domingo, 11 de março de 2018

PE. CORREIA DA CUNHA - ALOCUÇÃO MATRIMONIAL








Casamento da Guida funcionária do cartório, vendo-se a Anita, Barradas, Teresa, Melo


«DOU QUANTO SOU E QUANTO TENHO!

 DOU-ME! »




Após se ter concluída a transcrição do Curso de Preparação para o Matrimónio da lavra do Padre Correia da Cunha, penso que muitos dos participantes nessas sessões de formação humana e espiritual recordam a influência do Padre Correia da Cunha na assistência; muitas vezes se atemorizaram, em face da maneira áspera e frontal com que fazia as suas recomendações. Mas a dureza dessas atitudes era motivada pela sua personalidade esteada de energia e disciplina austera e rigorosa de “marujo”, nunca admitindo deslizes ou fraquezas. Encoberto por uma fisionomia séria e exigente, era um homem que sabia derramar amor e compreensão, e quando havia um amigo em momento de aflição, estava sempre pronto para prestar ajuda e aconselhamento.





Conquistou o coração de muitos jovens casais, integrando-os na vida activa da paróquia e relacionando-se com grande amizade com todos eles, ajudando-os a trilharem os difíceis caminhos da vida conjugal. 

Hoje, quero encerrar este capítulo do curso de preparação para o matrimónio com a transcrição de uma alocução que o Padre Correia da Cunha empregava no cerimoniário da liturgia dos casamentos por si presididos e que escrevia com verdadeira paixão para os noivos.

É uma verdadeira obra literária que muitos noivos recordarão com admiração. São retalhos de um luminoso rastro os textos saídos da pena deste mestre de vida e que todos os noivos sentiam estarem carregados de simbolismos e apoteoses… certamente desejam que fiquem como legado para incentivo das gerações vindouras.




CELEBRAÇÃO 50º ANIVERSARIO DE CASAMENTO


ALOCUÇÃO DA AUTORIA DO PADRE CORREIA DA CUNHA




A grandeza das palavras não se mede pelo número de letras com que se escrevem, nem o seu valor se aquilata pela ressonância que, por ventura, encontrem nos ouvidos dos homens. A sua verdadeira grandeza avalia-se pelo amor do coração que as dita, pela intenção da alma que as inspira e pela repercussão que tiverem nos ouvidos de Deus. 

Há palavras imperceptíveis, quase murmúrios de silêncio, cuja grandeza é infinita e cujo valor é eterno.

Às vezes, um simples monossílabo (brevíssimo como o eco de um beijo) tem sortilégios de poderes divinos e comunica tudo, transfigura tudo… e pode criar tudo… não sendo quase nada.

E vós ides pronunciar uma dessas palavras: - um simples monossílabo, um SIM – rosa de botão – que, mal aflora aos vossos lábios trementes, logo é colhido para o trono do Altíssimo.

Um SIM! Imperceptível som, quase silêncio, que Deus escuta e guarda! 

Um SIM! Instante imensurável do presente que fixa a vossa vida na eternidade! 

Um SIM! Verbo sem ser palavra que, por milagre do amor conjuga Eu e o Tu numa só pessoa: NÓS!






E eu, ministro do Senhor, que leio em vossas almas como um livro aberto, e conheço a rectidão das vossas intenções, a nobreza do vosso carácter, a limpidez das vossas vidas, a grandeza do vosso amor, eu sei como ides pronunciar o vosso SIM e quanto envolveis nessa brevíssima palavra.

SIM! – Vais tu dizer (nome do noivo) meu irmão e meu amigo. 

SIM! – Eu dou alegre e generosamente: 

- a robustez do meu braço varonil 

- o trabalho da minha inteligência 

- a força do meu corpo jovem 

- o amor do meu coração apaixonado 

- o esto do meu sangue ardente 

- a felicidade da minha alma devotada 

- o tempo da minha vida inteira. 

Dou quanto sou e quanto tenho! Dou-me! 

SIM! Eu dou-me para sempre e em tudo AQUELA que Deus para mim escolheu e aqui pôs a meu lado diante do seu altar. 

Graças, meu Deus, pelo sagrado amor que em nós despertastes no coração deste teu filho!

Salve, eleita filha de Deus, que o Senhor, pôs no meu caminho como flor para me suavizar o exílio, me perfumar a vida e me guiar aos céus! 

És a ramada que embeleza a minha casa! 

Serás fecunda e fértil, por graça do Senhor! 

Dar-me-ás o vinho generoso que me alegra e fortalece. 

E qual Estrela do Norte, no rastro da tua luz, seguirei confiante e em paz os caminhos de Deus!

E tu (nome da noiva) minha irmã e amiga, também de igual maneira dirás o SIM entusiástico da tua oblação: 

SIM! Eu dou alegre e generosamente: 

- os meus sonhos de donzela 

- a grinalda branca que me coroa a fonte virginal 

- a lâmpada ardente de meu coração amante 

-a flor em botão do meu corpo impoluto 

- a ternura e carinho da minha alma de mulher 

- a confiança da minha devotada amizade 

- a fidelidade da minha alma cristã 

- os anseios profundos das raízes do meu ser de dar flor e fruto pela graça do Senhor! 

SIM! Eu dou tudo o que tenho e sou: dou-me para sempre e em tudo! 

- Como Círio que se dá em luz diante do altar, assim eu quero arder e consumir-me na luz do amor que Deus nos deu, ó meu amado! 

- Como o perfume que se evole, esparge e infiltra, assim eu quero dar-me e encher a tua vida toda! 

- Como o ar que respiras e o alimento que comes, assim eu quero perder-me em ti, viver em ti, ser TU! 

- Graças, meu Deus, pelo amor que em nós despertastes! Graças pelo noivo que me destes! 

- Salve, o meu amado! Eu quero ser a alegria do teu coração 

- o fogo da lareira da tua alma 

- o sorriso dos teus lábios 

- a luz do teu olhar 

- a paz da tua vida 

- a fecundidade do nosso amor! 

Benvindo sejas, na graça do Senhor!







Assim e com tudo o mais que eu não sei dizer, pronunciareis diante de Deus a grande palavra – SIM – que, pela eficácia divina do Sacramento do Matrimónio fará que vós dois sejais um só. 

E eu, Sacerdote do Altíssimo, em nome do Senhor, direi: 

- Ó meus irmãos, sede benditos pela generosidade do vosso amor! SIM! 

Benditos pelas ressonâncias eternas do SIM que ides cantar em uníssono, diante do Senhor que vo-lo inspirou! 

- Cantai-o diante dos vossos pais, dos vossos pais, dos vossos irmãos e dos vossos amigos, aqui presentes, não tanto para serem testemunhas da vossa doação, mas principalmente comungarem na plenitude da vossa alegria, da vossa felicidade e do vosso amor! 

- E eu, garante oficial da vossa doação, também o quero ouvir com meu coração de Ministro da Igreja, representante vosso, irmão e amigo, para o depor ali sobre o altar, par envolver nesse SIM, como num véu de seda e ouro, a hóstia dos vossos corpos e das vossas almas! 

Eu também quero ouvi-lo com o meu coração de Padre, representante do Senhor, para depois, em troca desse SIM, vos dar em comunhão a bênção e a paz do Pai Celestial. 

FORMULA RITUAL 

(nome do noivo), queres receber (nome da noiva), aqui presente, como tua legítima mulher, segundo o Rito da Santa Madre Igreja Católica, Apostólica, Romana? 

- SIM 

(nome da noiva) queres receber (nome do noivo), aqui presente, como teu legítimo marido, segundo o Rito da Santa Madre Igreja Católica, Apostólica, Romana? 

- SIM 

E, agora, enquanto ecoa pelo silêncio da eternidade o SIM da vossa mútua doação, escutai a palavra de DEUS. 

Et ego conjungo vos in matrimonium, in nomie Patris et Filii e Santi. E eu vos uno em casamento, em nome do Pai e do Filho e do Espirito Santo. 

E assim de mãos dadas, atadas, ligadas, unidas pela estola do poder divino, de olhos postos no altar, na sua cruz, segui o pelos caminhos que o Senhor vos indica. 

Aqui tendes estes anéis ou alianças, sinais da paz e da união que de vós dois fez UM SÓ. Que o vosso amor seja alegre e resplandecente, como o oiro de que elas são feitas! 

Que o vosso amor seja forte e resistente como esse nobre metal! E que esses anéis sejam agora abençoados, sejam a permanente expressão da aliança de paz e de amor que vos une em Deus.





Senhores 

Vós viestes aqui para acompanhar estes noivos e participar na alegria desta sua doação. Mas viestes também para rezar por eles, para que o Senhor torne perpétua a plenitude e a felicidade desta hora. 

Por isso, eu vo-lo rogo a vós todos os que viestes comungar no jubilo deste mistério de amor abençoado: Ajoelhai! Rezai! 

Rezai com eles e por eles, com todo o vosso coração, com toda a vossa alma, a oração do ritual, o Padre Nosso! 

Rezemo-lo todos, pedindo ao Senhor Deus da Caridade e do Amor, todas as Bênçãos e Graças para o novo par. 

Kyrie eleison… 

Pater noster 

Pai Nosso! Ó Nosso Pai que estás nos céus, 

Fonte de toda a fonte de Vida 

Olha benigno estes filhos teus, 

Que te bendizem de alma agradecida! 


E que o Teu Nome glorioso e santo 

Santificado seja, ó meu Senhor! 

Que toda a sua vida seja um canto 

D’acção de graças pelo dom do Amor. 



E que os seus corações – velas votivas 

Ajoelhados ante o Altar de CRUZ 

Reine sempre o fulgor da tua Luz 

A consumi-los numas chamas vivas!




Cumpram sempre, Senhor, tua vontade, 

Tais quais fazem no céu os teus anjinhos 

E beijem tua mão que, por tua bondade, 

Lhes traça, às vezes, ásperos caminhos. 

Dá-lhes, Senhor, o Pão de cada dia, 

- o Pão do Amor, da Paz, da Confiança 

E enche-lhes o lar com a alegria 

De risos cristalinos de crianças. 



Perdoa-lhes, ó Pai, qualquer fraqueza. 

Cai-se aqui, cai-se além… 

Frágil argila é nossa natureza, 

Se lhe não vale a Tua Santa Graça. 



E ensina-lhes, Senhor, o Teu perdão, 

Por mais que faça, para eles saibam perdoar 

Não os deixes cair na tentação 

Livra-os do mal, agora e sempre. 

Amén!














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sexta-feira, 2 de março de 2018

PE. CORREIA DA CUNHA - PREPARAÇÃO PARA O CASAMENTO XIII














«SANTUÁRIO ÍNTIMO, ONDE DEVE REINAR A PAZ E A HARMONIA.»




Terminamos hoje a transcrição do Curso de Preparação para o Matrimónio da autoria do Padre Correia da Cunha.


Grande sacramento é este, segundo os ensinamentos deixados escritos pela pena deste grande mestre de vida, em papéis amarelecidos pelo tempo, mas que continuam vibrantemente vivos e dignamente actualizados.

Assim como Cristo está ligado à Sua Igreja por uma união intima e estável que formam um só corpo, assim aqueles que recebem o sacramento do matrimónio ficam ligados por vínculos tão estreitos que nada nem ninguém os podem quebrar, senão a morte.

Pelo sacramento recebido perante a presença de Deus e da Comunidade Cristã, os esposos recebem abundantes graças, e particularmente aquela graça sacramental que os acompanhará no decurso de toda a vida, os confortará nas provas da adversidade e os ajudará a cumprir as difíceis e graves obrigações do estado conjugal.

Como milhares de vezes o Padre Correia da Cunha referia, o sacramento do matrimónio é um acto muito sério e da maior importância para a vida dos cônjuges. Dele dependerá até certo ponto a felicidade, temporal e eterna das obrigações que livre e espontaneamente os noivos quiseram assumir no altar perante Deus e a Comunidade.

Recordo como se fosse hoje, estas chamadas de atenção do Padre Correia da Cunha aos noivos: «A vida de casados tem belos e felizes dias de prosperidade e alegrias, mas também muitos hediondos dias de tristeza e adversidades…»

Cada nova família, era para ele, a construção de um novo santuário íntimo, onde deveria reinar a paz e a harmonia, pois fora abençoada por Deus. Os filhos ali acolhidos eram dons de Deus, pois assim o declararam naquele dia perante o altar. Com todo o amor e dedicação seriam educados na doutrina cristã e cuidados os seus corpos com todo o carinho e amor não esquecendo que o meio mais eficaz duma boa educação é sempre o exemplo de vida irrepreensível dos pais.

A encimar o santuário deverá estar sempre a coroa da fé, guia indefectível, e nos pilares mestres a esperança e caridade para amparo e segurança da família; desta forma sereis um lar feliz, implorando ao Senhor que continue a abençoar a nova família como o fizeste naquele inesquecível dia em que jurastes inviolável fidelidade até à morte.



texto Padre Correia da Cunha


Neste último tema vamos ver que o casamento, para ser aquilo que o Criador quis fazer dele, tem de ser uma união permanente entre o homem e a mulher. E isto não só pela finalidade primeira que é a criação e educação dos filhos, mas também pela finalidade segunda que é o complemento e auxílios mútuos que os esposos devem realizar entre si.

Podemos, portanto, concluir que o casamento não pode admitir separação absoluta ou divórcio seja em que condições for. Caso contrário onde e como se poderiam realizar aquelas condições? Seria uma união sexual transitória, e, por conseguinte, uma união simplesmente animal.

E creio que nenhum de nós desce ao ponto de pensar que é uma besta como um cão ou um porco!

Além de união permanente, o casamento é também uma união legal. Isto quer dizer que se rege e regula por meio de leis dadas por Deus e pela sociedade.


Realmente, se o casamento, como dissemos, é o alicerce em que a família e a sociedade, terá de ser regulado pelas leis gerais que o Criador deu aos homens e pelas leis particulares, especiais, da sociedade, para que os fins do casamento se possam realizar bem e em paz, e para que a sociedade e a família se possam desenvolver em ordem ao bem de todos, ou seja, para que a própria família e a sociedade se mantenham e progridam na paz, na segurança e na prosperidade de todos.





Repetindo por outras palavras: A sociedade tem de regular o casamento por meio de leis, além das leis morais do Criador, para que:

1º. - à própria família sejam garantidas as condições de vida, paz e felicidade.

2º. - para que assim a própria sociedade viva no bem-estar e se desenvolva para bem de todos os seus membros.

Portanto à autoridade social compete:

1º. – garantir publicamente o casamento como fundação de uma família.

2º. – assegurar aos cônjuges (marido e mulher) , a permanência da união de amor que é o casamento.

3º. – assegurar e garantir aos filhos desse casamento as condições necessárias para serem pessoas de bem, e, portanto, bons elementos na própria sociedade.




Se a Sociedade não interviesse com leis especiais para o casamento teríamos uniões ilegais entre pessoas que não deviam unir-se como, por exemplo, irmãos; não teríamos a segurança de uma autoridade a defender os interesses da família, porque normalmente o homem tende a resvalar para a animalidade e assim não se manteria a família; e não seria garantida aos filhos a sua criação, pois evitar-se-iam pelos trabalhos que dão e se teimassem em nascer seriam mortos à nascença ou desprezados nos caixotes do lixo, como infelizmente ainda acontece às vezes. 

Por consequência a autoridade tem de publicar e fazer cumprir leis especiais para o casamento, até para que a própria sociedade possa viver. 

Se a autoridade admite o divórcio automaticamente admite a ruína da sociedade. É que o casal, por muito doce que haja sido a lua-de-mel, perante as dificuldades da vida, perante os trabalhos com a criação e educação dos filhos e perante a diferença de feitios que sempre há entre o homem e a mulher, arranjaria sempre maneira de se separar; e como o prazer sexual é dos mais profundos, arranjariam outras ligações também provisórias só para o prazer acabando-se naturalmente na prostituição geral de homens e mulheres, no definhamento da raça e na perdição geral. 

A autoridade tem, portanto o grande e grave dever de regular a união do casamento, para que ela possa ser permanente, fecunda e útil à sociedade. 

Há infelizmente quem defenda o chamado amor livre – que não é mais do que a prostituição do amor. Esta pouca vergonha é defendida em princípio pelo totalitarismo comunista. Mas é de notar que na própria Rússia se deram tão mal com a experiência, que hoje tem leis severas para o casamento e até prémios para as famílias numerosas. 

Não te parece um abuso da autoridade meter-se na vida amorosa de cada um? 

Até onde julgas que possa e deva ir essa intervenção? 

Que pensas das ligações ilegais? 

Não conheces casais amantizados ou amigados (tudo quer dizer o mesmo) que vivem bem? Que te parece? Podem viver realmente bem? Postos à margem da lei, quem defenderá os direitos de cada um dos seus membros e os direitos dos filhos?












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