quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

2017 - ANO CENTENÁRIO NASCIMENTO PADRE CORREIA DA CUNHA











Hoje, já quase no final de 2017, vimos trazer-lhe, as nossas despedidas… muito brevemente serás expulso, mas continuarás a ser recordado nos nossos pensamentos, pelas grandes homenagens prestadas ao Padre Correia da Cunha, nos dias 2 de Abril e 24 de Setembro, em que assinalamos o 40º aniversário da sua morte (1977) e o centenário do seu nascimento na freguesia de Arroios no ano de 1917.







A escultura da autoria do José Carlos Coelho colocada junto à entrada do salão paroquial, discreta, disfarçada só visível pela claridade penetrada através do portão de ferro é uma coluna, simbolizando a força da sua heróica sensibilidade, o incansável pregador de princípios, que ainda hoje são pilares dos que lhes seguem os seus traços. O Corvo Vicente é o símbolo da sabedoria espargindo sobre a ignorância...


Estou convicto que esta peça escultórica será testemunha das muitas sinceras emoções que ainda agitam os nossos corações, na sublimação moral e espiritual pela herança que do mestre de vida recebemos.








O Padre Correia da Cunha, chefe dos capelães da Armada Portuguesa, como referi nasceu no dia 24 de Setembro de 1917 na freguesia de Arroios. Entre outras funções que exerceu destacam-se a de fâmulo do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel II Gonçalves Cerejeira de cerimoniário adjunto da Sé Patriarcal e Capelão da Marinha de Guerra. No exercício desta última missão desenvolveu acção notável. Foi fundador da Associação dos Marinheiros Católicos Portugueses e tomou parte em várias viagens de instrução de cadetes e marinheiros a bordo do Navio Escola «SAGRES». Foi igualmente um tradutor erudito e competente de várias obras de carácter religioso. O capelão Correia da Cunha também tomou parte nas Conferências Internacionais de Capelães Navais da NATO.


Na Radio Renascença fez palestras no programa «Voz do Sino» e desenvolveu grande actividade literária.





Foi prior durante cinco anos da Basílica dos Mártires, onde 
desenvolveu extraordinária actividade, quer na participação activa dos fiéis na liturgia quer na restauração e reintegração artística do majestoso templo na sua traça primitiva.

A convite do Professor Mueller da cadeira de órgão do Conservatório Nacional e anuência de director do mesmo, foi professor de liturgia dos alunos dessa cadeira, durante cinco anos; e no Instituto de S. Pedro de Alcântara, realizou conferências semanais.


Também como escritor e poeta se distinguiu. Foi director do semanário «Voz da Verdade» de 1939/40.

Eis algumas das suas obras: Pascha Nostrum, tradução da liturgia pascal, penetrada de unção e poesia; liturgia da Vigília Pascal e tradução «O Dilúvio de Saint Sens» para a Sociedade Coral de Lisboa, tendo certo crítico afirmado: ‘ser tão boa ou mais bela que o original’.


Para a mesma Sociedade traduziu vários poemas de Weinachflileder, de Mozart. E por ocasião das bodas episcopais do Senhor Cardeal Patriarca, e em homenagem a Sua Eminencia; escreveu um notável artigo na «Defesa Nacional» intitulado «Defensor Civilatis».





Fez ainda várias conferencias de muitíssimo interesse entre as quais uma sobre São Vicente – Padroeiro de Lisboa, na sede dos Amigos de Lisboa, a qual foi publicada em separata; a pedido da editora Suiça Benziger,  o Missal Romano ( edição destinada ao Brasil); para a mesma, traduziu ainda a «Imitação de Cristo» além de vários livros de piedade para crianças; escreveu vários cânticos religiosos de profunda interioridade, um Auto de Natal que com o patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa, foi representado nas escadarias da Igreja de São Vicente de Fora.




Realizou várias viagens de estudo em diversos países da Europa e Estados Unidos, tendo em vista sobretudo os assuntos da Pastoral Litúrgica.





Foi nomeado para pároco de São Vicente de Fora, no ano de 1960 enchendo de justificado orgulho os seus paroquianos. Foi um digno sucessor do venerando Monsenhor Francisco Esteves, que durante mais de meio século, com zelo inexcedível paroquiou aquela freguesia.

No ano de 1961 foi nomeado capelão das Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército e da Messe dos Oficiais de Santa Clara. No ano de 1972 pelos relevantes serviços prestados o Presidente da Republica condecorou-o  de comendador da Ordem de Cristo.

Na paróquia de São Vicente de Fora desenvolveu uma notáveis actividades  pastorais, que assentavam na educação cristã: uma catequese renovada para crianças,  escola para pais e cursos de preparação para o casamento. Uma actualizada caridade, activando-se as Conferencias de São Vicente de Paulo e uma Liturgia dinâmica com a participação de jovens acólitos nas celebrações, assim como a formação musical e coral para actualização do coro paroquial…

O Padre Correia da Cunha como referia, não vinha para dormir na forma, mas para labutar no que estivesse ao seu alcance, contribuindo para o restauro e conservação daquele imenso monstro adormecido (Mosteiro de São Vicente). Como era sabido o templo e o mosteiro encontravam-se votados a um abandono total. Era imperioso cuidar-se das coberturas com colocação de telhas novas e ao concerto de todas as janelas que apresentavam as vidraças quebradas. 

A água da chuva entrava a jorros e infiltrava-se na estrutura do edifício e por todos aqueles longos corredores, os tectos ameaçavam ruína iminente, tudo isto acontece após a deslocação do Liceu Nacional Gil Vicente para as suas novas instalações na cerca do Mosteiro.






Todo o interior do majestoso templo renascentista era de grande pobreza, necessitava de uma lufada de ar fresco na ornamentação: sobriedade, discrição, simplicidade e equilíbrio. Tudo o que está no templo e em redor dos altares devia ser vivo e não morto. Também era necessário proporcionar conforto aos participantes das celebrações de culto, com a colocação de novos bancos corridos, em substituição da meia dúzia de bancos grosseiros com cheiro a velho, uma instalação sonora, uma instalação eléctrica e uma iluminação condigna para tão riquíssimo património artístico.

As verbas no Ministério das Obras Publicas eram escassas. A sua obstinada actuação junto das autoridades constituídas, inclusive com entrevistas com o Presidente do Conselho, Prof. Oliveira Salazar, com o objectivo de conseguir que a Direcção dos Edifícios e Monumentos Nacionais garantisse a realização destes imperativos benefícios, por forma a salvaguardar este tão importante património nacional.

Não restam dúvidas que o Padre Correia da Cunha assumia com inquebrantável afinco na defesa deste tesouro que poderia perder-se irremediavelmente, sem as urgentes intervenções (coberturas e reparação das janelas).

Na sua presença nos mais diversos actos oficiais, aproveitava sempre, para falar sobre este magnífico monumento e trouxe muitos dos seus contactos pessoais a visitá-lo. 

A pouco e pouco, nos gavetões da preciosíssima sacristia surgiam novos paramentos, novas alfaias, amitos, alvas, cíngulos, toalhas corporais de linho, casulas, capas de asperges e restaurados todos os cálices, turíbulos, píxides de prata do séc. XVII e XVIII…  Expandiu a visita museológica a grande parte das salas dos claustros, com apresentação de peças de arte sacra da sua colecção, quando antes apenas havia acesso ao panteão real.

Para o Padre Correia da Cunha era necessária uma evangelização renovada assim como uma liturgia mais dinâmica. Uma maior participação dos leigos na vida da Igreja,fundando o Conselho Paroquial que se reunia semanalmente para planear as actividades pastorais e económicas. Assim surgiram imensos acólitos e meninos do coro com as suas túnicas brancas e cíngulos vermelhos em honra do mártir São Vicente. Gerou aulas de catequese com catequistas formados e também catequese para adultos. Fundador de vários Grupo de Jovens entre eles o OBJECTIVO em 31 de Outubro de 1971. Foram numerosos os paroquianos que se comprometeram na renovação das Conferencias de São Vicente de Paulo no intuito de servirem os irmãos mais necessitados pelo dom da caridade.

Muitos dias se gastaram a consertar e conservar o imenso arquivo fotográfico herdado do seu antecessor, notável amante da fotografia. Este espólio encontrava-se disperso e tresandar de bafio, era considerado pelo Padre Correia da Cunha de um valiosíssimo interesse histórico para a Paróquia e para a Igreja Diocesana.

Escrevo estas singelas palavras, em genuflexão à memória daquele a quem prestamos uma sentida homenagem na celebração do centenário do seu nascimento, sentindo-me um inculto ao tentar fazer aqui esta pequena biografia. Foi uma personalidade grandiosa e complexa que tanto orgulha a Armada, a Paróquia de São Vicente de Fora, os Amigos de Lisboa, as Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento e os Lions.

Em cada pedacinho de São Vicente de Fora e Alfama, em cada retalho das nossas palavras há um pensamento do Padre Correia da Cunha que continua a moldar as nossas ideias.

Ele era um génio naquela época e isso ainda é  hoje reconhecido pelos seus muitos amigos.





Celebramos com dignidade, o centenário do nascimento desse grande e inesquecível mestre de Vida, Correia da Cunha, padre - marinheiro- poeta, titulo da obra apresentada em 2015 da autoria de João Paulo Dias. Foi um homem predestinado a amar o próximo. 

Uma efeméride gloriosa que contou com a mais prestigiada figura da Armada Portuguesa o Senhor Almirante Silva Ribeiro, que quis com a sua presença prestar o tributo de honra e respeito da Marinha Portuguesa ao insigne capelão.

A cidade de LISBOA, que contou com a presença do Arq. Jorge Ramos de Carvalho em representação da Senhora Vereador da Cultura, Drª Catarina Vaz Pinto descerrou uma placa evocativa, delineada pela Arqtª Ana Silva Dias, simbolizando o grande amor do Padre Correia da Cunha à cidade do seu coração. 

Erudito profundo encarnou em si o génio da verdade e a verdade da justiça, pois sempre soube tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, era para ele desigualdade  flagrante e não igualdade real. Que grande espírito! Foi pois com justa admiração que o Reverendíssimo Sr. Bispo D. Joaquim Mendes e o Senhor Secretário de Estado da Defesa Nacional tomaram parte religiosamente nesta homenagem e se curvaram perante a sua obra, que se considera viva após 40 anos da sua morte. 
















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