segunda-feira, 18 de março de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E A SEMANA SANTA










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“ HAVERÁ SEMPRE UMA CRUZ IRRADIANDO SOLIDARIEDADE AOS HOMENS DE BOA VONTADE…”



Estamos prestes a reviver mais uma Semana Santa, tempo litúrgico de excelência, para uma forte reflexão sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, e de aprofundamento e crescimento da nossa fé.

Na paróquia de São Vicente de Fora, o Padre Correia da Cunha sabia muito bem da importância dessa semana e guardava com todo o zelo esses dias como os mais santos do ano litúrgico.

Os cerimoniais da Liturgia da Semana Santa eram cuidadosamente estudados e ensaiados pelos afectuosos jovens (meninos do coro, acólitos e leitores) da paróquia. Durante semanas, sob a orientação do seu coadjutor Revdº José Mitchel, treinavam para que todo o cerimonial ocorresse sem falhas. O Padre Correia da Cunha socorria-se das velhas memórias dos encantamentos da Semana Santa, através dos muitos símbolos e elementos da Paixão de Cristo.

Todos os anos, a majestosa igreja de São Vicente de Fora abarrotava de pessoas vindas de todos os bairros de Lisboa, para as solenes celebrações da Semana Santa realizadas pelo Padre Correia da Cunha. Eram verdadeiros actos de genuína piedade e silêncios. Afirmo com a certeza absoluta que esses longos cerimoniais fortificavam a nossa fé, pois eram sentidos e participados como autênticos e verdadeiros retiros espirituais.



PADRE JOSE FELICIANO ROCHA ALCOBIA E PADRE CORREIA DA CUNHA
Mas era na sexta-feira Santa, que o Padre Correia da Cunha nos convidava para uma vez mais nos prostramos religiosamente diante da Cruz e beijarmos a imagem martirizada do guia da nossa civilização. Ali, reverenciávamos os nossos sentimentos humanos em holocausto ao Divino Mestre, cujas suas palavras até hoje não foram reprovadas nem ouvidas:
Que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei”.
A grande mensagem deixada por Ele para os seus seguidores vindouros.
Com toda a força que sua voz lhe permitia, lembrava o Padre Correia da Cunha: “ Como é possível que passados quase dois mil anos, nós, a começar por mim, não tenhamos ainda compreendido a profundidade das Suas palavras… Vivemos egoisticamente para nós mesmos, afogados de ambições…, com desejos de superioridade. Somos uns errantes deambulando pela vida. Somos escravos das nossas vaidades, traçando os nossos próprios erros…”.
Ouvi muitas vezes ao Padre Correia da Cunha que não era preciso ser religioso ou andar a bater com as mãos no peito e a papar missas todos os dias, para se compreender a abnegação dos princípios cristãos, pois bastava olhar para a Cruz, o símbolo cristão, para compreendermos toda a grandiosidade da Sua obra de Amor pela humanidade.
Jesus Cristo deixou estampado nas suas doutrinas o caminho recto que devemos trilhar. Mas nós, nutridos com as nossas ambições desmedidas, com as nossas preocupações ignotas e com as nossas ânsias furiosas de postarmos além de nós mesmos, esquecemo-Lo.
Recordo-me dessas sextas-feiras, naquele ambiente cinzento e sóbrio, de fazer a genuflexão diante da cruz e beijá-la. Era um momento em que sentíamos uma réstia de luz que invadia os nossos corações na busca da verdadeira sabedoria, firme e indissolúvel, que nos conduzia à vida da verdadeira fraternidade cristã.
Que pensaria hoje, o Padre Correia da Cunha ao ouvir o sucessor de Pedro a falar das hipócritas vivências dos membros da corte da Igreja? E das palavras de Jesus Cristo aproveitadas para assegurarem o poder e a superioridade de uns sobre outros?

O Mestre sempre pregou a humanidade, a solidariedade, a compaixão e a resignação e morreu estendido numa cruz, convicto que os Homens o seguiriam.

Mas todos nós persistimos no erro, escravizando-nos à vaidade dos nossos preconceitos, à luta contra nós mesmos e contra os próprios ensinamentos de Jesus Cristo.

As infindáveis cerimónias da Semana Santa, do meu tempo de infância, estão bem vivas na minha memória. Cumpríamos todos os rituais sagrados e ajudados pelo Padre Correia da Cunha éramos inspirados a orientar os nossos comportamentos, galvanizados pelos fascinantes encantos que esses sinais fantásticos de religiosidade e santificação nos transmitiam. Na sexta-feira da paixão, as lágrimas dos pecadores arrependidos faziam a Natureza renascer. Infelizmente, naquela paróquia tudo se foi perdendo, de geração em geração…
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1 comentário:

  1. Anónimo4.10.13

    Memórias dos diversos anos quando, chegados à sexta-feira Santa, se desnudavam os altares, sob os nossos olhares, enquanto os Santos de cara e corpo tapado com pano roxo assistiam...



    Recordo-me de uma cena interessante. Numa Sexta-feira Santa uma paroquiana activa, devota, queria lavar os santos com vinho. Estão mesmo a ver a cara do nosso Padre CUNHA que recusou a oferta. Que era tradição lá da terra dela… Que desperdício! Mas que risadas ganhámos naquele instante.
    Rogerio Martins Simoes

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