o Padre Correia da Cunha esta narrativa: «que tendo o Presidente do Conselho, Prof. Oliveira Salazar assistido durante toda a manhã às sagradas cerimónias de grande sumptuosidade do 1º de Fevereiro, em memória do atentado a El-Rei D. Carlos e Príncipe Real D. Luiz Filipe, com a presença de todas as mais elevadas entidades eclesiásticas, militares e civis nacionais, na Igreja Paroquial de São Vicente de Fora, curiosamente, terá regressado pela tarde muito discretamente e incógnito (sem nenhum tipo de segurança) para no Panteão da Dinastia de Bragança, junto dos túmulos do monarca e filho, se inclinar, e ter um longo instante de profunda meditação».


Será que quis desta forma o Chefe do Governo da Nação homenagear o enorme estadista de méritos no rumo da história, das ciências e das artes e que também em difíceis circunstancias muito se empenhou a favor da defesa da integralidade nacional. Só o penetrante silêncio do sóbrio espaço poderá testemunhar a mensagem ali depositada pelo coração do governante.




Altar do Panteão da Dinastia de Bragança


Recordo mais tarde, nos anos setenta ter acolitado o Mons. Cónego D. João Filipe de Castro (Nova Goa) e o Cónego Corrêa de Sá (Asseca), ( capelão da armada tal como o Padre Correia da Cunha), que presidiam a muitas celebrações eucarísticas, no altar do Panteão da Família Real de Bragança. O Padre Correia da Cunha com a sua inesgotável bondade disponibilizava todas as alfaias e paramentaria… da paróquia, para que essas celebrações tivessem o maior brilho.


Cónego Corrêa de Sá (Asseca)


Decorrido tudo este tempo sobre o regicídio, tempo considerado suficiente para julgar serenamente homens e acontecimentos e interpretar estes actos imparciais e objectivamente, continua-se a seguir a arraigada tradição de venerar com afecto a memória dessas duas figuras sublimes da nossa História.


A Real Associação de Lisboa continua a mandar celebrar em homenagem a estes augustos mártires da Pátria uma missa na Igreja de São Vicente de Fora, presidida pelo Rev. Padre Gonçalo Portocarrero de Almada, com romagem ao Panteão da Dinastia de Bragança para colocação de flores nos túmulos de El-Rei e do Príncipe Real pelos Duques de Bragança.






Requiem aeternam dona ei Domine,

et lux perpetua luceat ei. Requiescat in pace. Amen.















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