sexta-feira, 19 de abril de 2013

ALA DOS AMIGOS DE PE. CORREIA DA CUNHA











Os amigos que partiram…







IN MEMORIAM

 


ABEL VARELA

 


1925-2013

 

 

ABEL VARELA nasceu no dia 21 de Janeiro de 1925.

 

Quando passa um mês de que nos deixou, há no mínimo que evocar e enaltecer aquele que ao longo dos anos, pelo seu labor muito fez em prol da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora.

Depois de 88 anos de existência e cerca de cinquenta ao serviço dos paroquianos da “ sua” igreja, fez um trabalho muito discreto mas decisivo para o desenrolar das actividades pastorais, litúrgicas e lúdicas.

Abel Varela foi um verdadeiro apóstolo na sua entrega ao zelo do património e muito contribuiu na criação de um ambiente de silêncio e dignidade nos espaços de celebração litúrgica e oração.

Este homem simples teve a graça do céu de conviver diariamente com o Padre Correia da Cunha, aquém lealmente serviu e que considerava como um verdadeiro pai.

Este homem bom, nascido no verdejante Minho, no apego do amor ao trabalho e à ordem, era uma “ Instituição”, pois era inseparável da instituição que representava.

À semelhança de Padre Correia da Cunha, viveu em profunda solidão dezenas de anos naquele monstruoso monumento, onde possuía habitação. Mas também foi ali que Deus lhe proporcionou assistir e participar na admirável obra realizada por seu admirável pároco ao longo de 17 anos.

Na homenagem que lhe prestei em Novembro, do passado ano, neste blogue, trouxe à memória a entrega deste homem às imensas gerações de meninos do coro, acólitos, leitores, catequistas, escuteiros, cantores, vicentinos, sacerdotes… Todos lhe dedicavam especial amizade e estima.

Todos sabemos que o afastamento daqueles espaços consagrados foram para ele um contínuo sofrimento… Abel Varela acabou os seus dias esquecido pelos muitos amigos, apenas restando-lhe o conforto da família: mulher e filha.

Dia 19 de Março, dia do pai, foi repousar na Glória do Pai e na companhia dos amigos finados de São Vicente de Fora. Senti uma imensa tristeza que não tivesse havido um velório onde comparecessem os muitos amigos vivos para lhe rezarem um Pai-nosso e uma Ave-maria e rogarem a Deus compaixão por ele.

Na verdade, o esquecimento como a ausência de memória são os termos adequados, mas não explicam a indiferença da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, para com o falecimento deste excepcional zelador do templo (sacristão).


Um funeral e missa de corpo presente, tão vazios e tristes, que não contaram com mais de vinte pessoas. Pergunto onde estariam os amigos dos bons e velhos tempos? E assim, Abel Varela foi enterrado no Cemitério do Alto de São João, em profundo silêncio sepulcral diante da família e de meia dúzia de amigos.

Comentava-me um amigo há dias: “ A paróquia de São Vicente de Fora é inconsciente, condenada à sobrevivência, vegetando na órbita para ser absorvida por outros interesses”.

Realmente a partir da morte do Padre Correia da Cunha, a comunidade paroquial iniciou um processo de desmantelamento que seria reforçado com a dispensa do Padre Brás Carreto. A comunidade deixou de ser uma unidade espiritual na realização do puro amor do próximo. Mas para muitos paroquianos, ela continuará sempre nas suas almas e na afirmação dos princípios herdados do Padre Correia da Cunha…

 

Dai-lhe Senhor, o eterno descanso e brilhe para ele o esplendor da Luz eterna.

Deixo para os comentários de muitos amigos vivos que aqui poderão manifestar o seu pesar pela morte deste saudoso amigo.

São Vicente de Fora guarda-o em seu coração!

 

RECEBEI, SENHOR, NO REINO DOS JUSTOS O NOSSO IRMÃO.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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quarta-feira, 10 de abril de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E O REGRESSO DE D. PEDRO AO BRASIL









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“ O IMPERADOR D.PEDRO I, EM 1972, ERA A IMAGEM DO HERÓI LIBERTADOR DA NAÇÃO BRASILEIRA.”





Foi há precisamente quarenta e um anos, no dia 10 de Abril do ano de 1972, que os restos mortais do Rei D. Pedro IV, que se encontravam depositados no Panteão da Dinastia de Bragança, foram transladados para bordo do paquete «Funchal» que os transportaria para o Rio de Janeiro, capital imperial do Brasil.



Foi no Mosteiro de São Vicente de Fora, com os raios de sol envergonhados a despertarem sobre a bela cidade de Lisboa, que o Padre Correia da Cunha dava início às cerimónias religiosas no interior do Panteão Real, perante a esplêndida urna de pau-santo que se encontrava colocada sobre uma riquíssima essa, junto do altar principal, rodeada por quatro círios e vasos com flores, estando a mesma coberta por um sumptuoso pano de veludo roxo, bordado a ouro, com as armas imperiais brasileiras e o monograma do soberano «P», de Pedro e Portugal.

Câmara ardente no paquete Funchal




Nesta cerimónia privada estiveram presentes o Presidente do Conselho, Prof. Marcello Caetano, o Embaixador do Brasil, Prof. Gama e Silva, o Ministro da Defesa, General Sá Viana, o Ministro da Justiça, Prof. Almeida Costa, os membros da Comissão, constituída pelo Senhor Ministro da Marinha, Alm. Pereira Crespo, o Embaixador Dr. Manuel Homem de Mello, Almirante Sarmento Rodrigues, Prof. Lopes de Almeida, Dr. Jorge de Mello e ainda a princesa D. Teresa Maria de Orleães e Bragança, em representação da família imperial do Brasil.


Vitor Soares - Padre Correia da Cunha - João Paulo Dias


Terminada a cerimónia litúrgica de exéquias, presidida pelo Reverendo Padre Correia da Cunha, acolitado por dois jovens, deu-se início ao cortejo no interior do Mosteiro, tendo sido transportada a urna, aos ombros de soldados do Exército Português, para o exterior do majestoso templo, onde foram prestadas as devidas honras militares por uma força do Batalhão de Caçadores 5, com Bandeira (mandada bordar pela Rainha D. Maria II e por ela oferecida a esse Regimento) e Banda. Lembro que D. Pedro IV fora comandante honorário desta prestigiada unidade militar.






No exterior da monumental igreja de São Vicente de Fora e nas ruas vizinhas, muita gente se concentrou para num profundo silêncio prestarem as suas últimas homenagens a D. Pedro IV, «Rei-soldado», vigésimo oitavo Rei de Portugal e primeiro imperador do Brasil.



Depois de depositada num armão do Governo Militar de Lisboa, foi a urna levada em cortejo por uma escolta a cavalo da Guarda Nacional Republicana para o Cais de Santa Apolónia. A abrir o cortejo, estava o carro que transportava o Padre Correia da Cunha e os dois acólitos: Vítor Soares e João Paulo Dias.



Passados alguns minutos, o armão detinha-se ao princípio da rampa, expressamente construída para acesso ao tombadilho do navio Funchal. Oito fuzileiros das duas nacionalidades transportaram em seguida a urna para bordo. Simultaneamente dois navios, um brasileiro e outro português, deram uma salva de vinte e um tiros. A urna seria depositada em câmara ardente no salão nobre do paquete, devidamente ornamentado em ordem a poder corresponder à importante missão.


João Paulo Dias - transportando a CRUZ


Os cento e cinquenta anos de independência, que o Brasil comemorou em Setembro desse longínquo ano de 1972, não representaram uma separação da Mãe-pátria. Durante os séculos, os dois povos implantados nas margens do Atlântico foram caldeando destinos intensos e profundamente enraizados uns no outro. Era o que significava a entrega fraternal por Portugal ao Brasil dos restos mortais de D. Pedro IV de Portugal e I Imperador do Brasil. D. Pedro de Bragança regressou ao Brasil. Ele que soube ser rei de duas pátrias, não saiu, afinal da Pátria comum a portugueses e brasileiros.



No final da tarde, o Presidente da República embarcou no paquete Funchal que o levaria ao Brasil acompanhado da sua comitiva constituída pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Rui Patrício, Secretário de Estado da Informação e Turismo, Dr. César Moreira Baptista; Embaixador para os assuntos da Comunidade Luso-Brasileira, Almirante Henrique Tenreiro; Almirante Ferreira de Almeida, General Andrade e Silva, General da Força Aérea Costa e Almeida; Secretário-Geral da Presidência da Republica, Dr. Luís Pereira Coutinho, oficiais da Casa Militar do Presidente da Republica; Comandante Guilherme Tomás, Coronel Soares da Cunha e Major Rui Pereira Coutinho, chefe de gabinete do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Luís Navega chefe de gabinete do Secretário da Informação, Dr. Duarte Guedes Vaz chefe do protocolo de Estado, Dr. Hélder de Mendonça e Cunha, secretário do protocolo; Dr. Manuel Corte Real… a esposa e filha do Chefe de Estado e o Padre Correia da Cunha.




No final do dia, zarpou das águas do Tejo o transatlântico Funchal, o qual foi escoltado por uma esquadrilha de barcos de guerra portugueses e brasileiros.


Na capela instalada no salão nobre do navio, a urna contendo os restos mortais do imperador era objecto de guarda de honra permanente efectuada por marinheiros e oficiais de ambas as armadas. O Padre Correia da Cunha encarregava-se do serviço religioso a bordo durante a viagem.




Na manhã de 22 de Abril 1972, dia que rememora a chegada da esquadra de Pedro Alvares Cabral ao Brasil, o Presidente da Republica Português Almirante Américo Thomás, acompanhando os restos mortais de D. Pedro IV, chegava à baía de Guanabara no Rio de Janeiro. O Imperador pôde contar com uma manhã maravilhosa de sol radioso no regresso ao seu amado Brasil. A histórica viagem representava muito mais que um gesto de fraternidade para com um país tão intimamente ligado a Portugal, assumindo um transcendente significado nas relações luso-brasileiras.




Como sabemos, foi em Agosto de 1971, que o Presidente Emílio Medici solicitou ao Presidente de Portugal que passasse ao Brasil a guarda dos restos mortais do Imperador Pedro I, em São Paulo, berço da independência, no Monumento do Ipiranga, altar da Pátria Brasileira.




Para os portugueses ver partir o seu Rei não era motivo que o fizesse mobilizar, pois restava-lhe o grande consolo de que o coração real, intacto e bem guardado, permaneceria na cidade do Porto, na igreja da Lapa, por vontade de D. Pedro, manifestada em testamento, e que com emoção continuamos a zelar perpetuamente.




A peregrinação dos despojos de D. Pedro pelas capitais estatais do Brasil, durante cinco meses, teve uma enorme mobilização da sociedade brasileira, que transformara o primeiro imperador numa personagem histórica quase divina de uma elevada paixão que era recordada pelas suas palavras proclamadas no dia 7 de Setembro de 1822, nas margens do rio Ipiranga:


“ Independência ou Morte”




D. Pedro era o herói da independência, forte, inteligente, audacioso, impetuoso mas também sensível às necessidades do povo, daí ocupar no coração de cada brasileiro algo próximo do sagrado e ter merecido tão caloroso acolhimento no seu regresso à sua segunda Pátria.




Meses mais tarde, para o encerramento das comemorações do 150º Aniversário da Independência do Brasil, em Setembro, ocorreu a deslocação do Prof. Marcello Caetano, chefe do governo português ao país irmão, para assistir ao sesquicentenário da independência do Brasil. Tal acto constituiu um novo reforço dos laços que sempre uniram as duas Pátrias Lusíadas. Este evento foi realmente um marco elevado na Comunidade Luso Brasileira.





A terminar, uma pequena nota sobre o processo de exumação do corpo de D. Pedro IV, ocorrido no dia 24 de Março de 1972 no Panteão da Dinastia de Bragança no Mosteiro de São Vicente de Fora, que confirmou que havida sido sepultado com uniforme de general português, calçando botas de cavalaria e várias comendas portuguesas e estrangeiras. O corpo apresentava deficiente preservação pelo que fora envolvido em um pano branco bordado, oferta do Padre Correia da Cunha e colocado no interior da sua nova magnífica urna, com ferragens em prata cinzelada, tendo a tampa um crucifixo de prata e brasões das armas imperiais brasileiras e reais portuguesas. No seu antigo mausoléu, estão depositados ainda hoje, os três caixões originais (dois de madeira e um de chumbo) que durante cento e trinta e oito anos acolheram os despojos reais e registava:


D.O.M PETRUS IV PORTUGALIA ET ALGARBIORUM REX PRIMUS BRASILIAE IMPERATOR AC BRIGANTIAE DUX, JOAN VI  IMPERAT. AC REGIS FILIUS PATRIAE LIBERTATIS AD SERTOR E VINDEX DUM REG NUM IN FILIAM CARISSIMAM MARIAM II, SPONTE TRANS LATUM EJUS DOMINE REGERET OBIIT. MAXIMO. OMNIUM-LUSITA NORUM DIE XXIVSEPTEMBRO. NA. DOM MDCCCXXXIV AETATIS SUAE XXXVI


No mesmo ano, foi gravado na pedra do túmulo: “ Os restos mortais de D. Pedro IV, primeiro Imperador do Brasil, agora repousam no Monumento Ipiranga em São Paulo, por decisão histórica do Governo de Portugal – 10-IV-1972”























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terça-feira, 2 de abril de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA – 36º ANIVERSÁRIO DA SUA MORTE











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“ DEUS É QUEM NOS DÁ A CONDIÇÃO DE SERVIR OS OUTROS…”

 

(1977-2013)

 

 

 

Foi no dia 2 de Abril do ano de 1977, que o Padre Correia da Cunha nos deixou, não tendo já celebrado com os seus paroquianos a grande Festa da Páscoa. As suas saudações de “Aleluia! Aleluia! Aleluia! Cristo Ressuscitou!” já não foram gritadas naquele majestoso templo.

 

A morte é sempre um acontecimento brutal, para o qual nunca estamos verdadeiramente preparados. Mas a morte do Padre Correia da Cunha, por ter sido tão inesperada e absurda, tão solitária, tão trágica, revestiu-se de uma violência ainda maior. Sentiram-na muitos dos seus amigos, seus admiradores e os seus imensos paroquianos. Por isso, naturalmente multiplicaram-se as manifestações de pesar que muito justamente merecia. As cerimónias fúnebres do Padre Correia da Cunha arrastaram uma vasta multidão que expressava a sua dedicação às várias obras a que o Padre Correia da Cunha se dedicou ao longo da sua vida de seminarista, marujo, pastor, companheiro Leão…

 

Depois de trinta e seis anos da sua morte, torna-se legítimo interrogar os motivos porque surge este Blogue de Homenagem a este grande sacerdote e educador. São dignas de nota, as actividades culturais, artísticas, sociais e religiosas que tiveram uma imensa importância na formação de muitos jovens da marinha e da paróquia de São Vicente de Fora.

 

Aparentemente poderíamos ser levados a considerar que todas as homenagens já lhe teriam sido prestadas. Estou perfeitamente convicto do oposto.
 
 
 



Desde a primeira hora desta iniciativa, contei com a disponibilidade de muitos amigos que me manifestaram o seu empenhamento e contributo para se preservar a sua memória. Mas muitos deles têm ficado à margem de prestarem a sua homenagem a Padre Correia da Cunha. Creio ter chegado a hora de o fazerem com o envio das suas contribuições e testemunhos.

 

Este blogue está disponível para acolher a participação de todos. Estou profundamente seguro que da amizade e vida do Padre Correia da Cunha muitos beneficiaram na sua formação humana e cristã.




 
 
A simplicidade estóica do Padre Correia da Cunha como clérigo, poeta, orador, comunicador está bem marcada no Seminário de Cristo Rei, no Patriarcado de Lisboa, na Armada Portuguesa, na Paróquia de São Vicente de Fora, nas OGFE e nos Lions Clube... Foi nestes locais que soube criar imensas relações efectivas e afectivas ao longo da sua vida. Pessoa de uma elevada sensibilidade, as conversas com ele eram ricas acções de formação, pois possuía uma enorme coerência de pensamento e profundamente convincente na sua oratória inigualável.

 

Lembrar o passado talvez não seja coisa fácil mas revisitar um tempo em que as actividades religiosas, culturais, artísticas e sociais em que participávamos na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora… Talvez seja esse o jeito de se escreverem umas singelas palavras sobre o Homem cuja memória se encontra nas muitas coisas que permanecem nos nossos corações.
 


 
 
 
O Padre Correia da Cunha, com a sua magnífica cultura, os seus dons de inteligência, perspicácia e amplos conhecimentos, muito contribuiu para a nossa formação humana, mental e moral. Não havia tema filosófico, sociológico, musical, artístico, literário, religioso e políticos que não discutisse e o tratasse com a maior perfeição que os tempos então permitiam. O Padre Correia da Cunha adorava trocas singelas de impressões sobre livros, factos observados, discussões sobre os mais variados temas teológicos, filosóficos, sociológicos… Estudava e ajudava os jovens discípulos a empenharem-se nos estudos, conversava com todos nós como um amigo mais velho.

 

A terminar, recordo as palavras que o Padre Correia da Cunha repetia permanentemente: “Deus é quem nos dá a condição de servir os irmãos. Como pode Deus servir-se deste pecador sacerdote para essa tão útil missão?”.

 

 

Anima eius et animae omnium fidelium defunctorum per Dei misericordiam requiescant in pace
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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